segunda-feira, outubro 22, 2007

trabalho de casa II ou da filosofia

BARMAN: Se há uma palavra que eu odeio é "depende". "Depende"... É uma palavra capaz de tornar uma conversa interessante numa coisa mole, se coluna vertebral, sem força, sem nada...

JÚLIO CÉSAR: Não te sabia tão filosófico.

BARMAN: Deformação profissional... Uísque, cerveja?

JÚLIO CÉSAR: Vinho tinto.

BARMAN: Não te sabia tão filosófico.

JÚLIO CÉSAR (sorrindo): Um dia não são dias...


[...]


Sentado num banco, um velho mendigo. Júlio César aproxima-se devagar - mas antes que diga uma palavra, o velho levanta-se e fala.


VELHO MENDIGO (a gritar, tresloucado): Nos frigoríficos o calor quer ser frio e nos ventos o frio quer ser calor, portanto o vento é o contrário do frigorífico... E vice-versa... E se ela é virgem, tu tens de ser touro, e se ela é touro, tu tens de ser virgem... E lembrar é esquecer e esquecer é vice-versa, e etcétera, e etcétera, e etcétera... E nos frigorí... (Pára, de repente - como se tomasse consciência de si próprio; depois, aparentemente calmo, volta a falar.) Já me estava a repetir. Peço perdão.


Jacinto Lucas Pires, Arranha-céus, 37 e 40

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