quinta-feira, fevereiro 07, 2008

sub-palco

Há um cantinho do sub-palco onde se armazena tudo o que poderia ter sido. Recôndito e mínimo, faz frente ao maior dos refugos de doca seca, e recebe e recebe e recebe, nunca se esgota. E para recuperar algo que afinal ali não pertence, basta lançar o braço para o monte, com a mão aberta, e o que se procura nela assentará, docemente. Há os caminhos que as palavras recusaram tomar hoje mas que podem ser os únicos abertos amanhã, há os esboços que se perderam pelo caminho, há as relações que tomaram conta do seu espaço e se revelaram a seu ritmo, escorrendo os seus resíduos para o pequeno subterrâneo, os prantos, os risos, as tensões, as pulsões, os medos, os desejos. Há também os figurinos inutilizados, os adereços recusados, os abraços não marcados, os beijos que se deram a mais e os que ainda não se deram e os que nunca se darão. Há um cantinho do meu sub-palco onde cabe tudo isso e tudo o que se segue. E onde tudo está ao alcance de uma mão aberta.

2 comentários:

K. disse...

Adorei ler estas palavras. Sabes, acho que alguém devia fazer uma cançao com elas. Até me lembrei de quem a podia cantar! Beijos, cigarra-poetisa.

Manel disse...

generosa formiga... ;)