sábado, novembro 01, 2008

centro

Braços, pernas, mãos, pés. Ventre. Coração.

É bom começar o dia a voar. Sentir no corpo a correlação de forças, a necessidade que os opostos têm um do outro. Saber que tanto mais o centro se liga ao chão quanto o coração se cola ao pano e os pés se tornam mãos para que os braços possam ser asas. Sentir que tanto mais a cabeça se une ao corpo na resistência a afundar-se nele, na vontade de sair e expandir-se. Sentir o peso mudar. Sentir o peso nas mãos de todo o corpo, e não nas garras da gravidade. Saber-se bicho de chão que não desiste nunca de saber o que pode encontrar lá em cima, até ao último momento, até ao momento inexorável em que a terra vence.

Vã procura. Fecunda inutilidade. A beleza na tragédia do pássaro sem asas, na infatigável, feliz e derrotada busca da porta da gaiola.


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