Coisas estranhas aconteceram hoje. Estavam ligados pela luz de Lisboa e pela emissão da Antena 2. Apeteceu-me andar só de mirone, já que sou palhaço o ano inteiro. Alguém impregnado do que achava ser o espírito do PREC, ainda reclamou que não tinha isto nada a ver com liberdade, "isto é liberdade condicionada!". Fica pois a interrogação no ar. O que é a liberdade? Porque ninguém correu de igual modo, ninguém foi policiado ou obrigado a comer a flor, ora será que só há liberdade sem ordem? Liberdade não é sinónimo de anarquia. Ou será? Liberdade é sinónimo de ausência total de ordem? Ou isso é caos, coisa que traz outras limitações à liberdade? Ou é, no fim de contas, a liberdade um conceito nosso, só nosso, que lhe sentimos a ausência e o aroma, a urgência e a impossibilidade?
Coisas estranhas aconteceram hoje na Baixa:
... e eu comovi-me ao fim de cinquenta metros, ainda com o cornetto de chocolate na mão. Parar.
Andar só no preto.
Encontros bons e imprevistos [depois de tantos meses, esta semana tem sido tirar a barriga de misérias, hã Bifaninha?]
Comer flores, ver a cidade do chão.
Trocas e saudações.
Ouvir o chão.
E comunicar com ele.
[acenando para a câmara, a nossa Polegar, em plena performance]
Dançar na praça, cheia da luz que rasgara o percurso.
O povo disperso jamais será vencido!
quinta-feira, julho 10, 2008
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16 comentários:
ressalva, não era para a câmara, era para ti que a minha pessoa acenava...
e tu, que nem me viste! :P
eu vi-te, até me ri. só que não te vi. dá-me um desconto, foi a primeira vez que te vi à luz do dia, sem cervejas e sem a música da Mati. ;)
além disso, como tu própria disseste, eu estava embevecida. :)
Não tenho falsh player por estas bandas e não consigo fazer download... Humpf! (Resmungo e grunho indignado...)
E já agora, antes de começarmos a discutir o conceito de liberdade, o que foi este evento?
Pois! O que foi este evento?
__
Não me respondeste ao sms...
[amuo]
flash-mob é uma forma de improviso de multidões, que normalmente se faz no meio da rotina diária, de acordo com um tema/estratégia previamente combinado, e que apanha meio mundo de surpresa.
neste caso, a temática era o 25 de Abril e tudo o que terá a ver com Libserdade, e a forma de pôr a multidão em sincronia foi ter o rádio sintonizado na Antena2 das 6 às 7 da tarde, estando na Rua Augusta.
para o incauto transeunte, de repente centenas de pessoas começaram a fazer coisas estranhas no meio da baixa... deitar-se no chão, comer flores, ouvir as pedras, correr como se não houvesse amanhã, estátuas, pular, gritar, tudo num curioso uníssono.
"lá fora" isto está na berra há que tempos e é uma das minhas formas de arte urbana de eleição...
já há reportagens no site da rtp e eu fiz um videozito (que perdeu a definição toda na importação, bah).
definições, conceitos, temáticas à parte, acho que isto faz falta. porque as pessoas precisam de brincar mais, de se levar menos a sério, de se sentirem livres de se deitar no meio do chão, de sorrirem para desconhecidos e, já agora, de fazer uma corrida rua augusta abaixo para queimar calorias e aquecer o coração ;)
ah, e numa de reciprocidade, TU apareces no meu video, manel :P
Polegar dixit. :)
Obrigada, Polegar. :)
Eu sei o que é uma flash-mob. Não sabia era qual tinha sido o mote.
(Foi a essa pergunta que @ Manel não respondeu.)
Não soube de nada infelizmente... Mas não percebi a ligação ao conceito de Liberdade...
No dia 25 de Abril de 1974, a rádio pediu à população para ser invisível, para não sair de casa. A população não obedeceu e tomou conta da rua. Foi este o mote, À procura da Revolução perdida, donde as flores que se comeram, donde o órfão do PREC vociferando contra a liberdade condicionada pelos earphones...
Parece-me que o conceito de liberdade está disseminado pela proposta artística em si, e pelo mote. Tanto está, que ela foi discutida e sentida. E contestada. ;)
acho sinceramente que a temática do 25 de Abril teve um único e perfeito objectivo prático: mobilizar as pessoas para além do óbvio. mobilizar os mais velhos, os mais cépticos, os que "não se metem em fantochadas". se anunciassem uma experiência de improviso conduzida pela rádio, só nestes termos, especialmente na antena 2, quem apareceria?
para efeitos de marketing, funcionou. estava lá de tudo.
a nível de liberdade, o texto que nos dava as orientações tinha a temática toda virada para o 25 de Abril, mas numa perspectiva de ver o que tinha mudado e de experimentar a rua de uma forma diferente.
para além do "estandardizado", daquilo que se convencionou fazer-se na rua. penso que, visto daí, existiu de facto uma experiência de liberdade.
as pessoas não encararam o que lhes era dito como ordens, mas sim como sugestões e por momentos esqueceram-se das convenções e experimentaram.
também se ofereceu incondicionalmente um momento (uma hora) a quem assistia sem saber o que se passava. e isso é estranho nesta everyday life. e também acho libertador. dar sem esperar nada em troca.
pode ser antagónico, se nos pusermos a dissecar a coisa. mas acreditem que foi, de facto, libertador...
quando dissecamos demasiado as coisas, perdem a sua essência e talvez o que de mais importante aconteceu: não se saiu à rua por causa do futebol. não se foi feliz por um factor externo sem termos nada a ver com isso. interveio-se. fez-se uma coisa gira. socializou-se. criou-se arte com o cidadão comum. e ainda, como disse antes, se queimaram umas calorias...
bolas, viva a liberdade! ;))
(falo um bocadinho demais, não falo?)
Bolas!!! :)))
[não, não falas.]
Realmente, a poesia esteve na Baixa. Em muitas formas... ;)
Beijo grande, cigarra-poeta.
E prontus, estamos entendidos. Polegar, a ver se da próxima dás um toque aqui ao je, principalmente quando a acção tiver a ver com a Baixa... ou arredores...
Manel consegues enviar-me o video? Como te disse não tenho flash instalado e gostava de espreitar...
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