quinta-feira, maio 29, 2008
conversas de café: da fatal misoginia à prova de benzina
Há uma frase de Petra von Kant que em certos contextos me ressalta na memória: "Querida Sidonie, parece-me que não estás muito habituada a mulheres que pensam..." Pois eu não consigo habituar-me a outra coisa. Aliás, acho que a maior parte das mulheres burras não é realmente burra, decide sê-lo por sobrevivência, por carência, por uma desaguisada necessidade de amor. É mais fácil prender um objecto de desejo que não se assusta connosco, e nesta terra de ases da negação, o mais liberal dos liberais treme que nem cana verde face a uma mulher verdadeira e acordada. Mulher inteligente, mulher prática, adapta-se às circunstâncias e aprende a fazer de conta que acredita que é amada por alguém que se desmoronaria e fugiria se ela não se escondesse entre mil véus. Torna-se mãe. Ou se torna burra. Fala de gatinhos fofinhos e diz que sim. E sorri muito. Ou chora muito. Ou ambas as coisas. E um dia morre. Verdadeiramente sozinha. Porque para se encontrar com outra pele, andou sempre aos encontrões consigo mesma.
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