sábado, dezembro 13, 2008

as matilhas

Cinco da manhã. depois dos números do costume, então, mas vais sozinha?, estás bem?, está a chover e está tão escuro, não queres que te leve?, não queres apanhar um táxi?

Não, carago. Nestas coisas a minha inspiração é o barbeiro de Chaplin, um ghandi fora de tempo no gueto de Varsóvia: há limites para a falta de educação. E eu, porra, gaja ou não gaja, moura ou não moura, tenho o direito de cruzar sozinha o centro do Porto se não me apetece companhia. Chove. A Trindade está deserta e debaixo de um toldo abrigam-se cinco ou seis vultos masculinos. Respiro fundo. Tenho uma escolha. Ou passo perigosamente perto deles, ou contorno o marco de correio e saio do passeio. Não, vou em frente, pronto. Não sou nenhuma gazela na savana, vá, mandem lá as vossas broas. À medida que me aproximo a pequena matilha inquieta-se e prepara-se para o seu número. Não me desvio, nem desvio o olhar. "Ó boneca, quanto é que levas?". Não respondo, não respondo, é melhor não abusar da sorte, mas ele, ele que está encostado à parede de madrugada, teve a lata de me chamar de puta, e a minha voz é muito independente e depois de uma leve gargalhada oiço-me a dizer, "E tu, filho, quanto é que tu levas?". Os risos voltam-se para o interior do grupo, e o porta-voz fica aflito. "Dez euros. Não, cinquenta, cinquenta!". Sigo, rindo para dentro e com uma deixa da Placida na cabeça, "Cinquenta euros? Olho para si e quer que eu acredite nisso?"

4 comentários:

K. disse...

Leio-te no blackberry a chegar a Barcelona. Nao existes, cigarrita.:D. Beijo.

Unknown disse...

:D:D:D

[se assim quiseres, a tua voz intimida, disso não duvido]

Manel disse...

Man, onde andas tu agora? Vamos almoçar, ou quê? ;)

Unknown disse...

BUTES!!!