sexta-feira, agosto 01, 2008

stop including me!

Este é daqueles. Beleza de filme, é só o que me apetece dizer, beleza de filme. Aqui assumo a minha fraqueza, mas qualquer filme que tenha o Adrien Brody já é ganho à partida, e então assim, em preguiça de beliche com cara de Buster Keaton. E depois o ritmo, cansado, mas não fisicamente cansado, desencantado, ritmo de criança cujo corpo pesa demais, ou de adulto cuja criança já pesa de menos. E a geometria, a forma como o trio de irmãos se aglomera e se dispersa para se voltar a aglomerar, como partículas de uma mesma massa instável. E a luz, a cor, os tamanhos dos ambientes, ora cheios de ar, ora de pé-direito baixo azul cobalto ou vermelho ocre, ora de sufoco caleidoscópico. E Bill Murray, e Natalie Portman naquele maravilhoso plano da carruagem de todas as viagens. O humor arrastado e fatal, fatalmente triste. Três crianças perdidas que são três buracos em forma de adulto. Eu não salvei o meu, diz o ensanguentado Peter saindo da água com um corpo infantil nos braços. Antes de partir, não consegue deixar de pedir que fique bem explicado que quase o salvamento fora bem sucedido, que nunca largara "o seu", era importante que todos o soubessem. Para ninguém era importante, e a sua presença era, naturalmente, indispensável nos ritos fúnebres. Nada se diz, nada se discorre acerca deste pequeno momento absolutamente filosófico, súmula e eixo de todo o filme, que não seja em cinema, em planos, em rostos, em acção, em perplexidades. O poder, o conseguir, o sair vencedor de uma demanda, de nada valem se o caminho até lá tem de ser apagado. O caminho, esse sim, vale tudo. Mesmo quando, no jogo das probabilidades, se perde. E afinal, é de uma viagem falhada que se fala.

E depois, há este brilhante início, que me deixa a perguntar se teríamos visto o mesmo filme caso Brody não tivesse as pernas mais compridas que Murray...



E depois há diálogos maravilhosos, daqueles em que tudo está no que não se diz, daqueles em que o riso e a compaixão se misturam...


Jack: The characters are all fictional.
Peter: I like how mean you are.
Jack: The characters are all... Thanks.


E depois, e esta é a minha vitoriazinha pessoal, há o sempre descalço Jason Schwartzman, com as suas sobrancelhas sempre arqueadas em cara de pinto que precisa de ser calçado, sempre à bolina, sempre a pingar mimo e sem nada para dar. Um tipo de cromo que conheço bem, mas em edição de bolso. Pode ser atractivo durante umas quantas estações se formos passageiros do Darjeeling Limited, mas visto de cá da janela é apenas humanamente patético. Em suma, lindo. O filme perfeito para uma rica noite.

1 comentário:

MPR disse...

Wes, Wes, Wes, Wes, de cada vez que ele agarra num filme eu rendo-me!