quarta-feira, fevereiro 11, 2009

double or nothing

Os primeiros dias da semana são sempre particulares, não necessariamente maus, mas mais propensos a acidentes, chamêmo-lhes assim. Basta um dia de pausa, e a coisa parece que desafina ligeiramente, exige toda a nossa atenção, expulsa, por ameaçadora, qualquer mecanização. Por isso mesmo não são necessariamente maus. Hoje foi um exemplo disso.

Já entrámos na fase esquizóide de "um dia, duas peças", vá lá, é tudo alemão e há, realmente, uma matéria qualquer, um cheiro, que é comum. O cansaço, que ainda não está instalado, já sopra com o som daquele vento que só há poucas horas se aquietou finalmente. A Lili em viagens-relâmpago a Lisboa [know the feeling...], outros com carradas de texto para amanhar durante a tarde, outros ainda, espanto dos espantos, têm vidas para além da porta, filhos, pais, gatos, amigos, e começam a sentir que longe de chegarem para tudo, não chegam para nada. Uma plateia cheia de canalhada, o que é porta aberta para o sucesso total ou a lavajice total. Um espectáculo completamente exposto, onde qualquer imprevisto tem de ser integrado e acarinhado [bem o sentimos na primeira noite de Viseu, há uns meses...]. Uma moeda indisciplinada que salta de um bolso para a plateia e exige reacção na ponta da unha — e reacção bonita, nos tempos, nas decisões, na maneira como foi parte da récita.

E eu, com os ouvidos tapados e voz de [aham, perdoem-me, estou no Porto] cona, lancei-me num seja o que Baal quiser, vamos lá despachar isto. A voz forçou-se a subir ligeiramente, defendeu-se, mas só até sentir plenamente o centro. Aí já se deu a alguns luxos, consciente da fronteira do abismo. O riso, jesus, o riso era o pesadelo, sempre a acordar os impulsos da tosse funda, a fazer comichão por dentro. Também eu estava ligeiramente desafinada. E isso obrigou-me a nunca entregar o jogo. Mas a cena é um mistério, realmente. Porque tirando pequenos abismos claros, pequenas emergências que obrigaram ao recurso à cartilha-base, cada passo para entrar no tabuleiro de jogo fazia desaparecer o pingo no nariz, o cansaço físico, o desequilíbrio de eustáquio. A técnica são os paramédicos. Pede-se que venha depressa e desapareça ainda mais depressa.

Diz-me o meu querido Motinha, à volta de um cachorro, que achou que este espectáculo foi especial para mim. Que foi particularmente bom. Que a juke box final foi provavelmente a melhor que eu já fiz. A juke box. Em que eu nem pausas me permitia enquanto não percebi no sangue o que ali estava. O caminho que ela já andou. Hoje eu sei que foi especial. E sei porquê. E ainda me dói. I'm playing double or nothing. Wouldn't do it any other way. E aos meus pés o meu duplo deixou hoje uma dama de ouros.

3 comentários:

K. disse...

:)


Que bom. Umas amigas vao ver-te amanha. Beijo.

Manel disse...

Tenho pena que não venhas com elas. :)
Beijo.

K. disse...

:(


Vou tentar estar mais perto da Páscoa.