domingo, maio 04, 2008

as palavras e o acaso

Há dias em que as palavras parecem vir ter connosco, como que a sublinhar-nos o pensamento. A mudança é a única coisa permanente. Mas mesmo assim, é bem mais lenta do que a aceleração supérflua do tempo nos pode fazer pensar. A palavra —ou antes, a pergunta, assustadora e pertinente ainda, trinta e seis anos depois— às Três Marias.


O que podemos com elas [as palavras] em nosso favor e de mulher em mulher nos dizermos e contarmos do domínio que ainda somos, despojo hoje de guerreiros que se fingem companheiros em ajudada luta, mas que apenas pretendem montar-nos e serem cavaleiros de Marianas de outros cativeiros presas e monjas de diferentes conventos, sem disso se darem conta?

Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno, in Novas Cartas Portuguesas, 1972



Podemos falar, pelo menos. Podemos recusar negarmo-nos e negar o que nos chega, porque o que nos chega é mais feio do que gostaríamos, mais pequeno, mais tristemente cavernoso. Há confortos de um desconforto insuportável. Prefiro o desconforto da realidade.

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