sexta-feira, junho 06, 2008

metafísica de linhagem condal [ou Pediram-me posts sobre o poder masculino 3.0]

LEANDER Jukebox Somos dois homens, o senhor e eu.

EUGENIO E isso que está a dizer faz algum sentido?

LEANDER Oh sim, o que é que eleva o homem acima da mulher, o que faz com que seja ele o soberano?

EUGENIO Não vejo o sentido desse discurso.

LEANDER O que de um homem faz um homem é o facto de poder livremente decidir o que fazer, disso não há dúvida.

EUGENIO É bem possível que tenha descoberto o cerne da questão.

LEANDER E não foi a mulher que inventou o jogo, que tanto estimamos, de se queixar, de constantemente se lastimar?

EUGENIO Pode ser, e depois?

LEANDER Não foi dado ao homem o poder de livremente arbitrar sobre o que é bom para si mesmo?

EUGENIO Estou a ouvir, continue.

LEANDER Quando o homem tem o prazer de apostar, numa única carta, a sua casa, o seu dinheiro, a sua felicidade, em suma, tudo o que lhe pertence, para poder ganhar mais ou perder tudo, só nessa altura é que é um homem.

EUGENIO Quando ganha tudo, também.

LEANDER Ora, o meu amigo Eugenio está neste instante a tornar-se num homem. Digo-lhe que é uma bela sensação.

RIDOLFO Não consegui encontrá-la, a sua mulher, Eugenio, por mais que a procurasse.

LEANDER Sabe onde poderá encontrar-me, Eugenio, vou ajudá-lo a fazer de si um homem.



Rainer Werner Fassbinder, O Café [a partir de Goldoni], II acto, trad. Cláudia Fischer

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