terça-feira, junho 17, 2008

raindrops on roses and whiskers on kittens

As palavras, acordar com a luz a fazer cócegas nas pestanas, o 28, o piano, o Taxi, a Thara, o mar no Rio da Prata, o mar na Arrifana, sempre o mesmo mar, as árvores de Guimarães, os olhos de mel do Tito, as palavras na boca, o sabor do primeiro beijo, uma feijoada à brasileira com caipirinha [pouco açúcar, para se sentir bem o ácido do citrino], as palavras no ar, o som, o humor temperado com lágrimas que se evaporam docemente, o sol forte num dia muito muito frio no Passeio Alegre, o Pulo do Lobo, a Caldeira Velha e as vacas do Faial, a Fajã do Ouvidor, o Pico, o Pico, o Pico, ver as nuvens de cima, o ar pesado e os cheiros de Macau, o cheiro dos bastidores do TeCA, a teia do São João, o som de um bandoneón gemendo um despertar na Batalha, o swing, a marimba do puto Sérgio, et les oiseaux rasant de l'aile la coline naquele pequenino rendilhado do Duparc, o palco do Maria Matos, as palavras no corpo, os meus sapatos de carácter, os olhos do Orlando acabado de nascer, o Sanctus cantado de olhos húmidos e alma cheia, conseguir fazer uma invertida sobre a cabeça sem levar os pés à parede, as mãos da ME, o Sombra a morder-me o cotovelo, uma açorda à alentejana com um tinto bem aberto, acordar com um bigode de gato a fazer cócegas na orelha, o castelo de Urquhart, não gostar assim muito do Begin the Beguine e adorar saber que gostas de o ouvir na minha voz, a Audrey Hepburn numa vespa, Roma, Roma, Roma, a luz do Caravaggio, as gaivotas no terraço na Rua da Alegria, a voz do Caetano, fazer amor, mergulhar de cabeça, cantar o Begin the Beguine se fores tu quem ouve, cantar outra coisa qualquer que gostava que ouvisses, tocar o O'Sailor e cantar a alma depois de sonhar o Clair de Lune, as Goldberg pelo Gould, com gemidos e tudo, o Coltrane, passear de vespa com o David, cantar em alemão, sonhar com Charing Cross, dançar, o som da trompa, a gargalhada do Puto, a gargalhada do Nuno, a gargalhada da Adriana, a gargalhada do João, a gargalhada da Sara, a gargalhada da Rita, o cheiro das tílias em Lisboa. A minha gargalhada. As minhas lágrimas. O céu de Lisboa, um por crepúsculo, a luz dourada sob as copas do Príncipe Real. As palavras do Diogo. Sentir as gotas de chuva caindo sobre mim como se fossem beijos.

My Favorite Things - John Coltrane

9 comentários:

MPR disse...

Alguém está bem-disposto... :)

Manel disse...

eeeeehhhhhh... vai e vem. ;) Mas sim, este post é uma resposta a outro post que me deixou bem-disposta. Donde, alguém está bem-disposto. :)

Anónimo disse...

São tantas coisas das quais tanto gosto... e que coisas tão boas! Eu diria antes que alguém está reconhecido pela vida! Beijos

Manel disse...

Também dirias bem. :) Beijos.

Rodrigues disse...

:*) Páááá...

K. disse...

Páááá mesmo... escreves cada coisa mais bonita. As tuas palavras sao cheias de luz, como tu. Beijo grande.

Manel disse...

:) É, a última frase, sobretudo, saíu-me particularmente bem, não achas, k.? ;)

K. disse...

A ti as frases saem-te sempre bem...


Há quanto tempo foi isso? Num post antigo da Trutaria Garrett, nao?

:)

Manel disse...

katraponga, katraponga, a frase é tua, carago!!! mas sim, acho que nem a escreveste num post teu, mas num comentário nas trutas... :)