segunda-feira, outubro 27, 2008
um homem é um homem?
O título de Brecht é afirmativo. Mas sempre achei que lhe faltava qualquer coisa. Depois de finalmente ver Titticut Follies percebo que era apenas o ponto de interrogação.
Os olhos dos sãos, as vozes, os gestos, são idênticos aos dos declarados loucos. Uma assembleia de doentes encartados é claramente diagnosticada por um esquizofrénico paranóide, condenado pela clareza da sua lógica, condenado pela sua inteligência. Ele quer ir para a prisão, onde pertence, ele sabe o que o põe doente, o hospital fá-lo regredir. Mas é de loucos, a capacidade de distorção da realidade dos que determinam a loucura. A capacidade para a desumanidade. A relação de objecto com o corpo e a mente do outro. A arrogância dos erros, das desculpas, das humilhações feitas vida normal, feitas tratamento. É, absolutamente, de loucos. Sei agora que tomei a decisão errada. Não tinha preço, uma manhã escutando um homem que assim suga a realidade, que a rasga sem a fazer sangrar — o sangue tende a toldar a vista. E todos os dias tomamos decisões assim gaguejadas, quando me trouxeram para aqui achei que me iam cortar os tomates e eu disse, eu disse ao doutor que não queria que me fizessem nada aos tomates e então pronto eles cortaram um bocado na cabeça.
Falei em Brecht... mas isto é mais Büchner. Só que ninguém escreveu. E isso é o que mais dói.
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