Com os Cure nos ouvidos, mudo de plataforma, mudo de linha e de repente acordo ao quase chocar com alguém que escolhe a mesma porta para entrar na carruagem. É ele. Mal posso acreditar, mas é ele. O filme retoma-se, encantado no reencontro, e rasga-se-me um sorriso que durará a viagem inteira. Continua de fato escuro. Continua indiferente à observação. Eu continuo de pé, ele senta-se, desta vez há menos gente e não o perco de vista um segundo. O lado esquerdo do lábio ergue-se, como da primeira vez, mas o arco das sobrancelhas está cortado por duas rugas paralelas sobre o nariz. Estará preocupado? Ou estará apenas num dia de mau-feitio? Cala-se o Smith enevoado, entra a Nina em tempo de verão escorregadio, e eu temo, de repente, ser desmascarada na minha vigia, e num disfarce patético vou fazendo que observo outros filmes. Mas é vão, porque a verdade é que lhe sou indiferente, talvez nem lhe passe pela cabeça que alguém perca tempo a observá-lo.Tanto quanto parece indiferente às mulheres que se vão sentando e levantando perto dele, ao lado, à frente. A nuvem parece estar a afastar-se aos poucos, está a pensar noutra coisa. A expressão suaviza-se e o arco das sobrancelhas reconstrói-se na sua desarmante perplexidade. Ei-lo, my funny valentine. Sai em São Sebastião, como eu, e perde-se no cinza das paredes. Só ao voltar-me para sair também, me apercebo que das três mulheres de pé perto do varão, duas me observam a mim.
sexta-feira, junho 13, 2008
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