Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
que a preferia quente,
que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
e vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim
particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje.)
Sei isso muitas vezes,
mas se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio.
Não me queixei, mas estava frio,
nunca se pode comer frio, mas veio frio.
domingo, dezembro 16, 2007
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