Receava tudo, temia tudo. Ser apanhado na curva, expor-se. Magoar a sua consciência por ter magoado o outro, com um bocejo a despropósito, um olhar demasiado duro ou demasiado promissor ou demasiado indiferente. Não se pode viver assim, há que tomar controlo. Vigiou emoção por emoção, músculo por músculo, até que a repressão se fez segunda natureza, até que toda a manifestação espontânea do corpo e do rosto passou a filtrar-se e reter-se na fonte, em malhas de aço que reclamavam a sua autoridade. Um dia percebeu que o esforço era esmagador para um único raciocínio. Um colossal peso de emoções estagnadas na represa de uma solitária mente. Surpreendeu-se com o ódio por que se deixou tomar. Um ódio à razão de tudo, ao outro, que pode sofrer, ao outro, que pode julgar.
Já dizia um sábio saxão que um homicida é apenas um suicida extrovertido.
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2 comentários:
que disparate mais rematado
Se há coisa de que gosto é de um anónimo cheio de certezas...
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