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domingo, dezembro 30, 2007
sábado, dezembro 29, 2007
ah, é claro!
Acho que já aqui o disse, mas repito. Não fôssemos um animal tão estúpido, e eu pintaria isto em todas as paredes.
é proibido não proibir - adenda terceira
fogo
Este umbigo fará para mim sempre parte desta lareira, saiba eu embora que não o voltarei a ver, que não o voltaremos a ver, nem ali nem no palco nem na rua. "Que este ano não seja o último", alguém lançou no caldeirão dos desejos, na passagem do ano que foi o último, como todos são o último de algum mundo. Cambia, todo cambia. Mas a pedra e o fogo continuam lá. Aguardando-me. Não tarda pousarei a palma da mão sobre o dorso generoso da Thara e saberei que estou em casa.
sexta-feira, dezembro 28, 2007
é proibido não proibir - adenda segunda
Ainda por cima estou realmente esperançosa de que vou fumar o meu último cigarro a ver nascer o primeiro sol do ano. Agora quase me dá vontade de não o fazer, só pelo gosto de a partir de Janeiro conspurcar o meu próprio quarto de fumo e rebelião - e eu nem costumo fumar no quarto.
Ainda bem que ando nestas coisas do teatro... como diz a minha querida Amora, ando a fazer psicodrama e ainda me pagam para isso. Agora compare-se com a fortuna que eu não teria de gastar só para ouvir um tipo qualquer dizer "hum hum..." para depois levar anos a informar-me de que quando era miúda queria matar a minha mãe e casar com o meu pai. Livra!
... eheheh. A verdade é que isto tudo até me diverte. Tenho orgulho no meu currículo, e guardo ainda com carinho na memória o rosto aflito do polícia maçarico que na gulbenkian me ameaçou com uma multa por desrespeito à autoridade. O meu coração anarquista até inchou de satisfação!...
é proibido não proibir - adenda
é proibido não proibir
Estimado cliente,
O nosso hotel compreende e acompanha as preocupações da Organização Mundial de Saúde e da Comunidade Médica no que respeita aos malefícios da exposição ao fumo do tabaco.
Queremos dar o nosso contributo para que este Hotel seja um espaço de saúde e bem-estar, pelo que, e nos termos da legislação portuguesa, Lei 34/2007 de 14 de Agosto, não será permitido fumar neste quarto a partir de 01 de Janeiro de 2008.
Informamos ainda que a mesma legislação nos obriga a comunicar às autoridades qualquer violação da não permissão de fumar, estando o cliente, neste caso, sujeito a uma coima entre €50 e €750.
Agradecemos a compreensão de todos.
na paz do sEnhor
Mas o abuso infantil, senhor bispo, será que devemos metê-lo no mesmo saco que as outras inqualificáveis perversões? Ou é só quando é praticado por padres que ele é culpa dos desgraçados dos miúdos, pedaços de tentação demoníaca que vêm pendurar-se nas batinas dos santos pastores, na esperança de uma violação abençoada? É que não bate a letra com a caneta, sô prior... mas é bonito ver um bispo a dizer estas coisas, lá isso:
"Há adolescentes de 13 anos que são menores e estão perfeitamente de acordo e além disso, desejando-o, inclusivamente, se te descuidas, provocam-te."
Certo. Antes ser pedófilo que homossexual. Uma santa perversão involuntária resultado das tentações do demo é bem preferível a ser simplesmente um... larilas. São esses é que dão cabo do mundo, cabrões de paneleiros. E paz na Terra aos homens de boa-vontade, ámen.
quarta-feira, dezembro 26, 2007
cada viagem é única
one will burn
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touching from a distance
É um filme de um fotógrafo, sem dúvida. Aliás, é um filme do fotógrafo Corbijn, assinado no canto inferior direito, frame a frame, geometria a geometria, sombra a sombra. Os pequenos elementos que transformam uma fotografia em outra diferente num por vezes quase imperceptível movimento, as direcções rigorosas das linhas alternando com o caos do vazio real dos interiores de Macclesfield, o estático movimento perpétuo que o olho fotográfico tão bem aplica para esbater as fronteiras e fazer cinema do mais belo, sem favores. Coreografias e ironias de gestos e luz, o leit-motiv que é o estendal de roldana, a percussão em spray, a sombra riscada no rosto de Ian quando entra em casa, mas afinal não é uma sombra são as grades de um berço, o cartaz a anunciar uma récita de Peter Pan antes do concerto/motim que prenuncia o fim das resistências, o secar da fonte da criança que só queria brincar às estrelas pop... ou talvez não. A velha criança que demasiado cedo quis esquecer Neverland. E em duas lentas horas que passam a correr, envolvemo-nos quase inconscientemente, primeiro pela fruição da mais pura beleza plástica, depois pela estranheza da contenção, pela admirável e docemente emotiva proximidade em conta-fios.
"tudo está onde deveria estar, como deveria estar, aqui e agora"
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terça-feira, dezembro 25, 2007
segunda-feira, dezembro 24, 2007
big european brother
domingo, dezembro 23, 2007
Salvem o Alex!
Fiquei preocupada com este moço. Primeiro tive medo, achei que era um psicopata a monte e todos sabemos como tem andado a noite do Porto. Depois veio a dúvida existencial: mas o Alex não era um cão? E finalmente a compaixão típica da quadra: Soltem o Alex! Olhem para ele, está nitidamente infeliz. Tão nitidamente infeliz que o rapaz das meias até entrou em hiperventilação...
sábado, dezembro 22, 2007
do ecumenismo do natal
sexta-feira, dezembro 21, 2007
you don't know what love is... until you know the meaning of this voice.
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Do K. e para o K. com um abraço e um brinde aos amigos que acendem fogueiras em noites frias de inverno. Ah... o vento acalmou. E aí está o sol.
ganas
Ufa... pronto, está feito o desabafo. Ser actor é fodido...
(Olha, o corrector ortográfico acha que "fodido" é um erro de português. Ora deixa cá ver se "mal-pago"... não, "mal-pago" está no dicionário, pelos vistos...)
E depois, como acontece com os Caravaggios de San Luigi dei Francesi, aparece um turista que mete uma moedinha na caixa e a luz inunda os gestos de pincel que pensávamos lançar ao acaso e às escuras. E como com os Caravaggios, dura apenas uns minutos e apaga-se. E ficam de novo as sombras e a nossa sofrida resiliência de tentar guardar na retina os traços e as subtilezas que sentimos serem essenciais, até que novo turista se decida a meter a moedinha na caixa e novamente nos possa surgir um relâmpago do tríptico em toda a sua matéria, forma e cor. E puf, há-de apagar-se ainda umas quantas vezes, sossego-me e resigno-me. E sorrio.
quarta-feira, dezembro 19, 2007
está um vento cão...
Eu e a meteorologia do Porto temos uma misteriosa relação. Com uma suspeita frequência dão-me os dias a luz ou a sombra que trago cá dentro. Este chapéu parece forte, feito de forte metal e dos restos devastados de outro chapéu que já não o é. Se eu o conseguisse abrir, teria mais coragem para atravessar a praça... e não havia granizo que me fizesse tremer. Mas não há força de sansão que resista a uma dalila de tesoura em punho, e um chapéu de tal peso não é para qualquer um.
o espectáculo que o país merece
Um Espectáculo de Merda surge como resposta urgente à permanente situação de precariedade que os artistas enfrentam. É um manifesto que questiona a integridade de um país que, não tendo uma política cultural, está determinado em não reconhecer os direitos mínimos dos trabalhadores da classe artística. Após a aprovação da desajustada lei dos intermitentes em que o governo se desresponsabiliza totalmente do problema central não respondendo às necessidades reais de todo um grupo de trabalhadores da área do espectáculo e audiovisual, foi proposto a um grupo de artistas que se juntasse num mesmo evento para dar voz e corpo a um grito de protesto na ZDB. O objectivo desta acção é relançar a discussão e o debate sobre o estatuto do intermitente e, acima de tudo, promover outras acções de cariz artístico, interventivo ou diplomático porque o que é importante é nunca deixar cair este assunto nas "águas mornas da vida quotidiana". Este espectáculo único conta com a participação de um grupo variado de artistas e entertainers e promete ser cortante, incisivo, polémico, cheio de graça e irresponsavelmente animado!
Uma proposta de Martim Pedroso em parceria com: Alexandre Costa, Ana Freitas, Ana Ribeiro, André Silva, António Duarte, Carla Bolito, Filipe Viegas, Flávia Gusmão, Gonçalo F. de Almeida, Gustavo Vargas, Inês Nogueira, João de Brito, Luís Castanheira, Márcia Cardoso, Maria Duarte, Marisa Nunes, Marta Rosa, Miguel Loureiro, Miguel Mendes, Miguel Pereira, Paulo Ribeiro, Pedro Cardoso, Rita Calçada Bastos, Rogério Nuno Costa, Samantha Rox, Sttiga, Tânia Leonardo, Tiago Barbosa, Tiago Guedes, Tobias Monteiro, Vera Mantero, Victor Gonçalves e Vítor d`Andrade.
Amanhã, 20 de Dezembro, às 23h30, na Zé dos Bois (ali ao meio da Rua da Barroca, no Bairro Alto). Não há respeito, não há palhaços. E se este circo fica sem palhaços é melhor desarmar a tenda e desactivar a bilheteira, porque um povo sem cultura não é um povo, é uma manada.
tides and sailors...
Emily Dickinson
domingo, dezembro 16, 2007
hoje a canção vem inteira, som e palavras, and I won't go back the way I came
How long I've been waiting
Set down on the road
With the gunshots exploding
I'm waiting for you
In the gloom and the blazing
I'm waiting for you
I sing like a slave I know
I should know better
I've learned all my lessons
Right down to the letter
And still I go on like this
Year after year
Waiting for miracles
And shaking with fear
Why don't you answer
Why don't you come save me
Show me how to use
All these things
That you gave me
Turn me inside out
So my bones can save me
Turn me inside out
You've come this close
You can come even closer
The gunshots get louder
And the world spins faster
And things just get further
And further apart
The head from the hands
And the hands from the heart
One thing that's true
Is the way that I love him
The earth down below
And the sky up above him
And still I go on like this
Day after day
Still I go on like this
Now I've said this
I already feel stronger
I can't keep waiting for you
Any longer
I need you now
Not someday
When I'm ready
Come down on the road
Come down on the road
My name, my name
Nothing is the same
I won't go back
The way I came
Lhasa de Sela, The living road
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cumprimenta sua excelência, Álvaro de Campos, engenheiro naval
serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
que a preferia quente,
que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
e vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim
particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje.)
Sei isso muitas vezes,
mas se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio.
Não me queixei, mas estava frio,
nunca se pode comer frio, mas veio frio.
os grandes pequenos prazeres
Uma noite de gajas, boa conversa e boa energia. Acordar a rir com a minha Violeta e dois duplos com o sol na cara. A Sé inundada de luz e uma gata preta que nunca me viu mas me enche de turras. Não há neura que resista a tamanhas iguarias. O sol está a pôr-se, mas eu digo bom dia!
frase do dia
Ah, Violeta, que quando se encontra uma alma gémea é pelos pequenos risos que se o sabe.
sábado, dezembro 15, 2007
Os três reis magos e um pendura (há sempre um escudeiro de quem não reza a história), em busca de um incensinho mais em conta. O que eu adoooooro o Natal...
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reflexões de um bicho do mato
Talvez a isto se chame apenas "mau-feitio". E foi por isso que assim que pude fugi para a toca, até que chegue a hora de ir ali para o São João, armar-me uma vez mais em turista do teatro.
erres enrolados
dos rumores na escuridão
Miguel de Cervantes, Da nunca vista nem ouvida aventura que foi levada a cabo pelo valoroso D.Quixote de La Mancha com menos perigo que por qualquer outro cavaleiro do mundo, trad. de José Bento
... afinal não passavam de maços de pisão. E a incomparável donzela Dulcineia chamava-se Aldonza. E de certeza que tinha buço, como a Torralva.
um século... o que é?
sexta-feira, dezembro 14, 2007
pop kubrick
Escusado será dizer que a melhor parte do pacote não está incluída. Seria, naturalmente, o Albarn com aquele risco preto sob o olho direito...ai.
entretanto, em Bali...
a recusar o conforto do charco, e a coaxar até que o mundo os oiça.
back in business
quinta-feira, dezembro 13, 2007
e um brinde
dá-me música
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terça-feira, dezembro 11, 2007
one more for the road
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E cá fica mais uma, Lanterne Rosse. Porque gosto. E porque tem este cheirinho a Tom Waits, e um dos discos que mais falta me faz descarregar para este bebézinho novo é precisamente o Blue Valentine.
a arte mais concretamente abstracta
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Feito o círculo completo, chega-se, como sempre, ao ponto de partida. Amanhã, pelas dez da matina, um auditório de escola superior, encaixado na velha Standard Eléctrica ali para os lados da Travessa da Praia, vai receber o terceiro concerto de Beethoven para piano e orquestra. E o meu talentoso Puto vai sair de lá feliz e leve. E "béchamel". MERDA, PUTO! Ou melhor, In bocca al luppo!
há vidas mais fáceis... mas para mim não prestam
É uma lúcida embriaguez, a seu modo, pois in vino veritas. A metáfora etílica é encaixe perfeito, portanto. E a mim, que não sou de shots, mas sei apreciar uma long slow drink (sobretudo se tiver de 18 anos para cima), tocou-me particularmente. Puro malte, destilado dos nossos corpos. E se for destilaria genuína, algum rasto deixará no sangue, no nosso e no dos públicos que nos esperam.
Regressei ao Café. E agora encontro todo um novo sentido na minha preferência convicta pelas largas e generosas chávenas de negra cafeína, que deixam qualquer bica a um canto. E são estas pequeninas coisas que fazem com que uma jornada de 11h de trabalho passe por mim como se de um dia de férias se tratasse.
segunda-feira, dezembro 10, 2007
tango para o marinheiro morto na praia
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Piazzolla com o Kronos Quartet, o "Despertar" das Five Tango Sensations.
sexta-feira, dezembro 07, 2007
.3 ou ponto de fuga
Escrito por Álvaro de Campos num Livro Abandonado em Viagem.
Estreia amanhã. ou antes, hoje, um maravilhoso objecto chamado Turismo Infinito. Ricardo Pais no seu absoluto melhor. Um espectáculo simplesmente e esmagadoramente magnífico. Sou insuspeita, desta vez nada tenho a ver com o assunto. E não, no que digo aqui não são os afectos que contam, embora os meus afectos se tenham extasiado. Com um texto onde se flui como se nada fosse entre o frágil Pessoa e seus fortes heterónimos. Com um elenco de palavra dita com mestria, com carne e com corpo - e que saudades de ver João Reis servindo palavras à sua altura de actor. Com um cenário absorvente. Com uma luz belíssima. Teatro turista de nós. E de si mesmo, meu deus, e de si mesmo.
quinta-feira, dezembro 06, 2007
.2 ou ponto mercurial
Toma, é Shakespeare. Assim, por empréstimo, acabei por finalmente ver o último Scorcese, que me tinha passado ao lado. E é certo, Shakespeare está todo lá, num filme que se comporta como se fosse mercúrio, aglomerando redondas gotas que vão formando o líquido espesso, ágil e pesado. Por vezes parece sangue. Mas não. É vermelho-mercúrio. Pesadas serão, mas são sobretudo belas as coroas de autores como este.
.1 ou ponto de rua
Cristina, cada vez mais decidida pelo divórcio, com o seu amante, Peer Gynt, o do hálito fresco. Duas rodinhas de rua na engrenagem do Portogofone que já aí está, até sábado, a espalhar teatro pela cidade.
o ponto da situação ou a situação e ponto
sexta-feira, novembro 30, 2007
porque o caminho se faz caminhando
terça-feira, novembro 27, 2007
tenho andado com este senhor às voltas na cabeça...
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do narcisismo
ADENDA: Mas estúpido estúpido é sobreviver relativamente incólume a tantos combates e depois lixar um dedo do pé no quarto do hotel...
diálogo do dia
- Bom, eu gosto de provérbios... mas também, nem tanto ao mar nem tanto à terra.
segunda-feira, novembro 26, 2007
silêncio para dois
Há demasiadas coisas que queria dizer-te, coisas em demasia para me dizer a mim. Que sinto o teu cheiro mesmo quando a cidade está vazia sem ti. Que não sei quem és, na medida exacta em que te reconheço todo em todos os silêncios, até naqueles em que estás certo de assim não ser, em todos os olhares em que desconfias que não te olho. Nascem-me por detrás da nuca. Correcção, nascem-me os pensamentos de uma fonte que não vejo, e por trás da nuca me atingem com um duro soco, antes de escorregarem pescoço abaixo, peito abaixo, coração adentro. Quero agarrá-los, tento agarrá-los e não posso. Eu, uma pessoa tão verbal, fico muda diante de ti. Eu, que tanto esforço faço para conter as palavras, seria capaz de meditar nos teus olhos durante toda a eternidade pressentida. Perco o léxico, misturo o vocabulário, não sei dizer coisa com coisa sem coisa plena de coisas, não sei as palavras, não as agarro. Ou elas despegam-se de mim, abandonam-me, aguenta-te agora, torre de pisa, deixa que o vento te vergue para sentires o prazer de te ergueres de novo. Não há apoio lexical que te preserve a verticalidade.
Há demasiadas coisas que talvez devesse dizer-te. Que me assusta a posse, que me repugna a posse, que desconfio da segurança construída antes das construções, que tudo isso senti na pele, sofri na carne, e tudo isso sacudi como um cão, como um vira-lata enfim reconhecido à estrada. Que não passo cheques em branco, nem a mim mesma. Mas que as mãos que por vezes assassinam, também assinam por vontade própria, e só muito mais tarde vêm reclamar as notas de crédito, só depois das vazas vêm trocar as fichas do jogo.
Chamar-te-ia meu, apenas porque ao deixar-te entrar reconheceria a parte de mim que te pertence, não porque te guardaria entre muros. Chamo meu apenas àquilo que me possui. E calo. Preservo o silêncio que os teus olhos me dizem, porque as manhãs mais limpas não têm voz.
domingo, novembro 25, 2007
chiaro-oscuro
Sur mon front, mille fois solitaire,
Puisque je dois dormir loin de toi,
La lune déjà maligne en soi,
Ce soir jette un regard délétère.
Il dit ce regard - pût-il se taire!
Mais il ne prétend pas rester coi, -
Qu'il n'est pas sans toi de paix pour moi;
Je le sais bien, pourquoi ce mystère,
Pourquoi ce regard, oui, lui, pourquoi?
Qu'on de commun la lune et la terre?
Bah, reviens vite, assez de mystère!
Toi, c'est le soleil, luis clair sur moi!
ressaca de cansaço, amor aos mistérios de fora e de dentro, corpo dorido, filme clássico em tarde lenta de domingo
- I love the army.
- But it sure doesn't love you.
- A man loves a thing, that don't mean it's gotta love him back.
- Yeah, but a person can stand just so much...
- You love a thing, you gotta be grateful.
e depois, boa noite! no futuro pensam os astrólogos!...
Pausa.
A vida é bela. E o dia devia ter 48 horas.
quarta-feira, novembro 21, 2007
é que ele há dias...
Neste momento o que me consola, para além do cházinho que tenho ali a fazer, é que não tarda começa a Letra L, irra...
pérolas de porcos II
ai, a graça do amor...*
*título desavergonhadamente roubado ao JP Simões; aqui ficam desde já as minhas desculpas por se ver metido numa mistura tão rasca
pérolas de porcos
cada tiro, cada melro
ou ainda
cada cavadela, cada minhoca
"Sou contra a legalização porque temos de levar em conta que se trata de mulheres que vivem do pecado e que, em minha opinião, não merecem protecção.
Carrego comigo o arrependimento de, por vezes, cair em tentação e recorrer aos seus serviços para a realização de determinados tipos de actos sexuais que a minha mulher não pode praticar devido a ser séria. "
Comentário deixado por um senhor de certeza absolutamente respeitável, impoluto e semanalmente confessado, NESTA NOTÍCIA. Broches, a palavra que ele não quis dizer era broches. É naquela base da preservação da boca que lhe beija os filhos. Já diz maestro Eldoro, nos ensaios do coro gulbe, a boca de um cantor tem de ser uma catedral! A boca de uma mulher séria também só serve para aquilo que o homem lhe indica; broches, nem pensar, e palavrinhas, pouquitas, hã?
agradecimentos sentidos ao nosso Saroco
segunda-feira, novembro 19, 2007
adenda ao post em atraso n.º2
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domingo, novembro 18, 2007
post em atraso n.º2
1. tolerância-zero na Europa, com a criação de leis claras e inequívocas banindo a prática;
2. pressão económica sobre os países onde esta prática abjecta é legal;
3. trazer o assunto para a proa das agendas das conferências e cimeiras com países africanos;
4. financiamento do trabalho de ONG's empenhadas na solução deste problema, na Europa e em África;
5. criação e financiamento de campanhas e acções de educação e de despertar de consciências;
6. aceitar a ameaça de mutilação como razão para a atribuição do estatudo de refugiado.
No site da petição encontrarão ainda o linque para um vídeo. Se forem impressionáveis, não o vejam, mesmo! É duro demais. Eu não consegui chegar ao fim, e costumo ter resistência para estas coisas. Mas se calhar não é mau aguentar uns segundos daquele terror inqualificável; pode ajudar a decidir se vale a pena, com uma assinatura, contribuir para o fim de tamanha iniquidade. Penso que, mesmo para quem não tiver um clítoris, ficará bem claro por que razão é tremendo o nosso silêncio.
quinta-feira, novembro 15, 2007
post em atraso n.º1
Até dia 18, no palco do Teatro Helena Sá e Costa, acontece. Acontece mesmo.
Céu completamente azul (2005)
Contra a parede (2002)
"Conselhos para as mulheres do Iraque" (2003)
Menos emergências (2001)
tradução Paulo Eduardo Carvalho encenação João Cardoso
cenografia Sissa Afonso figurinos Bernardo Monteiro
desenho de luz Nuno Meira sonoplastia João Oliveira
interpretação
João Cardoso
Micaela Cardoso
Pedro Galiza
Rosa Quiroga
assédio-Associação de Ideias Obscuras
7-18 de Novembro
Teatro Helena Sá e Costa, Rua da Escola Normal, Porto
porque a vida, ainda que estúpida, continua...
terça-feira, novembro 13, 2007
domingo, novembro 11, 2007
projecções
No presente, no futuro, uns nos outros, nos olhos e nos afectos uns dos outros. Dia de sol com gente luminosa. Há lá folga melhor?
quarta-feira, novembro 07, 2007
Ah, é verdade!
... faz hoje 64 anos.
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a imoralidade do moralista II
So far so good...
E irrompe o moralista director, no seu espaço previlegiado de editorial, com todos os seus engulhos freudianos de ex-pseudo-comunista de pedras na mão, vociferando o seu espanto pela "atracção teimosa de alguns intelectuais por uma doutrina responsável pela acumulação de ruínas e por espalhar torrentes de sangue". Para José Manuel Fernandes não é possível discutir os conceitos, os projectos, os princípios, o modo de agir sobre o mundo. O seu comunismo esgotou-se nas armas, nos automóveis vandalizados e nas montras partidas, nas marchas populares pela libertação do camarada Arnaldo de Matos, o grande educador, esgotou-se no tiro aos pombos. Dormirá mais descansado, hoje, seguro de ter cumprido a sua missão de fiel da balança ao não deixar passar impune a conspurcação das páginas centrais do seu pasquim por uma cambada de intelectuais com as veias cheias de ópio marxista. Bem se costuma dizer, os estúpidos discutem coisas, os inteligentes discutem ideias. JMF que me perdoe, até porque não estou segura de que se lhe aplique o epípeto de estúpido, uma vez que acho, realmente, que o seu problema é outro e inscreve-se no foro psicanalítico da coisa. Para terminar com mais uma frase feita, Freud, de certeza, que explica tal editorial. Vírgula por vírgula.
a imoralidade do moralista
terça-feira, novembro 06, 2007
as interpretações
1. Que ganhei o prémio Miss Fotogenia Restauradores 2007.
2. Que hoje estou mesmo com mau aspecto [malditas olheiras!].
as lições
À minha gargalhada matinal responde o meu puto, ainda com um olho aberto e outro fechado: acho que ele se enganou, sabes?; o que ele queria dizer era "egípicios".
segunda-feira, novembro 05, 2007
os rânquingues
Eu, que leio o Miguel desde que Os Tempos Que Correm eram uma coluna no Público e eu uma adolescente em remoinho [coisa que deixei rapidamente de ser, há um ano e meio, mais coisa menos coisa], só no infantário frequentei o ensino privado. E no meu ranking pessoal há uns quantos professores inesquecíveis, alguns em pessoa, outros por meio da tinta negra impressa. Saravá, pois então, professor Vale de Almeida!
a cidade III
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