É cedo para este calor. Mas é cedo desde sempre, presentes na memória tenho os furos de fevereiro, em manga curta a lagartar no pátio da secundária. O pessoal aproveita o sol de pouca dura do Porto, que a cada dia dura mais. Minga a noite e cresce o dia e não tarda estamos novamente no tempo dos primeiros gomos de tangerina. Ainda assim, entrar num centro comercial com um objectivo específico continua a ser uma aventura radical, com toda a gente que foge do ar e se entrega ao fast lounge de estufa. Em dias maus apetece uma granada, em dias bons, como hoje, tudo se resolve numa alucinada e curtida gincana, e chegar à escada rolante sem parar nem bater em ninguém é uma tripe fenomenal!
Cá fora, Santa Catarina regressa à sua condição privilegiada de sala de espectáculos, onde se pode assistir a tudo, desde um concerto de balalaikas até um cão a ladrar às canelas de um palhaço de andas que corre disparado calçada abaixo, retrato da catástrofe à beira de acontecer. Num caixote do lixo de cartão cenografado onde estão colados avisos de "não tocar", algo se esconde. Parece-me uma engenhosa - e preguiçosa - variação do homem estátua. Se alguém tocar, a porta abrir-se-á e a incógnita poderá revelar-se. Mas a malta prantada em círculo observa, ri algo nervosamente, e não se aproxima. A ideia é gira. Mas apesar do sol estar cá fora, as pessoas continuam conformistas e o espectáculo bloqueia. Aposto que o desgraçado ainda está encolhido lá dentro, suspirando pelo ar puro que respira quando se contenta em ser a estátua que sempre foi.
sábado, fevereiro 09, 2008
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1 comentário:
Depois de ler-te, nunca será cedo para a Primavera... ;)
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