sábado, julho 26, 2008

da violência — adenda

Dei por mim, graças ao filme avassalador que vi há dois dias e de que vos dei conta, a requestionar-me sobre a violência. De como não exige sangue. De como não exige corpo a corpo. De como se pode palpar nos ambientes, nos tons de voz, no olhar, na energia, nos subentendidos, nos silêncios. Nos olhares. O mais duro neste filme talvez seja a forma como a violência entra e fica, e se acomoda, e não é expelida, não pode sê-lo. Fica o stress pós-traumático nos olhos de quem passou por uma guerra psicológica, mas os membros ficam intactos. A maior violência seja a inevitabilidade da mentira. Nunca vi uma mesa de família tão cordial ser tão violenta pelo simples facto de existir naquele momento. Ou palavras mais violentas do que as que Otília não diz a Gabita, estendida na cama com uma sonda dentro de si, a segunda invasão consecutiva na mesma cama. Ou que a apatia dele face à necessidade dela. A violência pode tornar-se uma peça do jogo, uma peça como qualquer outra, um acidente, um incidente reincidente. Fica-se como aquela nervosa lâmpada fluorescente à porta do quarto do hotel, a zunir, a piscar, indefinidamente, sem nunca fundir. E sem nunca acender.


... Entretanto respiro fundo, a ver se ganho ânimo para ir ver A morte do senhor Lazarescu. Parece que os efeitos secundários são semelhantes. Não sei se me chega a coragem...

1 comentário:

MPR disse...

Vais um dia lá a casa e vês... nos TVCine! ;D