sexta-feira, agosto 22, 2008

da idade

Sempre fui melancólica. E quando digo sempre, digo sempre, desde criança. Mas até há não muito tempo, dava-me ao trabalho de o tentar esconder.





Agora tenho mais que fazer. E isso agrada-me.


[obrigada, Diogo]

5 comentários:

K. disse...

:)

Manel disse...

:)

Anónimo disse...

«Quand surviennent la naissance ou la mort, c’est la violence de la nature qui paraît. La nature n’est pas absurde ; elle n’a tout simplement pas de sens. Elle est pure force. C’est nous qui lui donnons du sens. Dans les cas de la naissance, le sens est tout préparé ; la civilisation, le foyer attendent l’enfant. Dans les cas de la mort, il faut travailler à donner un sens à cet événement. C’est le deuil. Et puis on oublie, pour retourner à la vie ordinaire. L’absence de cet oubli de la mort s’appelle mélancolie. Ceux qui n’ont pas eu la grâce de cet oubli s’appellent mélancoliques.»

Jackie Pigeaud, in De La Mélancolie. Fragments de poétique et d’histoire


não sendo este o contexto, é também interessante, porque se relaciona:

http://blog.controversia.com.br/2008/06/28/a-sociedade-do-narcisismo-e-da-melancolia-2/

e a introdução de

http://www.biblioteca.pucpr.br/tede//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=609

abr

Raquel Alão disse...

:)

Manel disse...

Tenho uma relação de amor-ódio com a Psicologia, sendo um dos temas que desde sempre mais me atraíu [ao ponto de considerar seriamente essa via académica], também me repugna pelo radical esmiuçar dos traços que fazem do homem o que ele é: o Homem. Aliás, nem do homem a melancolia é exclusiva, e compreendendo bem, penso eu, o alcance da teoria, pergunto como é que existem, então, animais melancólicos por exemplo, animais deprimidos, animais suicidas. Será catalogável como uma patologia advinda de algum tipo de narcisismo que dispensa aquilo a que chamamos racionalidade, ou há demasiadas coisas que escapam necessariamente à análise seccionada de Freud? A psicologia, sinto por vezes, tende demasiado a chamar "patologia" a coisas que não são mais do que uma espécie de vigília excessiva. Não será a normalidade uma patologia em si mesma [vide a obra de Arno Gruen, psicólogo]?

A definição proto-poética de Pigeaud, por seu lado, bate-me fundo. Porque sim, desde criança que sou melancólica e desde criança, desde mesmo muito cedo, que a morte me surgiu nítida e inteligível —diz-se que é traço comum dos virginianos, mas eu não percebo nada do assunto. E parece-me, salvaguardadas todas as limitações do meu humano e mediano cérebro, assim como a base totalmente subjectiva da minha experiência interna, que a perda mais importante do melancólico não é o seu eu, é a sua imortalidade, a ilusão de imortalidade destruída cedo demais, ou tarde demais. Infelizmente não há tabelas cronológicas afixadas nas paredes dos centros de saúde indicando o tempo certo. E é por isso que o Homem, o bicho-homem, tende à melancolia — e é por isso que cria coisas sem uso prático, é por isso que que pinta, que escreve, que sonha, que faz música, que se estrutura em rituais e em fés e em valores e em moralidades e em identificações e simbolizações. A cultura começará com o artefacto de trabalho nas mãos do homo habilis, mas o pulo sapiens não é outro que não a consciência ritualizada da morte, a sensação da ausência, da perda, da falta, do limite, da incerteza, do fim. Não é outro que não a melancolia, ou o seu germe.


O fragmento do Pigeaud é belíssimo. Obrigada, sejas quem fores, abr. :)