sábado, abril 05, 2008
não há público
Há poucos dias lá ia eu e a minha alma-gémea de rua palco derivas medos e garras, Passos Manuel acima, o sol a pôr-se lá atrás, ao fundo da rua, enquanto fazíamos as nossas recuperações de ensaio entre tiradas filosóficas e risos patetas. Aproxima-se um homem na casa dos sessenta, barrigudo, careca, sorrindo bonacheirão, mãos bem enterradas nos bolsos do blusão largo. Ao passar por nós lança um convicto "E viva o teatro!" e nós estacamos, boquiabertos. Ainda tenho presença de espírito para lhe responder com um tímido "viva!" e ficamos a vê-lo descer a rua, sem nunca se voltar. Não precisou de confirmar o efeito da sua saudação. Não foi uma provocação, foi uma dádiva.
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