Ontem, "O direito do mais forte à liberdade". Hoje, o direito do mais belo, "Querelle", o tal do pacto com o diabo.
Jeanne Moreau ainda cantando, precisamente vinte anos depois e provando que o tempo não é inimigo, apenas um companheiro que nos leva ao fim da estrada. Só uma actriz como ela pode dizer um texto destes sem perder um pingo de classe e de graça, e terminar tão maravilhosamente, não naturalmente teatral:
-You know, I dreamt a lot about your prick, lately.
- Yeah? Was it nicer in your dreams?
- No. I'm very satisfied. You have a solid, heavy, massive prick. Not elegant, but strong. So different from Robert's.
- Different, how?
- Your prick is more in character.
Desta vez, vinte anos depois, Jeanne Moreau não é o centro de triângulos de amores, mas o elemento forçado a ser exterior ao amor. Mergulhados em cores de uma renascença paralela, os viris homens de "Querelle" concretizam, passo a passo, o homoerotismo sublimado pelos pistoleiros em duelo no velho oeste, pelos punhos cerrados em lutas nas docas de Nova Iorque, todo o imaginário americano tão amado pelos europeus, com ou sem declaração assumida. É a segunda vez que vejo "Querelle", mas da primeira, há uns quinze anos, recordo apenas que não percebi a ponta de um corno. Como Querelle, o marinheiro, joguei aos dados e tive a minha primeira vez. Desconcertante, é o mínimo que posso dizer.
E como se pode depreender do início desta conversa, ao ouvir cantar a Moreau, lembrei-me imediatamente do seu doce turbilhão. E dos meus, pois sim, e dos meus.
quarta-feira, março 05, 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário