sábado, agosto 23, 2008

sombras bizarras

Nunca tinha tido aquela sensação. Uma projecção, total, aquele arco puxando as sobrancelhas, a expressão do olhar, os jeitos da boca, o tom com que a frase começa. Tudo reconhecido, mas no rosto errado, nos olhos errados, no corpo errado. Já tinha visto, claro, em filhos que num momento se parecem em demasia com o pai, em materializações de uma imitação, quando vemos para lá do traço e encontramos campos morfológicos. No limite, nos cães que se parecem com os donos. Mas aquela sensação... nunca tinha tido. Fiquei estática, tentando perceber se estava a olhar o original ou uma cópia. Tentando perceber se tu não passas de uma cópia. Ficaste sem carne, de repente. De tal modo, que o discurso se esboroou num choque pasmo. Eram outros olhos, aqueles, e estavas assim presente, tu que estás cada vez mais distante. Tenho de virar as antenas, estão demasiado apuradas. Mudar a frequência. Não quero receber mais sinais. Não quero mais. Chega.

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