São putos, uns mais putos que outros, é certo, mas são putos. Aspirantes a actores, dir-se-ia, considerando que têm aulas de voz e elocução, interpretação, corpo, testes de imagem, the whole kaboodle. Têm as desculpas na ponta da língua para as suas deficiências de dicção e de compreensão da respiração de uma frase, mesmo que nenhuma justificação lhes tenha sido pedida, mesmo antes de terem começado um exercício. Se se pede que simulem uma conversa, uma simples conversa entre amigos, riem-se, envergonham-se, trocam-se. E de repente há um que transforma o tal diálogo quotidiano que é pedido, numa autêntica entrevista televisiva, em pose, em atitude, na escolha do vocabulário, na clara e vazia escolha dos temas da conversa. E a vergonha desaparece, entrevistador e entrevistado ganham um súbito à-vontade, as palavras saem com maior clareza, a postura é de confiança, de tele-confiança.
Fico a pensar que de facto a vocação não é necessariamente a representação, não é a descoberta, não é a procura, em suma, não é a vida. A vocação é o aquário televisivo que lhes justificará a existência e lhes dará a sensação de que valem alguma coisa, de que são alguém. A vocação não é ser actor. É ser entrevistado.
sexta-feira, junho 22, 2007
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1 comentário:
Cada vez mais o problema é precisamente a procura da fama por ela própria, sem estar associada a nenhum tipo de capacidade. É o problema dos reality shows e das revistas cor-de-rosa. Há pessoas que (quase) toda a gente conhece apenas porque vão à TV e aparecem nas revistas e a razão porque aparecem é... porque são conhecidas. Bem vistas as coisas prefiro continuar a ser muy conocido en mi casa e pelo menos ter a noção de que há algumas coisas que ainda sei fazer.
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