quarta-feira, junho 04, 2008
some days are better than others
Se há manhãs em que os olhos são meus, outras há em que se alagam antes que eu possa perceber de quem são. Manhãs em que é o teu traço que os acorda e os molha. Em que sacam a película dos arquivos e a projectam, e me recosto e revejo a tua fortaleza desfazendo-se à minha frente quando a bala de canhão acerta em cheio numa das tantas fissuras que tentas esconder desesperado, gato com o rabo de fora. És tão mais velho do que pareces, meu amor, tão tristemente velho. E sabes? Peço-te perdão. Porque quando a fortaleza tremia, recusei sempre o mapa das tuas fraquezas que se desenhava à minha frente, recusei-te pelo poder se não te podia ter apenas pelo querer. E acho que quem perdeu mais com isso não fui eu. Assim aos poucos a saudade vai cedendo lugar a um nojozinho pequenino, insidioso. De duplo sentido. Nojo de luto. Mas também um nojozinho mal-saboroso pelos jogos de perversão infantil que sempre vi e nunca quis ver. Aquela perversão infantil de que só os velhos, os muito velhos, são capazes. Se bastasse a luz triste que revela sem agravo os contornos retorcidos do objecto amado, já o meu coração estaria cicatrizado.
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