domingo, agosto 24, 2008

abandono — a culpa que me desculpe


Anjos, Agosto de 2008



Pé depois de pé, sigo o caminho que tracei no mapa. Desviei-me, aqui e ali, perdi tempo, gastei energia, e tudo ganhei, os músculos prontos, em movimento, em remoinho, um músculo de entre todos que dificilmente se deixa comandar, saltando do peito a bombar, a bombar, a gargalhar, a cumprir a sua função e a aceder, sim, tratas-me bem e em troca dou-te a mais franca das minhas carnes para que a leias. Desviei-me, aqui e ali, mas não perdi de vista o caminho. O meu caminho só, o meu passeio público. Será talvez o instinto de sobrevivência, remetendo o amor ao seu devido lugar, um amor, artigo indefinido. E no entanto nada é límpido, nada é líquido. Porque o espaço que ocupaste, o pedaço que ainda ocupas, talvez não seja largo, mas é tão profundo que a cada passo que dou sinto que te abandono, e quase me recrimino pela fraqueza que me força a fazê-lo. Mas há muito que tenho esta mira milimetricamente afinada: a culpa não é para mim. Nunca fui mulher de arranjar desculpas. Disse-te adeus e respirei...

2 comentários:

polegar disse...

há... dois anos e dez dias, precisamente, tirei uma foto tão parecida com esta.

engraçado, isto, dos encontros de espírito na película.

Manel disse...

Isto dos encontros, em geral... ;)