quarta-feira, maio 28, 2008

three days and a long journey to go

Os sapatos de carácter fechados na caixa há cinco ou seis anos ainda encaixam que nem uma luva, e a confiança está lá, nas solas, nos saltos, nos pés que dançam em terreno familiar, fértil, feliz, feito de muitos risos e muitas emoções, alguns conflitos, alguns aplausos. Do tempo em que o teatro já estava na minha vida, mas disfarçado. Já era eu, ainda que eu já não seja a mesma. Dói-me o rim direito e o gémeo esquerdo. Mas é realmente difícil não ficar viciado no ácido láctico, sentir cada músculo, vibrante, o corpo ansiando por uma cama, mas vivo, luminoso. Pulsante. Capaz.

...e...

Os mundos misturam-se, tocam-se, até se entre-ajudam se for o caso, mas são diferentes. Irremediavelmente diferentes. Não são as pessoas que são diferentes, as pessoas são sempre as mesmas. São mesmo os mundos que divergem. E outros que se encontram ou reencontram e reconhecem. No pacote do Nicola não saíu: "Um dia vou à Índia com as minhas amigas". Mas foi como se tivesse saído.


...e...


O que é cantar? Porquê cantar? Para quê cantar? A cada um as suas razões. Mas uma coisa sei: gosto de circo, mas só às vezes. E vozes bonitas, já diz o grande sábio da avenida de Berna, há muitas na apanha da fruta.


...e...


Que bom é sentir tantos medos acabrunhados, com o rabo entre as pernas. Pensando não saber o texto, sei-o e deixo-o instalar-se no corpo a uma velocidade que nunca senti antes. Pensando não saber o texto, arranco para a primeira contracena como se fosse já a vigésima, como se a inexistente segurança permitisse todos os riscos. O D. diz que não há problema, que me ponta, se for preciso, mas afinal nem abre a boca, afinal eu sei o texto. O Z.P., que não sabe o texto, quase nem olha para o papel e os olhos dele dão-me tudo o que preciso naquele momento. Não tenho medo, só vontade. Será que percebi finalmente onde está a tecla de "pausa" na minha máquina de pensar?


...e...


Como boa alentejana, se me derem um dia solarengo, um chaparro e uma malga de vinho, fazem-me feliz. Mas o trabalho, magano, consegue saber melhor que medronho.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sim, Cantar sim. Porque tu tens a TUA aura ao fazê-lo, só tua. E não interessa se é para toda a gente. Interessa os que a vida põe a cruzarem-se com ela, os que reconhecem em ti algo de familiar e infinito, como um país onde nunca estiveste mas que reconheces que pode ser teu. És linda!

Manel disse...

Serás tu quem eu penso? :) Só podes ser...

Um país onde nunca estiveste mas que reconheces que pode ser teu... tal e qual a minha sensação. ;)