Recordo-me que um segundo antes, exactamente um segundo antes de cometer esse acto, eu estava terrivelmente consciente de que ia matar uma pessoa, de que tinha morto uma mulher, uma mulher indefesa, a minha própria esposa. Relembro o horror indescritível deste estado de espírito; posso ainda acrescentar que me recordo vagamente de lhe ter cravado o punhal no corpo, retirando-o imediatamente, desejando, contudo, remediar o que acabara de fazer. Fiquei imóvel por uns instantes, à espera de ver o que iria acontecer, e se seria possível reparar o que tinha feito.
[...]
Então apercebi-me de que não tinha remédio o que eu tinha feito; e, no mesmo instante, também decidi que não queria reparar o acto que cometera; e que matá-la tinha sido a minha opção, e que tinha sido a opção certa.
Lev Tolstoi, Ensaio sobre o ciúme [A sonata Kreutzer], 1891, trad. Isabel Risques
quinta-feira, agosto 09, 2007
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