segunda-feira, junho 16, 2008

moralismo de balneário

Hoje, no estúdio onde fazemos parte dos ensaios, cruzámo-nos pela primeira vez com uma enxurrada de mini-bailarinas que ali tiveram aula, cada pimpolha mais irritantemente fofa que a outra. O balneário esteve três dias por conta de nove mulheres que ganharam os seus hábitos. Mas eu tenho esta sina, ou cara de saco de boxe, e alguma coisa está fora da ordem desde que na sexta-feira passada percebi que tenho um talento especial para atropelar velhotes de maus fígados [ah, pois, é verdade, nem vos contei essa história e não sei se agora me apetece...]; quando vou à mochila buscar um batido lá tenho de aturar uma avó mal encarada, enterrada em base, muito loira, muito, como direi, decente:

— Esses sacos não podem ficar em cima do banco, senão nós não conseguimos vestir as nossas netas!
— Com certeza, tem razão, eu peço desculpa. Vou dar o recado às minhas colegas.
— É que não pode ser, depois nós queremos vestir as nossas netas e não conseguimos, as coisas não podem ficar aí, não pode ser!
— Sim sim, eu vou dar o recado, não se preocupe. [será que a mulher encravou?]
— Não pode ser, não pode ser, vocês não podem deixar as coisas aí!

Olho-a em silêncio, ela resmunga mais um bocado, espera resposta, mas eu não vou descompô-la em frente às miúdas, e não tenho nada de bom para dizer. Espero. Não diz mais nada? Respiro. Desencravou. Volto à minha vida e tiro a minha mochila de cima do banco. Ela sai. Entra nova avó com a sua neta. Puxo os sacos que consigo apanhar e encavalito-os, tentando deixar um espaço razoável para elas, num balneário claramente sobrelotado. A senhora sorri, bonita, simples, de olhos brilhantes, sem ter sequer consciência do tamanho da sua genuína simpatia:

—Ah, não é preciso, não se preocupe. Nós temos espaço suficiente.

É giro, quando o boomerang volta assim com esta rapidez.

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