terça-feira, outubro 21, 2008
aftermovie
Quando as imagens e as interrogações e os gatilhos emocionais ainda estão vivos vinte e quatro horas depois, quando a confrontação com a realidade é tão docemente dolorosa, tão clara, quando a memória da poesia visual parece chamar os olhos para ângulos e geometrias que eles nunca viram, quando tudo isto acontece, sabe-se que se viu um filme especial. E que o segredo está todo ali, não necessariamente no sentido psicanalítico do reviver e do esmiuçar, mas no sentido de se começar por não fazer merda, mesmo. Para isso é preciso crescer. É preciso coragem. É preciso verdade. Há tempos para as infâncias, e há poucas coisas mais perigosas do que crianças que nunca crescem. Tornam-se adultos em quem não se pode confiar, tutores académicos que preferem caixas de bombons embrulhadas numa música de powerpoint sobre as últimas palavras do taxista que viu a luz ao passar no túnel do marquês, a obras de arte genuina, mesmo que ela se ofereça generosamente e sem contrapartidas.
Afterschool, de Antonio Campos [como se topa logo pelo nome, o senhor é nova-iorquino de gema]. Não sei se tem estreia comercial prevista. No Doc só teve direito a uma sessão. E eu estou especialmente feliz por ter estado lá.
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