Dizem-me que é da chuva. Do tempo escuro, cinza. E é, eu sei. O tempo potencia. Se já estiveres cinza, voas.
E no entanto nestes dias a chuva tem-me passado ao lado.
[tens mais em que pensar]
Há fenómenos estranhos em meu redor. Informação que não peço. Pequeninos monstros que se desfazem aos poucos e em últimos estertores tentam atingir-me com resíduos. Para eles sou lisa. Não, nem um pouco de atrito, tudo escorrega. Hoje um mesquinho vórtice de escuridão veio cheirar-me, veio sondar-me o espaço vital, veio tentar perturbá-lo. E eu mal lhe reconheci a presença. Apesar de o ter lido claramente, de fio a pavio. Alguma coisa está a funcionar bem. Entre o Brecht e o Sun Tzu, nem o Thoreau vilmente afastado do seu caminho me está a fazer falta.
[bem diz o feiticeiro Oz, está tudo escrito, panaceia a panaceia]
As marionetas dançam no guignol e eu sorrio. Vejo-as passar nervosas, de moca na mão tentando atingir tudo e todos. Mas a realidade tem as suas fronteiras bem definidas, quando é de jogos de crianças que falamos. As armas brandidas na colorida barraca de madeira têm a escala de quem as empunha. O mais que podem ser, quando arremessadas para lá das fronteiras de cena, são ciscos, pequenos incómodos nos olhos do público de carne e osso. Que pode parar de rir por um bocadinho, mas é só enquanto se coça. As gargalhadas retomam-se imediatamente, testemunhas pesadas da moeda da farsa e da tragédia. Tanto Brecht só pode levar a aforismos marxistas, claro.
[mas é o Llosa que diz que contra a tempestade de merda que é a vida, o teu melhor guarda-chuva é a arte]
As noites sabem bem e os dias não custam a começar e duram e duram e duram. E crescem. E repousam. E protestam. E riem. As pessoas são mesmo muito estranhas. Mas a verdade é que o filme é mesmo muito engraçado.
[não sei bem qual foi o momento, mas parece-me que há bem pouco tempo subi um degrau]
Strange Weather (Live) - Tom Waits
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