domingo, outubro 26, 2008

be a man!

Frederick Wiseman não respeita nada. Porque não desrespeita nada. Passa o seu olho de coiote por tudo, porque o mantém frio, não frio, cool é a palavra. Por uma magia tão simples e tão clara quanto invisível, a sua câmara suga-nos para a realidade, e não nos permite desculpas. Porque não nos deixa certezas para encosto, afirma-se em todas as dúvidas, define-se em todo o grão do preto e branco. Tens de mostrar que és um homem, e a forma de o fazer é mostrares que sabes aceitar ordens e resignar-te a castigos injustos, tomares enfim o teu humilde lugarzinho na roda inexorável. A prova de que esta escola é um sucesso é que há um ex-aluno que docemente escreve que é apenas um corpo executando uma função, feliz com o que acha ser a sua superior filosofia. Escreve do Vietname. Não é preciso um motim para que reluza toda a força de um polícia de bastão debaixo do braço num corredor de liceu cheio de alunos que passam por ele com naturalidade, não é preciso gritos nem confusão, não é preciso violência para que a força dessa imagem se imponha sem apelo, bastão de possibilidades, braço de probabilidades. Não é preciso um declarado acto misógino para que o indicador em riste de um professor seja obsceno.


O cinema ficcional de hoje não seria o mesmo sem este cinema documental. O cinema de hoje não seria o mesmo sem Frederick Wiseman.


Não se encontra grande coisa no Tube [ou pelo menos eu não consegui]. Mas achei graça a este redux acabadinho de sair do forno...

Sem comentários: