segunda-feira, maio 31, 2010

unir os pontos

Eu sei que são redes sociais e não veio nada no telejornal. E também sei que só nas redes sociais vi descrito aquilo que vi com estes-que-a-terra-não-há-de-comer(-porque-vão-para-doação) no fim da manifestação de ontem, ao início das Portas de Santo Antão. No telejornal da dois reportaram-se desacatos e confrontos com a polícia onde eu vi tropa de choque de metralhadora em punho em barreira frente a gente de mãos nuas, onde houve cacetada geral para lidar com um bêbado. Repito, um. Repito, bêbado. Numa tasca. Sobre as armas nas mãos dos agentes, nem uma palavra, nem uma imagem. Como se não fosse relevante. Dica importante para os tempos que parecem avizinhar-se: quando se dirigirem à polícia de intervenção, façam-no SEMPRE de mãos no ar. Este é o ponto 1.

O ponto 2 é que não são de ontem as denúncias. As nossas polícias são velhas frequentadoras do rol de abusos democráticos da AI, e as histórias do boca-a-boca não são poucas, perdidas nos corredores das esquadras e na lixeira dos não-ditos em que sempre nos sentimos em casa. Mas nos últimos dias o nervosinho roça a demência. Maxilares partidos, tímpanos furados, pessoas interrogadas a quem são negados os telefonemas porque "não estão detidos, logo não têm direitos". Os agentes da agressão sempre sem identificação. Esfumando-se no ar. Os polícias que lutam por direitos laborais, ignorados e desrespeitados sistematicamente. A esquizofrenia como modo de vida. That's us, folks!

Mas há um 3. A quem interessa nesta altura que a polícia se descontrole e que no final de uma tarde com 300 mil na rua, a arruaça precise da PSP para acontecer? É que ao governo não me parece que interesse muito. E não estou numa de advogado do diabo, porque não acredito. No diabo, quero dizer.

O ponto zero deste post é o terceiro ponto zero da semana, depois do maxilar partido do puto Vasco e da cacetada indiferenciada por causa de um bêbado que estava a chatear. E é este.
"Nesta madrugada, por volta das 2h da manhã, Alexandre Gonçalves, fotojornalista, estava no bairro alto quando viu uma rapariga no chão com um policia a por-lhe o pé na cabeça enquanto outros lhe batiam com o cacetete. Ele começou a tirar fotos e foi logo espancado também.
Mais dois jovens tentaram defendê-lo mas foi em vão.
Foram todos levados para a esquadra onde Alexandre só não foi mais agredido porque informou que era jornalista. Devolveram a máquina mas sem cartão e portanto sem fotos.
Iremos divulgar as fotos das agressões das pessoas, que segundo o Alexandre, foram brutalmente espancadas nas ruas e na esquadra.
Dois dos jovens ficaram com os timpanos furados.

Amanhã haverá uma audição no tribunal do parque das nações, com estes jovens, às 10h.
Vai e demonstra a tua indignação. "

Estarei ao lado, a apanhar o comboio para o Porto, muito contra minha vontade.

quinta-feira, maio 27, 2010

porta azul #3 — silêncio


janelas verdes, maio de 2010

quarta-feira, maio 26, 2010

aqui.

na segunda casa outra vez. a matar saudades e outras coisas. outra vez. olá Porto.


terça-feira, maio 25, 2010

ao carril.

choveu-me em cima. a manhã toda a dizer, é só chuva, queres o ar aberto, não fujas à água. não fujo. hoje, na batalha, penso em mim. deixo para trás tudo o que tem o veneno do que me deves, tudo no que te registaste em credor-mor. guarda. ou deita fora. já não é meu. tenho mundos demais para me deixar definir em âncoras tortas. tenho coração a mais para me deixar desenhar em quistos. tenho o mar pela frente. e o leme na mão. não quiseste vir, ao menos acena. se queres cobrar-me por não ficar, fá-lo-ás, como já o fizeste, mas fá-lo-ás só. e só a ti vai doer.

não deito tudo fora, não. mas a caixa onde fica o espólio arrumado tem de me sair do caminho. tem de ir à água. mulher ao mar!! e o cigarro aceso na vela.

domingo, maio 23, 2010

segunda-feira, maio 17, 2010

para o professor Aníbal, com um beijinho fofo.




somos todos mais iguais por sermos diferentes. somos um país um bocadinho menos pequeno. apesar do presidente que temos.

PARABÉNS A TODOS! que rica maneira de acabar o Dia Internacional da Luta contra a Homofobia e a Transfobia. às vezes isto encaixa que nem relógio.

sexta-feira, maio 14, 2010

e os mortos do franquismo continuam a morrer.

Baltasar Garzón foi mesmo suspenso. Vivemos tempos ainda mais negros do que parecem à primeira vista.

sábado, maio 08, 2010

histórias para meninos.

por Rui Rebelo sobre letra de Miguel Castro Caldas. eu cá ando a fazer o que posso, rapazes.

sexta-feira, maio 07, 2010

bullying.

aquilo que se faz aos mais pequenos enquanto os grandes nos comem os papas na cabeça.


priorizar ou a deus o que é de césar, ao povo papas e bolos.

custos da visita do Papa: cerca de 37 milhões de euros. cortes nos subsídios de desemprego: 40 milhões. mais depressa um camelo passa pelo buraco de uma agulha...



a partir de onze de maio, pelos crimes da Igreja Católica e pela falta de laicidade (leia-se, vergonha) da República Portuguesa, panos pretos nas janelas.

quinta-feira, maio 06, 2010

o pano preto na varanda



CONDICIONANTES CERIMÓNIA NO TERREIRO DO PAÇO:


07 de Maio (22h) a dia 12 de Maio (00H00) – Trânsito irá ser encerrado na Av.

Ribeira das Naus/Av. Infante D. Henrique, entre o Campo das Cebolas e

Cais do Sodré.


11 de Maio (07H00 às 20H30) – Trânsito encerrado nos seguintes locais:

Rua Cais de Santarém

Av. Infante D. Henrique

Av. 24 de Julho

Praça dos Restauradores

Largo de Camões

Martim Moniz


11 de Maio (07H00 às 21H00) – Cortes e condicionamentos de trânsito:

Cais do Sodré – Trânsito cortado desde o dia 7 de Maio

(montagem palco) e será condicionado e desviado para a Rua da

Misericórdia;

o Alternativas – Av.ª 24 de Julho, Rua do Alecrim e Rua

Cintura do Porto de Lisboa;

Av. Liberdade

o Alternativas - Lateral descendente até à Praça da

Alegria, Príncipe Real, Rua da Misericórdia e Cais do

Sodré, Rua da Escola Politécnica e Largo do Rato

Rua da Prata – Trânsito encerrado

o Alternativas - Rua da Madalena em direcção ao Largo do

Martim Moniz

Rua Cais de Santarém – Trânsito cortado e desviado para a Av.ª

Infante D. Henrique para inversão;

Av. Infante D. Henrique – Trânsito fortemente condicionado e

desviado para artérias alternativas em Santa Apolónia e Viaduto

Mouzinho de Albuquerque (à excepção dos autocarros que vão até

Santa Apolónia);

Largo da Madalena – Trânsito fortemente condicionado e desviado

para a Rua da Madalena em direcção ao Martim Moniz;

o Alternativas – Largo do Martim Moniz, Rua de S. Lázaro

e Almirante Reis;

Largo do Martim Moniz – Trânsito condicionado e desviado no

início da Rua D. Duarte para Norte;

o Alternativas – Calçada de Santo André, Rua da Palma e

Rua de S. Lázaro;

Largo do Camões/Rua do Alecrim – Trânsito condicionado e

desviado para a Calçada do Combro e obrigado a inverter (à

excepção dos autocarros que vão até Cais do Sodré);

Av.ª 24 de Julho – Trânsito condicionado e desviado para a Av.ª D.

Carlos I (à excepção dos autocarros que vão até Cais do Sodré)

o Alternativas - Rua da Boavista e Rua de S. Paulo


da nota de imprensa do comando metropolitano da PSP Lisboa.


Isto é só o bocadinho relativo à missa no Terreiro do Paço. A nota tem oito páginas onde muita coisa vem descrita —nomeadamente as honras militares, que eu suponho que consistam em pôr os soldados a darem a outra face aos oficiais superiores. Ora acontece que recebi esta nota hoje em pdf ao mesmo tempo que uma ciberdiscussão crescia, e não posso deixar de notar em alguns católicos uma certa vitimização que não pode pegar quando se defende tamanho poder, tamanha imposição. Acontece que é verdade que o alvo a bombardear é o Estado, a República Portuguesa, mas também a ICAR, a instituição e a hierarquia. Acontece que um chefe de Estado só é assim recebido se for o nosso chefe de Estado, se for um herói e, sobretudo, se vivermos uma situação excepcional ou, hélas, uma ditadurazeca. E um líder religioso usa dos próprios meios da sua assembleia para espalhar o seu evangelho. E faz as missas no seu património, que não é pouco, ou vai para o Pavilhão Atlântico como o Dalai Lama, ou para o estádio do Restelo, como em tempos foi o Papa anterior. Mas isso deve ter sido um lapso, demasiada proximidade ainda do PREC, vulcão que apesar de tudo largou cinzas no ar. Hoje aqui temos o papa-tudo, o melhor de dois mundos, o poder terreno e a imunidade divina.

Acontece também que o poder desta espécie de chefe de estado cujo reino não é deste mundo mas pelo sim pelo não tem um Banco próprio e uns Prada no armário, é trágico e de todos nós, é histórico e tirânico e generalizado. Está dentro das nossas cabeças, está em tantos dos nossos medos, em tantos buracos, em tantas patologias. Não estou a falar da doutrina de Cristo. Não estou a falar das pessoas que com ela no coração foram fazendo, e continuam a fazer, o contraponto da história dos poderes, quer de fora quer de dentro —e são muitas, benza-as o seu deus, eu por elas agradeço. Não estou a falar dos percursos interiores, da fé, da procura. São coisas que respeito, e que em muitos casos aprecio, nos católicos como em todos os seres humanos. Mas não vamos enganar-nos: quando falamos da instituição ICAR não é da doutrina de Cristo que falamos, é de um poder terreno, secular, não-eleito, tirânico e fundamentalista. Obscurantista. Há menos de 40 anos ainda aqui determinava legalidades e ilegalidades, ainda misturava os seus sacramentos na organização do Estado. Há três anos ainda queria continuar a determinar as escolhas que eu podia ter sobre o meu próprio corpo até às dez semanas de uma gestação, como se o meu ventre não fosse eu, como se eu não fosse ninguém. Ainda não desistiu, ainda tem esperança de conseguir voltar atrás. Hoje, pouca prudência ganha, continua a dizer que os meus amigos homossexuais não têm relações de pleno direito e as suas famílias não existem face ao Estado de todos nós. Não vale a pena falar muito sobre a protecção de pedófilos, o corte total e abjecto de confiança quando é a confiança mais íntima que exige aos fiéis. Direi apenas que é por tudo isto que dentro de poucos dias um pano preto adornará a minha varanda. Um bem grande. E bem negro.

Não posso fugir ao Stephen Fry: a Igreja Católica não é uma força do bem no mundo. E nós recebemos o seu líder como se fôssemos seus súbditos. Para alguns, dizer isto é atacar o Papa porque somos anti-clericais, porque tudo serve para zurzir, porque se é radical. Para mim, não o dizer é ser cúmplice e contribuir para enfraquecer a República e o Estado Laico em que a minha Constituição diz que vivo. E eu fico estupefacta, confesso, que se considere admissível o aparato e o transtorno generalizado com que esta visita se apresenta sem se acreditar realmente que é ali que reside A Verdade. E quanto a isto, nada posso acrescentar, senão que teria de agradecer às pessoas que pensam assim, se assim o pensam de facto, a condescendência de serem minhas amigas.

Isto não é um assunto qualquer. Isto é um assunto nosso. Tanto meu, ateia praticante de antenas no ar, como de qualquer católico. Tu, católico, entras na igreja pelo teu pé. A mim, arrastam-me. Mas arrastam mesmo, desde a nascença. Não te esqueças disso quando comigo discutires este assunto que te pode parecer só teu. Eu não estou de fora a bombardear. Estou presa dentro a dizer que quero sair.


AQUI, católicos ou não, assinem a petição Cidadãos pela Laicidade.

domingo, maio 02, 2010

fase


são bento, abril de 2010


tive de cortar o cabelo. estou naquela fase.

esbatendo-se.


Bill Viola, The Reflecting Pool
video, color, mono sound, 1977-79
(Frenoys, Abr 2010)

I was trying to get ar the original notion of baptism in a way—a process of cleansing or clearing away, and the idea of breaking through illusion. Water is such a powerful, obvious symbol of cleansing, and also of birth, rebirth and even death. We como from water and ina way slide back into its undifferentiated mass at death.

(...)

In the mid-1990's when I was having lunch with some art collectors, one of them, a trauma surgeon, kept looking at me and finally said, "have you ever had a near-death experience?" I was taken aback, but finally said "Yes," and it occurred to me then for the first time that what I always remembered as a positive, even blissful experience was in fact a near-death crisis. I was six and a half years old, on a family vacation in Upstate New York, when I jumped off a raft and forgot to hold on to my inner tube. I went straight to the bottom, opened my eyes, and saw this incredible vision of an underwater landscape I never knew existed. It was turquoise blue and emerald green, with shimmering shafts of light, fish swimming, and plants undulating in the current. It was beautiful, and I was calm and had no fear. Then, an arm came down and roughly yanked me back up to the surface. It was my uncle, but I was annoyed because I wanted to stay there. To this day I can see that blue-green place and feel that peaceful calm vividly. It is the closest image I have to Paradise.

(...)


It's actually fairly primitive as far as video effects go. It would be easier to do today than when I did it a few years ago. The key element of the piece, as in a lot of my other work, is the stationary camera. Keeping the camera in the same place automatically means that any objects that have not moved between different recordings can be registered (aligned) again, and reconstructed to make a whole image. I've been trying to work for a while with recombining levels of time within the frame, times which are not strictly dependent on ghe sort of absolute time of the running of the videotape machine.


from interviews with Bill Viola, 1985, 2007, 1985