quinta-feira, agosto 09, 2007

O livro da semana - XXV

Ergui-me do sofá, tirei os cigarros e os fósforos e comecei a fumar. Mesmo antes de ter acabado de fumar o meu cigarro, fui acometido por acesso de sono e acabei por adormecer. Dormi cerca de duas horas. Sonhei que a minha mulher e eu estávamos a viver momentos de grande felicidade; tínhamos discutido, mas já tínhamos feito as pazes e no fundo gostávamos um do outro. Fui acordado por alguém que batia à porta.
[...]
- Vasa, vai ter com ela. Ah! Como tudo isto é horrível!
"Será que devo mesmo ir vê-la?, questionei-me. E decidi de imediato que era meu dever ir ter com ela, que era a posição correcta a tomar nestes casos; quando um marido mata a mulher, é obrigado a ir vê-la. Se sempre foi assim, então eu devo fazer o mesmo. "Sim, se for necessário suicidar-me", disse para comigo, "terei muito tempo para o fazer mais tarde"; e segui a minha cunhada. " Vou ter de me preparar para as recriminações e culpas", disse para comigo, "mas não posso deixar-me afectar".
- Espera um momento, -exclamei, dirigindo-me à minha cunhada; -É absolutamente idiota ir sem botas; deixa-me só calçar os chinelos.


Lev Tolstoi, Ensaio sobre o ciúme [A sonata Kreutzer], 1891, trad. Isabel Risques

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