quinta-feira, outubro 04, 2007

divergências significantes: o risco

À conversa com um amigo propenso a riscos consideráveis no seu trabalho de palco, e a propósito de um seu espectáculo no qual parecia facilmente empalável nas pernas de umas quantas cadeiras invertidas, entra um terceiro vértice na conversa que afirma que sem risco as coisas não têm graça nenhuma, são monótonas. O risco é que é, afirma triunfante, a alegria e a temeridade nos olhos. A minha resposta parece-me a única possível: nada há que se faça sem risco; a vida é um risco, constante. E estar no palco é já em si um risco, concorda o meu amigo, é tudo, como sempre, uma questão de perspectiva. O terceiro vértice está relutante. Não não, a vida não é um risco, porque se vives todos os dias deixa de ser risco, habituas-te; a vida é vida [bela definição que inutiliza todo o pensamento, digo eu]. Pressupondo, portanto, que do hábito - ou da negação - vem uma transformação da realidade. Mas o risco, vejamo-lo ou não, continua lá, contraponho, não é por te habituares que ele desaparece, muda é a forma como o sentes... ou o ignoras.

Ele fica um pouco em silêncio. O rosto, há poucos minutos convicto e animado, fecha-se, taciturno, pensativo. Repete mais uma vez: não não, a vida não é um risco, a vida é vida. E vai embora. Fiquei preocupada, confesso. Porque o rapaz pareceu-me, subitamente, assustado, francamente assustado. Daqueles sustos que nos batem quando percebemos que há que pôr em prática o que dizemos da boca p'ra fora quando abrimos a cauda de pavão. Com o risco de estar vivo diante dos seus olhos, chego a pensar se hoje terá saído de casa. 'Tadito. E estava tão bem disposto...

3 comentários:

Anonyma disse...

Recordações de um filme que nunca mais esqueci: "Educating Rita"
Porque, às vezes, basta uma palavra para mudar uma vida...

Manel disse...

Belo filme, esse. Gostava de o rever, por acaso. Mas agora fizeste-me sentir cá uma responsabilidade... :p

violeta13 disse...

acho que sei qual é essa "peça"! e sabes o que te digo? qual risco , qual carapuça! ele que experimentasse estar 60 minutos sentado numa cadeira sem dizer uma palavra. não é ir contra cadeiras que torna as coisas arriscadas.. estar sentadito e quietinho pode sê-lo tanto, ou mais.