domingo, julho 20, 2008

a pensar morreu um actor — adenda segunda [ou Conversar com o Fernando é inspirador]

Pensar a contracena empurra-nos para o nevoeiro de energia e dúvida daquela peça. O dilema de Hamlet é o do actor, se o virmos repartido entre dois fossos, o da introspecção e o da expressão. O Fantasma, a voz que instrui, é verdadeira ou falsa? É verdadeira e falsa.

Há pouco mais de seis meses, dizia-nos num ensaio o excelentíssimo GB Corsetti que o teatro é um destilado da vida. É bom, sim, que o trabalho do actor se mantenha sobre o dilema que o Fernando descreve, sobre esse risco, pois não é mais, a vida, do que um percurso de funâmbulo, seja embora para tantos um percurso sonâmbulo. E esses dois fossos que acompanham o percurso de um lado e de outro, a introspecção e a expressão, são os infinitos abismos, mas também muitas vezes as próprias redes que aparam as quedas prováveis quando se arrisca. Talvez seja aí que se distingue o bom funâmbulo, assim como o bom actor: pelo tempo que passam na rede.

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