A frase do post anterior vinha hoje generosamente oferecida na rubrica "Escrito na pedra" do suplemento P2 do Público. Coloquei-a aqui porque a subscrevo e me identifico inteiramente. Mas também porque o pasquim de hoje é um poço de ironia. São José Almeida oferece-nos uma curta mas interessante reflexão sobre o que é ser comunista hoje, com interessantes e muitas vezes contraditórias achegas de gente tão diferente como Rúben de Carvalho, Eduarda Dionísio, Maria Teresa Horta, Jorge Silva Melo. Entre uns quantos outros espalhados por duas parcas páginas que na realidade se resumem numa página de texto, e que em beleza terminam com a sensatez de Miguel Portas: "Respeito imenso quem procura, a partir do comunismo, construir e refundar as razões do combate ao capitalismo, mas este combate está longe de se poder resumir à subjectividade comunista, enquanto mundividência, e mesmo ao marxismo, enquanto método de análise. Passou um século sobre essa história e essa história não é única, é uma história para a qual convergem muitos afluentes." Pelo meio, Maria Teresa Horta põe o dedo na ferida, elegendo a auto-regulação da sociedade em igualdade como o princípio fundamental mas, ressalvando, "em liberdade e com tolerância; não se pode ver a floresta sem se ver as árvores, todas e cada uma".
So far so good...
E irrompe o moralista director, no seu espaço previlegiado de editorial, com todos os seus engulhos freudianos de ex-pseudo-comunista de pedras na mão, vociferando o seu espanto pela "atracção teimosa de alguns intelectuais por uma doutrina responsável pela acumulação de ruínas e por espalhar torrentes de sangue". Para José Manuel Fernandes não é possível discutir os conceitos, os projectos, os princípios, o modo de agir sobre o mundo. O seu comunismo esgotou-se nas armas, nos automóveis vandalizados e nas montras partidas, nas marchas populares pela libertação do camarada Arnaldo de Matos, o grande educador, esgotou-se no tiro aos pombos. Dormirá mais descansado, hoje, seguro de ter cumprido a sua missão de fiel da balança ao não deixar passar impune a conspurcação das páginas centrais do seu pasquim por uma cambada de intelectuais com as veias cheias de ópio marxista. Bem se costuma dizer, os estúpidos discutem coisas, os inteligentes discutem ideias. JMF que me perdoe, até porque não estou segura de que se lhe aplique o epípeto de estúpido, uma vez que acho, realmente, que o seu problema é outro e inscreve-se no foro psicanalítico da coisa. Para terminar com mais uma frase feita, Freud, de certeza, que explica tal editorial. Vírgula por vírgula.
quarta-feira, novembro 07, 2007
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