terça-feira, julho 22, 2008
Tadzio no túnel de luz
Começa a repescagem do cinema perdido, cortesia do Nimas, com uma câmara em tubos, em ondas, em movimento, e a sensação que fica é de estatismo, de paragem. A luz, os travellings, o som, tudo no desafio me faz pensar nos carrosséis de feira, velhos parques-viveiro de suburbanos, em que a coragem de avançar para o Paranoid Park encontra paralelo na primeira viagem solitária ao volante de um carrinho-de-choque. Também a banda sonora sugere esse paralelo , girando em realejo derretido inesperadamente para modo menor, logo na abertura estática. Há uma morte, um possível homicídio, há uma investigação, mas nada disso é importante face à viagem interior por detrás dos olhos parados de um adolescente. Estamos fora da cabeça de Alex e de repente dentro e subitamente fora, e novamente não sabemos bem onde, em prismas que rodam, em soberbos jogos de som. Mas o vazio mantém-se entre viagens. Tadzio num skate. Aschenbach por detrás da câmara. A morte não é em Veneza, é no carril. Mas a frieza, a bela e mortal contemplação, está lá.
Atrás de mim, durante a ficha técnica, ela diz que não percebeu a história — mais uma vez para Gus Van Sant o tempo não é linear, é fílmico. Ele disserta, "não, quer dizer, a história está montada, tem é uns momentos mortos". Olho de soslaio para a minha companhia, que também tenta disfarçar o sorriso maldoso. Mas goste-se ou não se goste do que traz a moldura, pareceu-me que dizer isto é mais ou menos o mesmo que olhar para uma pintura e dizer que num canto não há nada desenhado. É um filme arty? Oh sim, mais assumido era difícil. Mas é bom como tudo.
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3 comentários:
A história? A história é o mais simples e banal possível, conta-se em dois minutos. Tal como Last Days, tal como Elephant. Gus Van Sant vive das ambiências, das emoções, da própria repetição que nos faz redescobrir vezes sem conta os mesmos espaços...
Paranoid Park é um belissimo filme. Nós dia 24 deste mês (aqui vai publicidade) vamos ter um especial dedicado a Gus Van Sant no TVCine1. (Vá Polegar, dá-me pancada :P)
Dos planos subtilmente virtuosos [os jogos com as escadas rolantes são fantásticos], do contar e ilustrar [a conversa entre eles sobre a primeira ida ao Paranoid Park, narrada, vista, ouvida, repetida], do som real concreto e do electrónico pairante. É de um sumo inesgotável, com histórias que se contam em dez minutos, realmente. O Last Days passou-me ao lado, mas o Elephant é uma experiência única de cinema.
Quanto ao TVCine... :p nem sei bem o que é. Agora já me dou por contente por ver o canal dois com menos chuva, graças à minha avançadíssima antena interior, jejeje...
Já há quase um ano que não sei o que é cinema. (Este era um dos que queria ver...) :(
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