terça-feira, abril 01, 2008

centro

Naturalmente, sem pensar, sentas-te no meio. Não te puxa o íman da virtude, mas o ponto privilegiado onde podes centrar todo o compasso do horizonte. Também é o ponto mais desimpedido, não há toldos, não há rastos de casco no ancoradouro, a pedra é vazia, pronta a receber e a acoitar. Naturalmente, sentas-te no meio. Cabes. Cabes tu, dezenas de pombos e duas ou três gaivotas.

Giras o compasso. Mas algo te força, quase sem te aperceberes, a voltar o olhar para a foz. Mas o quê? Ou porque te forças a fazê-lo, se escolhes o lugar para poderes continuar a escolher? Se aqui o jogo dançado se mistura em rio e mar e balança entre a escuridão profunda e os misteriosos sóis de reflexos prateados, que ondulam projectados não se sabe por entre que ausentes nuvens no céu inesperadamente limpo?

Porque não esqueces a foz, por uns momentos que seja? Não te sobra só o caminho da nascente. São largas as margens.