sexta-feira, junho 06, 2008

subjectivamente objecto - reminiscências de uma conversa antiga [ou Pediram-me posts sobre o Poder masculino 5.0]

Os decotes servem para refrescar, primeiro, depois, claro, para mostrar e para olhar, sem dúvida. Mas se estamos a falar de gente e não de bichinhos em cio, expliquem-me porque é que tanta gente [leia-se, tantos homens], na presença de um decote, consegue ter conversas inteiras sem quase olhar nos olhos da interlocutora... é só isto que eu não percebo. Voltamos sempre à diferença entre uma pessoa e um objecto. Uma pessoa também tem mamas, faz parte do conjunto, um objecto não tem conjunto, só mamas.


O ponto "Poder": é também rara a vez em que tal não acontece quando a conversa é séria, profissional, por exemplo. A menorização do outro é regra de ouro para a prepotência.

13 comentários:

MPR disse...

Aí não creio ser uma questão de poder sobre o outro, ou de minirização do outro. Aí tem a ver com o nível básico da maioria dos homens que não consegue desviar o olhar. É uma questão básica, instintiva. Há, na realidade, uma diferença grande na forma como os homens (no geral) e as mulheres (no geral) se relacionam com o sexo e as imagens sexuais.

Manel disse...

Há isso, sim. E também há o poder. Talvez só uma mulher possa sentir na pele quanto. Aí vai novo post... :p

MPR disse...

Não estou a negar que exista o Poder. Apenas sublinhar que, na maioria dos casos, mesmo que o Poder não se sinta, existe apenas uma relação infantil com os seios. Se reparares, uma rapariga de cintura discaida a mostrar o rabo provoca furor, uma mini saia também, mas é apenas o decote que leva a esta fixação extrema do olhar. Porquê não sei, reminescências da mãe ou outra coisa qualquer, mas se suposermos que o Poder significa uma minorização da mulher perante o homem, ou aos olhos dele, muitas vezes o decote é uma forma eficaz de anular, ou redirecionar o Poder...

Manel disse...

E pronto... não preciso de dizer mais, portanto. Um objecto a quem cobiçamos a mamas, seja uma boneca insulflável, seja a mãe, não é uma igual. Está imediatamente colocada noutra prateleira: a dos bens de consumo, talvez, consumo material e/ou emocional. Se somos prepotentes, se queremos ser tiranos, facilita-nos a tarefa. Se somos inseguros e sem auto-estima, faz-nos acreditar que somos superiores à interlocutora. Aparentemente, sai-se sempre a ganhar... ;)

MPR disse...

Não sei se concordo com a relação directa entre desejo sexual e menorização do outro. Quando fizeste o comentário ao moço de calças justas estavas a sentir-te superior a ele? A questão é o não conseguir controlar o desejo, que se manifesta de forma infantil.

MPR disse...

Vi agora mesmo um filme, Irina Palm, onde uma senhora de 60 anos, para salvar o neto, aceita um emprego num clube de sexo onde masturba homens que metem a pila por um buraco na parede. É curioso para esta conversa, porque ali, os objectos eram os homens, reduzidos a pénis e figuras ridículas. O Poder estava todo do lado da mulher, que ainda por cima seria tradicionalmente objectificada e reduzida...

Manel disse...

Era precisamente aí que queria chegar. Não, não me sentia superior a ele. Mas a disparidade entre a realidade de uma mulher e a de um homem é tão grande que ele, face a um piropo leve e natural, sentiu essa relação de poder que nós, as gajas, sentimos desde que nascemos. Quando percebi o efeito do nosso comentário, revi-me imediatamente no que os olhos dele diziam: eu já tinha sentido aquilo vezes sem conta. E nesse momento percebi que sim, que sem querer, sem o desejar, involuntariamente, estava acima dele. E fiquei bastante desconfortável por ter-lhe provocado essa sensação. Mas simultaneamente gostei que ele a tivesse sentido na pele. E as calças não eram justas, faziam-lhe era um rabinho bem giro.

É muito difícil, aliás, verbalizar estas coisas, porque ao mesmo tempo acho que somos animais e que não é negando essa condição de animal sexual que vamos a algum lado. Este é um terreno absolutamente pantanoso, não há fronteiras fixas.

Para mim isto pode resumir-se nas diferenças entre sujeito e objecto, entre troca e uso. Parece simples. Mas é tudo menos isso.

Manel disse...

Quanto à objectivação... depende sempre da perspectiva. Qualquer acto sexual pode ser uma partilha, uma submissão ou um domínio. E o que define isso são, normalmente, questões extra-sexuais. Se é que existe tal coisa, que eu às vezes duvido seriamente.


Agora tenho mesmo de ir ver a Irina Palm... :)

MPR disse...

Portanto um comentário sexual num ambiente que, à partida, não seria de partilha sexual, transforma um sujeito num objecto? Mas se o rapaz fosse mais extrovertido e levasse a coisa na brincadeira, se não visses o embaraço no olhar dele, provavelmente não sentirias o mesmo, se calhar hoje nem te lembravas do episódio.

Manel disse...

Não foi isso que quis dizer: quando falo em acto sexual falo em acto sexual mesmo, estava especificamente a referir-me à Irina Palm e portanto à masturbação em série, neste caso.


Quanto à extroversão, lá extrovertido é ele, não é por acaso que lhe chamo Don Juan. Talvez por isso mesmo o seu embaraço me tenha marcado, por perceber que lhe era tão estranha a inversão dos papéis... a inversão de Poder.

MPR disse...

O ponto que queria focar era que a inversão do Poder deu-se do lado dele e não do teu. Quando o comentário é proferido ele pode ser interpretado das mais diferentes formas. É o receptor do comentário que faz com que exista a tal inversão. (Neste caso concreto, não estou a querer dizer que as vitimas o são por escolha própria, apenas que não crei que se possa objectivamente dizer se um acto em principio inócuo é ou não uma tomada de posição, de Poder)

Manel disse...

Absolutamente de acordo. E é precisamente por isso que é a cultura social de género, as molduras, os caixotes em que crescemos, as gavetas onde nos sentimos seguros, é em tudo isso que está a diferença.


E são coisas fatais, precisamente pela capacidade que temos de nos dizer a nós mesmos que elas não existem, que já não estão lá, que já não regem tantos comportamentos e tantas emoções.

Quanto ao querer ou não querer diminuir alguém... não existe só consciente e inconsciente, existe também o subconsciente, aquele limbo que está entre a aparente inocência e a fortíssima capacidade de negação.

Tenho estado aqui a pensar... a mecânica disto é tão viciada, que por vezes não resta às mulheres mais do que uma escolha: a de ser vítima, ou a de ser carrasco, como forma de virar totalmente o jogo. Nenhuma das duas me agrada. Mas para fugir a qualquer uma das duas, o trabalho é diário. E sempre traiçoeiro.

MPR disse...

:)