domingo, outubro 21, 2007

trabalho de casa I - Feito

SÉTIMA MULHER [muito explicada]: Quando uma mulher encontra um homem num bar, numa festa, numa piscina, num clube ou num transporte público, e se se interessar por conhecê-lo, poderá dirigir-se a ele e encetar uma conversa informal. Pode começar por dizer o seu nome...

SEXTA MULHER [para a Oitava]: Olá, eu sou a Ana, tenho os olhos e os cabelos castanhos...

OITAVA MULHER [para a Nona]: Olá, eu sou a Maria, gosto de passear, de nadar e de fazer amigos!

SÉTIMA MULHER [manda-as parar com um gesto]: Se a atracção se mantiver, poderá mesmo dar-lhe a entender que gostaria de aprofundar o vosso conhecimentos mútuo, avistando-se com ele de novo. Claro que nem todas as mulheres estão dispostas a fazer isso, recorrendo mais frequentemente ao apoio dos amigos.

NONA MULHER [para a Sétima]: Ainda há pouco tempo, quando uma mulher conhecia um homem interessante, tinha de ficar à espera de que ele tomasse a iniciativa de lhe pedir o número de telefone. Actualmente, esse problema já não se coloca.

SÉTIMA MULHER [para a Oitava]: Se se sente atraída por um homem que acaba de conhecer, poderá, se lhe apetecer, pedir-lhe o seu contacto telefónico, ou mesmo dar-lhe o seu. Isso permitirá mais tarde telefonar a esse homem, se o quiser fazer.

NONA MULHER [para a Sétima]: Por outro lado, se uma mulher se decidir a convidar um homem para sair, terá também de preparar-se para a possibilidade de uma rejeição, o que deverá aceitar desportivamente.

[Ficam todas um bocado cabisbaixas, enquanto a Décima Mulher vai até ao baloiço; experimenta-o, senta-se depois nele com muita confiança e baloiça-se.]

DÉCIMA MULHER [olhando para cima]: Só espero que isto não caia tudo...

[Pano.]

[...]

Like Humans Do.wma


MULHER B [levantando a cabeça, limpando as lágrimas]: Juvenal? O que é que estás aqui a fazer?

HOMEM D: Estou aqui para te ajudar a encontrares o teu caminho. Para reconheceres a essência verdadeira do teu eu.

MULHER B: O meu eu estaria muito melhor se não me tivesses obrigado a andar nesta vida! Sempre à caça, sempre em busca do amor e sempre a apanhar patadas de toda a gente!

HOMEM D: A segurança não existe, Maria dos Anjos, é uma ilusão. A segurança está dentro de ti, tu é que tens de ser tu própria, filha, de te encontrares a ti própria! Vai a um Instituto de Beleza, filha, faz um tratamento com algas e ginseng, trata de ti, do teu corpo, faz umas massagens, se tu não gostas de ti, quem gostará?

MULHER B: A quem o dizes! Mas quando estávamos casados eu sentia-me um bocado mais protegida.

HOMEM D: Ilusões, filha, Maria dos Anjos, ilusões! Tens de viver a tua vida plenamente, sem ressentimentos em relação ao passado, assumindo todos os teus desejos, a tua sexualidade de mulher madura... [Pausa. A Mulher B voltou a esconder o rosto no braço.] Vá lá, concedo-te dois desejos.

MULHER B: Costumam ser três. [O Homem D nega com a cabeça.] Leva-me contigo, Juvenal, que eu estou farta do mundo!

HOMEM D: E vai um.

MULHER B: Aquele não contava, pá!

HOMEM D: Vá, falta um!

MULHER B
: Oh, já te conheço, Juvenal, ainda acabas por me vender coisas que eu não quero e de que não preciso!

HOMEM D: Não aceitas o que te dão de boa vontade e queres sempre mais do que mereces. Mas trabalho é trabalho, serviço é serviço e ainda tens direito a mais um desejo.

MULHER B
: Homem, larga-me da mão! Parece que andas a vender enciclopédias!


Luísa Costa Gomes, Nunca nada de ninguém, segundo interlúdio e segundo acto



E já vou subindo o Arranha-Céus... entre outras pulsões que para aqui me empurraram, a verdade é que duvido que haja trabalhos melhores para um rato de biblioteca com o coração ao pé da boca. Pagam-me para ler, para pensar, para sentir, like humans do. Há lá coisa melhor?

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