domingo, agosto 31, 2008

caminho de luz




No fundo, são os actores. A indizível Fernanda Montenegro, a maravilhosa Marília Pêra, este puto genuíno e tocante que se chama Vinicius de Oliveira. Porque quando estamos distraídos, Central do Brasil nem se afasta muito, em linguagem, dos ramos do Cinema Novo que no Brasil têm continuado a crescer. E assim seguimos, em velocidade de cruzeiro como o autocarro ou o "caminhão", quando de repente vem um plano que entontece de tanta beleza, de tanta mestria, entrando em arco pelo Pedegrulho adentro em plena classe marginal do Rio de Janeiro, ou embriagando de luz a paisagem desolada que os viajantes atravessam, ou entregando de raspão um olhar, uma emoção que quase se pode palpar de tão subtil, um riso, uma lágrima, um grito. A luz, aliás, fala, e só me lembro de me emocionar tanto com a luz de um filme com Um dia de cão, do Sidney Lumet, primo na rudeza, na clareza granulada do dia, no mistério belo e terrífico do anoitecer, na simbiose com os lugares e a arquitectura, com as personagens, falando com elas, ajudando-as a falar. Belo e terrífico. Como a viagem da infância.

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