segunda-feira, abril 14, 2008

sopro

O corpo me é dado — e com que fim,
Meu corpo único, tão de mim?

Pela alegria chã de respirar,
Silenciosa, a quem devo louvar?

Sou jardineiro e sou flor — cativo
Na prisão do mundo sozinho não vivo.

E já nos vidros da eternidade
Cai meu calor, meu sopro respirado.

Nele se grava um desenho para sempre,
Irreconhecível de tão recente.

Escorra do momento a água turva —
O desenho amado não se esbate à chuva.



Ossip Mandelstam, 1909, tradução de Nina Guerra

1 comentário:

violeta13 disse...

o que eu adoro este homem!