sexta-feira, setembro 28, 2007

quinta-feira, setembro 27, 2007

a doce incerteza

Será o Outono uma Primavera ao contrário?

O pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros



Repressão militar faz nove mortos em Rangun
Militares disparam sobre manifestantes para tentar parar protestos


Estes civis e religiosos reprimidos na Birmânia não andam a tentar provar que a junta militar possui armas de destruição em massa, é isso que os trama. Ficam-se pelo preço dos combustíveis, pela repressão, pela corrupção, pela total ausência de democracia... ora isso são lá razões para armar este pé-de-vento, por amor de Siddhartha!? Não deviam já saber, desde os massacres de 1988, do que a casa gasta? Diz que sim, que vêm aí umas quantas resoluções da ONU, mas pronto, enquanto a questão se centrar nas pessoas e na sua liberdade e não no poderio geo-estratégico, os princípios de não-ingerência serão soberanos e os profetas da democracia manter-se-ão meditativos, fiéis ao voto de silêncio. É uma beleza, assistir ao oleado funcionamento da nova ordem mundial. Nada está fora da ordem, tudo bate certo. Os iraquianos estão em dívida de gratidão para com os cowboys do esclarecido Ocidente. Os birmaneses têm mais é que se mostrar igualmente agradecidos pelo nosso complacente silêncio, pelas nossas preces, pela nossa tão magnânima e impotente compaixão.


Apesar de tudo, uma assinatura pode fazer alguma diferença. Sem passagem de avião, AQUI têm uma forma de chegar a Rangun, com escala no enorme poder político-económico de Pequim. Sem bombas. Mas com cérebro.

quarta-feira, setembro 26, 2007

O sabor da melancia


Gostava de vos falar deste filme. Mas como me desconcertou tanto, não sei que vos diga. É belo, é patético, é estranho, é às-vezes-quase musical, é de uma enorme beleza plástica, é duro, é onírico, é distendido, é poético. O que é a metáfora, aqui? Onde estão as fronteiras entre os mais básicos instintos e as mais humanas emoções, entre o riso mais tonto e a mais pungente solidão? Talvez estejam algures nos olhos desta maravilhosa actriz que se chama Shiang-chyi Chen. Ou talvez, muito simplesmente, não existam.


Podem ver o trailer AQUI e ficar absolutamente sem ideia nenhuma dos efeitos desta estranha e maravilhosa obra.

It's the arts

Em homenagem ao programa Câmara Clara, e como agradecimento pelo material que generosamente oferece a bloggers mauzinhos como eu, cá vai algo aparentemente diferente mas completamente igual. É assim, senhores, assim é que se fala de arte. E o senhor provedor escusa de agradecer esta masterclass, que nós os da cultura temos de ser uns pós outros, não é verdade?

domingo, setembro 23, 2007

A cigarra e a formiga - adenda

Formiga Bossa Nova...

A cigarra e a formiga

Eu tenho de deixar de ver este arremedo de programa cultural chamado Câmara Clara. ESTOU POSSESSA!!! Perdoem-me lá o berro. A Sra.PMP começa um programa sobre o novo filme de Carlos Saura, de nome "Fados", afirmando que a sua estreia internacional significa, e cito, uma divulgação sem precedentes do fado. Auch, raio de alfinete que me picou. Divulgação sem precedentes? Tratamento cinematográfico, dramatização, chame-lhe o que quiser, mas divulgação sem precedentes? E a Amália, carago?! Bem sei que por esse mundo fora se foi substituindo o Eusébio pelo Figo e pelo Ronaldo, mas ou estou muito enganada ou ainda não se substitui pela Mariza a Amália. Muito menos pelo convidado do programa, Carlos do Carmo, Fraco Sinatra para os amigos. Este mesmo Carlos do Carmo que teve A DISTINTA LATA [pá, desculpem lá, mas só me apetece... ai, mãezinha, que nem sei o que me apetece!...] de expôr a seguinte linha de pensamento para defender o filme no qual tem um protagonismo simpático: o flamenco já teve uma enorme projecção internacional com o Paco de Lucía, o tango com Piazolla, e o fado AINDA NÃO TINHA NADA SEMELHANTE!!! Caramba, se calhar é melhor voltar a tomar os comprimidos. E A AMÁLIA, CARAGO???!!!!!

Este formiguismo da arte tira-me do sério. Quer convencer-nos de que o verão não é para cantar à maluca sob o sol, mas sim a época de armazenar ego para nos aquecer no inverno. Vou é ver se está a dar algum reality show noutro canal qualquer. Ou então vou mas é dormir, que o meu mal deve ser sono...

E pronto...

... está estreado. E o mínimo que posso dizer é que foi uma beleza. E que não há putos mailindos neste mundo. E hoje já foi o segundo espectáculo. E eu não estive lá para ver. E sinto-me assim:

sábado, setembro 22, 2007

e dizia o senhor Fernando para a sua Pessoa...

... é a loucura que dirige o mundo. Loucos são os heróis, loucos os santos, loucos os génios, sem os quais a humanidade é uma mera espécie animal, cadáveres adiados que procriam.

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sexta-feira, setembro 21, 2007

O tempo das tangerinas


É hoje que abre e fecha o ano lectivo, para reabrir e refechar amanhã. Para mim é uma situação estranha: pela primeira vez tenho uma estreia em que estou fora do palco, em que o nervosismo se passeia com uma calma diferente, sossegado pela confiança que tenho nesta gente mais ou menos miúda por quem me apaixonei em três tempos. Este é um espectáculo especial, sobre um texto complexamente simples. Quem conseguir ouvir a Nina cantar a sua Pequena Dor sem se arrepiar, que me atire a primeira pedra por tanta lamechisse e tanto síndroma de mãe-galinha.

E bom, apesar de não estar no palco, não quebremos tradições que me são caras: mandem-me, ou melhor, mandem-nos à merda!

quarta-feira, setembro 19, 2007

divergências significantes: a erudição

A late night shop a que por aqui se recorre quando alguém se esqueceu do vinhito ou do tabaco ou de meio quilo de quiabos é, como quase tudo no bairro baptizado "das Colónias", uma homenagem viva ao multiculturalismo. À simpática brasileira que me atende, peço, para lá do tinto duriense que trago para pagar, um pacote de Amber Leaf. Ela repete, enquanto estica o braço até à prateleira, "um Amber Laife?". Engulo o riso malandro que me faz cócegas no céu da boca. Filtros finos, não tem? Ela confirma que não, e eu atalho imediatamente, "então é só o vinho e o Amber Leaf." Ela repete novamente, "com cerrteza, o vinho e um Amber Laife". De repente dei-me conta de que tinha perante mim uma Susaninha, nem mais nem menos, e senti-me esmagada por tal evidência. Pois que a pioneira frase desta corrente linguística nasceu da sua boca, desenhada pela mão de Quino: se se escreve Freud e se lê Froid, então o verdadeiro erudito deveria dizer Fruá. Deixei a loja com a bem-disposta certeza de que as repetições se destinavam a educar-me, e que por dentro a minha interlocutora ficara a lamentar a minha falta de cultura internacional.

O que faz com que tenha ouvido com uma nova abordagem a forma como a erudita Paula Moura Pinheiro pronunciou o nome de Beethoven num recentíssimo Câmara Clara. Agora já sei o que hei-de escrever ao provedor: PMP [em económicas iniciais, como agora se faz nos jornais quando se fala de pessoas importantes] falhou escandalosamente, e logo num programa cultural; é que se se escreve Beethoven e se lê Biitôven, então o verdadeiro erudito deveria dizer Baitôven.

quando um burro fala, nos outros não crescem orelhas

Acabo de ouvir, enlevada, o nosso Durão Barroso explicando candidamente que limitar a concorrência na distribuição energética seria como um supermercado não colocar nas prateleiras produtos de outras marcas. É grandioso o raciocínio. E o paternalismo, também. Não sei que raio de mensagem quer ele passar ao comparar a energia que alimenta o quotidiano das populações a uma garrafa de champô ou de areia para o caixote dos gatos. Ou por outro lado, talvez saiba, não o sabemos? Mas o que vale a quem o ouve é que, como hoje alguém me recordou, lá por nos chamarem burros não nos nascem orelhas.

terça-feira, setembro 18, 2007

ah, o futebol em casa, entre artistas... II

A sua especialidade é o jogo com o pé. - diz o comentador.
- Boa, ainda bem que se tornou jogador de futebol, se jogasse andebol podia ser chato.
- Ele estava a falar do guarda-redes...

ah, o futebol em casa, entre artistas...

- Do que eu gosto muito agora no Benfica é que tem mais uns dois ou três esquerdinos, dá outra graça ao jogo.
- Dois ou três cretinos? Não são mais, de certeza?

fazes género, depois queixas-te...

Consequência de ter um e-mail neste meu nome andrógino de Manel, todos os dias recebo convitezinhos para provar do comprimido azul... e quejandos. Hoje o quejando tinha o belo título que se segue: are you after a bigger penis? Ó meus amiguinhos, não é que o tamanho seja dispiciendo, pois que não o é, mas está longe, bem longe de ser o mais importante. Eu diria mesmo que ser maior não passa de um pormenor.

Puttin' on the Ritz




Especialmente dedicado à minha Violeta, que acerca do post anterior falou em leveza, eis o mestre da leveza, do subtil, da harmonia, dos tempos rigorosamente certos e surpreendentes. Puro champagne, do mais requintado, leve como as bolhinhas que sobem ao cérebro. Desfrutem.

segunda-feira, setembro 17, 2007

segunda

Lembra-te de que não é aquele que te insulta quem te magoa, antes o teu julgamento de que tal indivíduo te está a fazer mal. Por isso, sempre que algo te incomodar, fica sabendo que foi a tua própria opinião que te incomodou. Estabelece, por isso, entre as tuas resoluções primeiras, não te deixares levar pela impressão externa. Pois, uma vez que ganhes tempo e uma pausa para reflexão, mais facilmente serás senhor de ti próprio.

Epictecto, A arte de viver


Baixa-Chiado, Julho de 2006

domingo, setembro 16, 2007

domingo

Sanatório, Valongo, Maio de 2007


Où est mon maître, le prince rebelle, qui va fermer toutes ces fenêtres, ce sont ces fenêtres autour de moi, ce sont ces fenêtres qui m'appellent...

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sexta-feira, setembro 14, 2007

Está quase.


Já? Na semana que vem? Então tínhamos tanto tempo... e passa assim, sem dizer água vai? Assim, como o tempo de liceu que alguns ainda experimentam e outros já lançaram para trás há pouco tempo que é tanto? Assim, como o tempo das tangerinas que anunciam a estação do amor? Assim, no tempo de reerguer um espectáculo desde o fundo de tantas almas e tantas gargantas? Assim, no tempo de uma resposta em rap corridinho, ou no sustos que com perguntas desassombradas pregamos ao papão que nos quer comer as respostas? Assim, como no instante do primeiro beijo com sabor a chicla de mentol? Assim, no tempo de um tempo outro, em que o palco se enche de cheiros e de calor, de contracena, de curtição, de beleza. Assim, no tempo que vão durar as inocências. Nina, Romeu, Sara, Clara, Dário, Diogo, Alex, Carolina, Sara, Sylvia, Hélder, Vânia, Joana, Giovanni, Patrícia, Bruno, Inês, são uma turma difícil, numa escola complicada, neste país com vocação p'ra falar pela calada e agir com mão reguila, pois que viva o refilão, pelo menos, desopila! São os meus cabeças no ar e mostram-se a quem quiser ver já a partir da próxima semana. Fiquem atentos, que há vazios que só a entrega genuína dos corpos e das palavras pode ajudar a encher. E há pessoas e idades que nos fazem acreditar que não há outra forma de estar no palco ou nas pedras da calçada senão nessa espiral cheia, rica e louca que é viver.

terça-feira, setembro 11, 2007

Deixai vir a mim as criancinhas

Algumas das coisas que me fazem ter um carinho especial pelos exemplares adultos da espécie humana:

  • pais que usam os filhos para chantagem emocional sobre o outro progenitor ou sobre outros espécimens adultos sob vigia;
  • pais de mão pesada e olhos vesgos;
  • padres de orfanatos que dão estaladas a putos de seis anos em directo na rádio;
  • pais que num estreito passeio da Graça vão bem preservados sobre a calçada, com o filho pela mão, o puto já no asfalto, bem encostadinho aos automóveis [ali, para verem como elas mordem e cheiram, que isto é um povo que se quer rijo e macho e rijo também];
  • filhos que conhecem bem o colo da empregada e que dificilmente reconhecem o rosto da mãe ou do pai sem carradas de maquilhagem, photoshop e o título de uma revista por cima;
  • mães que usam o carrinho com o bebé lá dentro como pára-choques para entrar à fuçanga na fila da caixa do supermercado;
  • pais que põem os filhos a render desde que nascem, se os inocentes tiverem o azar de apresentar uma carinha laroca e um feitio espevitado [a última condição é facultativa];
  • pais que fazem filhos em catadupa para, como se tornou código nos novos tempos, mostrarem que são tão abastados que até conseguem alimentar tantas bocas e comprar tanta roupinha de marca;
  • pais/arguidos que submetidos a um termo de identidade e residência têm a liberdade de se pirarem do país onde estão a ser investigados.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Mais um ano de mãos dadas

Quinta da Atalaia, 9 de Setembro de 2007

O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz.

Eugénio de Andrade, Primeiros poemas,

terça-feira, setembro 04, 2007

Post it

Muito romäntico.mp...


Ainda estou viva, pessoal. Ando é a trabalhar que nem um cão feliz, a ver crescer espectáculos de que gosto muito. Sobra pouco para vir aqui dizer, a não ser que queiram que me ponha aqui a descrever os meus Cabeças no Ar e a explicar por que razão estou apaixonada por cada um deles. O mesmo vale para os bailarinos cujas gargantas a sorte me traz às mãos todas as manhãs. E todos os dias regressando do paraíso para uma casa interna e externa que se vai desencaixotando com muito vagar. Ciber-coma, talvez, eheheh...

Ah, e obrigada, querido efe. 31 já cá cantam ;).