Estava a responder ao comentário da Carolina e pensava se a minha resposta seria de fácil leitura ou se a Carolina lá chegaria antes por exclusão de partes. Sou a Placida, dizia-lhe, e simultaneamente ressoou-me como esta Placida é a personalidade com o nome mais escondido — reconhecê-lo-á a Carolina, que o escutou apenas uma vez em toda a peça [embora já no final e tão bem dito...]? Em Goldoni nunca se ouve, Placida é "a peregrina", só quem lê o texto lhe conhece a identidade porque é assim que está escrita a distribuição das personagens na página de guarda, é assim que estão identificadas as suas deixas no texto. Mas é "a peregrina" que o público ouve. Nem ela se apresenta, nem as outras personagens a questionam. Estratégia clássica: é uma viajante, não ter nome adensa-lhe o mistério. Nem o marido finalmente recuperado o pronuncia.
Mas aqui, em Fassbinder, tocam-se outras fronteiras. Aqui também não se apresenta. Aliás, quando é oficialmente apresentada ao grupo, é sob a máscara da identidade falsa — ou seja, a pouco católica peregrina de Fassbinder tem um nome, que não é o seu. Ou será? E ao contrário da peregrina de Goldoni, que faz um percurso solitário, aquela que vem premir o gatilho, ou antes, apontar o cano à cabeça do croupier para que ele redistribua o jogo, faz alianças e influencia tudo o que já estava antes de ela ali ser. "Uma senhora", "a minha mulher", "a sua mulher", "aquela mulher" que é como "um demónio". Mas o reconhecimento vem, a identidade finalmente restituída pelos lábios procurados, pela substância perdida e recuperada. Por aquele cujo nome só a sua boca pronunciava.
Placida, minha querida, podes perdoar-me?
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