O humor
Este post do Max lembrou-me uma deliciosa alegoria que um saudoso colega da FCG gostava de contar. Já desde o estaladão radiofónico do senhor Acílio, padre da ICAR, me apercebi de que o acompanhamento de menores em risco da responsabilidade da santa madre multinacional me dá logo para a anedota, para o disparate, para a caricatura... não me levem a mal, pois só deste modo consigo evitar que me dê para o bombismo militante. O humor é o desespero bem educado, escreveu Boris Vian. E as duas funcionárias das Oficinas de São José, sacanas das intrometidas que acham que podem meter o bedelho numa instituição de funcionamento comprovadamente exemplar [Gi, Gisberta, tareia, fosso, homicídio, brincadeira de mau gosto, hã?], bem que precisam de rir. E então cá vai:
Um temerário passarinho recém-nascido, deixado por momentos sozinho no ninho, decide lançar-se no espaço e voar. Naturalmente, não consegue, e estatela-se no chão. Meio zonzo, apercebe-se que não conseguirá regressar ao ninho por si só e começa a tiritar de frio. Um cão que ali passava resolve ajudá-lo: pega no passarito e acomoda-o numa quente e fofa bosta que uma vaca deixara ali perto. Contente com o conforto tão generosamente providenciado pelo amigo canino, o passarito chilreia de contente. E canta e canta e canta do seu poiso quentinho. Atraído pelo jovem chilrear, aproxima-se um gato - naturalmente, o mau da fita -, saca da bosta o passarito e devora-o, não sem antes o sacudir um bocadinho, já se sabe que os gatos são animais de um asseio irrepreensível.
Moral da história:
-Nem sempre quem te deixa na merda te quer mal;
-Nem sempre quem te tira da merda te quer bem;
-E sobretudo, quando estiveres na merda está muito caladinho.
quarta-feira, agosto 30, 2006
Bluesy South American Way

O Miguel postou esta beleza de foto, a propósito do que chama "a moda de tango". Relembra o Miguel que o tango começou por ser dançado por homens. A hegemonia peniana de que tanto fala a Sara Cacao - que impedia [ia?] tantos comportamentos e liberdades às mulheres - ou a sexualidade reprimida que acompanha o ser humano desde há tanto e desde há tanto encontra desculpas para se exprimir, as razões misturam-se. A versão oficial é, obviamente, a primeira, a segunda uma intuição inescapável. Mas um dos grandes erros actuais - ou não, se esta moda tango de que fala o Miguel for como a moda salsa, que erros pode haver?; se se transforma uma música histórica e de fortíssimo carácter em som de elevador para os salões, há-de passar a moda e o tango regressa às quase clandestinas milongas que há mais de uma década se zapam por este fadista cantinho que tanto se identifica com o choro das Pampas - um dos grandes erros é reduzir o tango a uma música erótica, de jogo de poder entre dois parceiros, quando na realidade estamos perante a expressão do exílio e de um "mal de vivre" que se comprova não ser exclusivo das classes mais abastadas - La vida es una herida absurda, canta-se em La ultima curda, a bebedeira final. Entre homens, mulheres ou misto, o tango é uma das músicas mais populares e tristes do mundo, dorida da perda, emigrada, sangrada. Tudo sexo, apenas porque tudo vida, tocada, dançada e cantada das entranhas. No princípio não se cantava ou tocava bandoneón [Borges abominava o instrumento, aliás], no princípio era o sentimento de exílio e bebedeira das mais variadas comunidades imigrantes das duas margens do Río de La Plata - e isto também convém que se lembre -, no príncipio era o desenraizamento de comunidades de culturas hegemonicamente masculinas. Depois do francês Gardel vieram os mitos das Milonguitas e das Malenas, as mulheres que cantavam nos bordéis e tinham pena do bandoneón - a mulher ainda prisioneira ou puta -, veio a Rinaldi, veio Piazzolla, Ferrer e a sua María. Vieram os tangos proibidos pelas ditaduras. E Gardel, ainda hoje comentam os porteños, canta cada dia melhor.
As mais estranhas e belas flores nascem de terras revolvidas. E há muito que convém lembrar enquanto se enrosca a perna n@ parceir@ de milonga.
O Miguel postou esta beleza de foto, a propósito do que chama "a moda de tango". Relembra o Miguel que o tango começou por ser dançado por homens. A hegemonia peniana de que tanto fala a Sara Cacao - que impedia [ia?] tantos comportamentos e liberdades às mulheres - ou a sexualidade reprimida que acompanha o ser humano desde há tanto e desde há tanto encontra desculpas para se exprimir, as razões misturam-se. A versão oficial é, obviamente, a primeira, a segunda uma intuição inescapável. Mas um dos grandes erros actuais - ou não, se esta moda tango de que fala o Miguel for como a moda salsa, que erros pode haver?; se se transforma uma música histórica e de fortíssimo carácter em som de elevador para os salões, há-de passar a moda e o tango regressa às quase clandestinas milongas que há mais de uma década se zapam por este fadista cantinho que tanto se identifica com o choro das Pampas - um dos grandes erros é reduzir o tango a uma música erótica, de jogo de poder entre dois parceiros, quando na realidade estamos perante a expressão do exílio e de um "mal de vivre" que se comprova não ser exclusivo das classes mais abastadas - La vida es una herida absurda, canta-se em La ultima curda, a bebedeira final. Entre homens, mulheres ou misto, o tango é uma das músicas mais populares e tristes do mundo, dorida da perda, emigrada, sangrada. Tudo sexo, apenas porque tudo vida, tocada, dançada e cantada das entranhas. No princípio não se cantava ou tocava bandoneón [Borges abominava o instrumento, aliás], no princípio era o sentimento de exílio e bebedeira das mais variadas comunidades imigrantes das duas margens do Río de La Plata - e isto também convém que se lembre -, no príncipio era o desenraizamento de comunidades de culturas hegemonicamente masculinas. Depois do francês Gardel vieram os mitos das Milonguitas e das Malenas, as mulheres que cantavam nos bordéis e tinham pena do bandoneón - a mulher ainda prisioneira ou puta -, veio a Rinaldi, veio Piazzolla, Ferrer e a sua María. Vieram os tangos proibidos pelas ditaduras. E Gardel, ainda hoje comentam os porteños, canta cada dia melhor.
As mais estranhas e belas flores nascem de terras revolvidas. E há muito que convém lembrar enquanto se enrosca a perna n@ parceir@ de milonga.
domingo, agosto 27, 2006
E dizia-me ontem a Violeta...
Amadurecer é aprender a ser uma criança melhor.
...
Que seas feliz como un neno, belesa.
Amadurecer é aprender a ser uma criança melhor.
...
Que seas feliz como un neno, belesa.
Van de Schoonheid en de Troost
Of beauty and consolation, na SIC, um pouco quando calha, a partir das três quatro cinco da manhã. Uma verdadeira pérola. Daquelas que me fazem dizer que gosto de televisão. O episódio de ontem/hoje, com o Nobel da Literatura de 1986, Wole Solyinka, foi maravilhoso. Espero que em cada padaria do país haja uma televisão ligada enquanto se amassa o pão de mistura do dia, porque aquele horário é realmente para padeiros e insomnes. Já que esta gente tem de falar, aproveitemos que fala baixinho e arrumêmo-la na madrugada, onde poucos ouvidos darão por eles. É pena. É triste.

Wole Solyinka, n.Nigéria, 1934
Há noites em que sabe bem ser morcego.
Of beauty and consolation, na SIC, um pouco quando calha, a partir das três quatro cinco da manhã. Uma verdadeira pérola. Daquelas que me fazem dizer que gosto de televisão. O episódio de ontem/hoje, com o Nobel da Literatura de 1986, Wole Solyinka, foi maravilhoso. Espero que em cada padaria do país haja uma televisão ligada enquanto se amassa o pão de mistura do dia, porque aquele horário é realmente para padeiros e insomnes. Já que esta gente tem de falar, aproveitemos que fala baixinho e arrumêmo-la na madrugada, onde poucos ouvidos darão por eles. É pena. É triste.

Wole Solyinka, n.Nigéria, 1934
Há noites em que sabe bem ser morcego.
terça-feira, agosto 22, 2006
sábado, agosto 12, 2006
sexta-feira, agosto 11, 2006
Mr Boogie-man!...
O telejornal da RTP mostra alegremente uma reportagem na qual tenta demonstrar que em qualquer drogaria de bairro se pode comprar os ingredientes para fazer uma bomba caseira para fazer explodir aviõezinhos cheios de amigos, irmãos, pais, mães de alguém. Cuidado pessoal, está aí o Papão! Qual spot teleshop, o Telejornal público mostra o catálogo, diz onde comprar e até diz o preço. O Papão, malta, o Papão! Cerca de €39, parece que é o que custa. Até o sem-abrigo ali da arcada pode fazer umas poupanças para comprar, basta-lhe para aí um ano. Caralho, não me ouvem, está aí o Papão! €39, é verdade, e se ligar já tem 20% de desconto em todos os materiais e ainda recebe como brinde um lenço igual ao daquele senhor que chegou a ser o líder de um país em projecto e com futuro e acabou os seus dias quase de volta à condição de símbolo terrorista, Yasser, parece que se chamava assim. Vai-nos comer, o Papão, vai-nos comer a todos! Quando começa a segunda parte da reportagem, em que se demostrava como pode comprar a sua bomba no senhor Manel da esquina que lhe vende os piaçabas, a imagem começa a ondular, qual alucinação psicadélica e surge o cágado Rodrigues dos Santos, com os olhos entre o consternado e o surpreso, explicando-se com dificuldades técnicas. O Papão, então, e não nos mostram o Papão? As dificuldades técnicas, providenciais, cheiram-me a chuva de telefonemas de telespectadores portugueses com um mínimo de dois neurónios activos. E o Papão? E esta reportagem abjecta da RTP cheira-me a obscurantismo, a cultura do medo, a provincianismo inconsciente [se for consciente é ainda mais grave], a alimento de xenofobia, a intoxicação mental. O Papão, o Papão pode estar em qualquer lado, aquele gajo brasileiro que a polícia matou no metro de Londres por ser um bocado mais escuro, quem garante que ele não era um dos papões, também há árabes no Brasil! Qual o objectivo informativo de tal reportagem? Talvez publicidade à fita Tesa, para vedar cada frincha como hilariante defesa da guerra química, como se viu fazer pela América fora [a parte tosca, naturalmente]; talvez um empurrãozinho nas vendas de pó de talco para os atentados postais com antraz. O Papão pode ser o carteiro, o porteiro, o calceteiro, o meu vizinho, eu, caramba, eu posso ser o Papão!
Ainda não passaram, as dificuldades técnicas. Pode ser que desta ainda nos safemos de um Patriot Act.
Bu!
O telejornal da RTP mostra alegremente uma reportagem na qual tenta demonstrar que em qualquer drogaria de bairro se pode comprar os ingredientes para fazer uma bomba caseira para fazer explodir aviõezinhos cheios de amigos, irmãos, pais, mães de alguém. Cuidado pessoal, está aí o Papão! Qual spot teleshop, o Telejornal público mostra o catálogo, diz onde comprar e até diz o preço. O Papão, malta, o Papão! Cerca de €39, parece que é o que custa. Até o sem-abrigo ali da arcada pode fazer umas poupanças para comprar, basta-lhe para aí um ano. Caralho, não me ouvem, está aí o Papão! €39, é verdade, e se ligar já tem 20% de desconto em todos os materiais e ainda recebe como brinde um lenço igual ao daquele senhor que chegou a ser o líder de um país em projecto e com futuro e acabou os seus dias quase de volta à condição de símbolo terrorista, Yasser, parece que se chamava assim. Vai-nos comer, o Papão, vai-nos comer a todos! Quando começa a segunda parte da reportagem, em que se demostrava como pode comprar a sua bomba no senhor Manel da esquina que lhe vende os piaçabas, a imagem começa a ondular, qual alucinação psicadélica e surge o cágado Rodrigues dos Santos, com os olhos entre o consternado e o surpreso, explicando-se com dificuldades técnicas. O Papão, então, e não nos mostram o Papão? As dificuldades técnicas, providenciais, cheiram-me a chuva de telefonemas de telespectadores portugueses com um mínimo de dois neurónios activos. E o Papão? E esta reportagem abjecta da RTP cheira-me a obscurantismo, a cultura do medo, a provincianismo inconsciente [se for consciente é ainda mais grave], a alimento de xenofobia, a intoxicação mental. O Papão, o Papão pode estar em qualquer lado, aquele gajo brasileiro que a polícia matou no metro de Londres por ser um bocado mais escuro, quem garante que ele não era um dos papões, também há árabes no Brasil! Qual o objectivo informativo de tal reportagem? Talvez publicidade à fita Tesa, para vedar cada frincha como hilariante defesa da guerra química, como se viu fazer pela América fora [a parte tosca, naturalmente]; talvez um empurrãozinho nas vendas de pó de talco para os atentados postais com antraz. O Papão pode ser o carteiro, o porteiro, o calceteiro, o meu vizinho, eu, caramba, eu posso ser o Papão!
Ainda não passaram, as dificuldades técnicas. Pode ser que desta ainda nos safemos de um Patriot Act.
Bu!
quinta-feira, agosto 10, 2006
Arrumos na selva II
Os gatos não gostam dos aspiradores. É compreensível. Um gigante que emite um contínuo ronronar ameaçador e que se o deixarmos aproximar nos suga ferozmente o pelo não é propriamente uma companhia agradável, sobretudo se recordarmos a mania chata do bicho em questão, a de vir transtornar o sono felino nos cantos mais privados da casa, com os seus meigos coices e a sua barulheira ensurdecedora. Ora, as cenas variam. Desde a fuga imediata em jeito de pantera, ao soprar e inchar para ficar do dobro do tamanho - coisa que, incompreensivelmente, dificilmente assusta o impertinente bicharoco.
O meu Sombra, habituado que está a que gatos diferentes de personalidades absolutamente díspares passem pela casa, o chateiem ou divirtam durante uns tempos e depois desapareçam como apareceram, já estabeleceu alguma proximidade com o aspirador. Não serão amigos, mas também não são propriamente antagonistas. Mas hoje, com este calor, o bicho foi deveras insuportável e inoportuno, perseguiu-o sem tréguas por cada canto mais frescote. O Sombra passou-se. Quando o bicho estava adormecido, de boca aberta, atacou-lhe a manápula insolente. De garras recolhidas, donde se pode dizer que o aspirador levou um belo par de galhetas. Mesmo assim, só acordou um bom bocado depois.
Isto preocupa-me. É que atacar alguém durante o sono não é coisa que se coadune com a nossa filosofia. Estou a ver que tenho de proibir o Sombra de sair para os telhados... não, já sei. Sombra Gomes, estás a partir de hoje proibido de ver televisão.
Os gatos não gostam dos aspiradores. É compreensível. Um gigante que emite um contínuo ronronar ameaçador e que se o deixarmos aproximar nos suga ferozmente o pelo não é propriamente uma companhia agradável, sobretudo se recordarmos a mania chata do bicho em questão, a de vir transtornar o sono felino nos cantos mais privados da casa, com os seus meigos coices e a sua barulheira ensurdecedora. Ora, as cenas variam. Desde a fuga imediata em jeito de pantera, ao soprar e inchar para ficar do dobro do tamanho - coisa que, incompreensivelmente, dificilmente assusta o impertinente bicharoco.
O meu Sombra, habituado que está a que gatos diferentes de personalidades absolutamente díspares passem pela casa, o chateiem ou divirtam durante uns tempos e depois desapareçam como apareceram, já estabeleceu alguma proximidade com o aspirador. Não serão amigos, mas também não são propriamente antagonistas. Mas hoje, com este calor, o bicho foi deveras insuportável e inoportuno, perseguiu-o sem tréguas por cada canto mais frescote. O Sombra passou-se. Quando o bicho estava adormecido, de boca aberta, atacou-lhe a manápula insolente. De garras recolhidas, donde se pode dizer que o aspirador levou um belo par de galhetas. Mesmo assim, só acordou um bom bocado depois.
Isto preocupa-me. É que atacar alguém durante o sono não é coisa que se coadune com a nossa filosofia. Estou a ver que tenho de proibir o Sombra de sair para os telhados... não, já sei. Sombra Gomes, estás a partir de hoje proibido de ver televisão.
Arrumos na selva I
-Vive ali uma aranha relativamente grande... O que é que faço, mato-a? Ou deixo-a estar?
-Eh pá, é esquisito deixá-la estar, mas matá-la?... Não dá para a atirar pela janela, lá para trás para o jardim?
-Feito!
Bem... sempre é melhor ser despejada em vôo que assassinada na sua própria casa.
-Vive ali uma aranha relativamente grande... O que é que faço, mato-a? Ou deixo-a estar?
-Eh pá, é esquisito deixá-la estar, mas matá-la?... Não dá para a atirar pela janela, lá para trás para o jardim?
-Feito!
Bem... sempre é melhor ser despejada em vôo que assassinada na sua própria casa.
Chama-me nomes...
«A lésbica portuguesa parece ainda ter-se precipitado ao decidir adquirir a nacionalidade espanhola para poder casar. Mesmo que Portugal recusasse passar o certificado, tal não constituiria um impeditivo em Espanha. Num casamento formulado por um cidadão espanhol e um português, este certificado pode ser substituído por "uma declaração ajuramentada e solene do interessado".»
Esta é apenas uma das vezes em que nesta notícia se repete esta referência à mulher portuguesa que foi arbitrariamente impedida pelo consulado português de casar em Espanha. Não "a mulher", não "a portuguesa", não "a cidadã". A lésbica. Porque a lésbica isto, a lésbica aquilo. E além de lésbica é estúpida, porque se fosse uma portuguesa que se prezasse nem lhe teria passado pela cabeça fazer tudo legalmente, bastava um enganozito aqui, um logro acolá. Que lésbica sem patriotismo nenhum, caraças!
...
Pelo menos tem portão de saída, este aterro...
«A lésbica portuguesa parece ainda ter-se precipitado ao decidir adquirir a nacionalidade espanhola para poder casar. Mesmo que Portugal recusasse passar o certificado, tal não constituiria um impeditivo em Espanha. Num casamento formulado por um cidadão espanhol e um português, este certificado pode ser substituído por "uma declaração ajuramentada e solene do interessado".»
Esta é apenas uma das vezes em que nesta notícia se repete esta referência à mulher portuguesa que foi arbitrariamente impedida pelo consulado português de casar em Espanha. Não "a mulher", não "a portuguesa", não "a cidadã". A lésbica. Porque a lésbica isto, a lésbica aquilo. E além de lésbica é estúpida, porque se fosse uma portuguesa que se prezasse nem lhe teria passado pela cabeça fazer tudo legalmente, bastava um enganozito aqui, um logro acolá. Que lésbica sem patriotismo nenhum, caraças!
...
Pelo menos tem portão de saída, este aterro...
segunda-feira, agosto 07, 2006
Ide em paz, e que o senhor vos acompanhe as investigações no bairro.
-Boa tarrrrde, sou o elder *?+'# e este é o elder "#$%&, podemos entrar para conversar consigo um bocadinho?
-Entrar? [cof cof misturado com riso] Não vale a pena [a ler, "Não querias mai nada!..."], vai perder o seu tempo.
-Tem a certeza? É uma pessoa religiosa?
-Sim e sou, mas sou ateia.
-E posso perguntar em que é que acredita?
-Sim, mas isso demorava muito tempo a explicar e eu teria de vos convidar a entrar, o que não estava nada nos meus planos. [sai gato disparado corredor fora, saio eu atrás para o ir buscar] Olhe, acredito no meu gato, que está vivo, acredito em mim, acredito em si... e já não me parece que seja pouco.
-Já agora posso perguntar-lhe se vive nesta casa com a sua família?
-Sim sim, vivo eu e os meus seis maridos. Boa tarde.
-Boa tarrrrde, sou o elder *?+'# e este é o elder "#$%&, podemos entrar para conversar consigo um bocadinho?
-Entrar? [cof cof misturado com riso] Não vale a pena [a ler, "Não querias mai nada!..."], vai perder o seu tempo.
-Tem a certeza? É uma pessoa religiosa?
-Sim e sou, mas sou ateia.
-E posso perguntar em que é que acredita?
-Sim, mas isso demorava muito tempo a explicar e eu teria de vos convidar a entrar, o que não estava nada nos meus planos. [sai gato disparado corredor fora, saio eu atrás para o ir buscar] Olhe, acredito no meu gato, que está vivo, acredito em mim, acredito em si... e já não me parece que seja pouco.
-Já agora posso perguntar-lhe se vive nesta casa com a sua família?
-Sim sim, vivo eu e os meus seis maridos. Boa tarde.
quinta-feira, agosto 03, 2006
Onde está você agora? [É que eu só em pontas consigo ver seu cocuruto]
Caetano foi brilhante, ontem à noite na praça do CCB. É o mínimo que se pode dizer de alguém que com o violão e a voz fez música serena e entregue, curtiu, improvisou, até um pezinho de samba se soltou em Não enche, sem percussão, mas sempre agitando o sangue. Violão e voz. E toda uma história de grandes canções que está nas gargantas e nos pés de quem assiste. Com o repertório com que nos tem enchido os dias durante as últimas décadas, Caetano poderia fazer vinte noites como a de ontem, sem nunca repetir uma canção, e mesmo assim sobrava história para os nossos ouvidos. Por isso um concerto destes, violão e voz, sem álbum para promover, é uma deliciosa incógnita. Por isso, cada canção é um presente que não sabemos que vamos receber, embrulhado na voz de veludo elástico e nos dedos malandros, que arreliam e apaziguam o violão. Leãozinho, Você é linda, Trilhos urbanos [“pena de pavão de krishna, maravilha, vixe maria mãe de deus, será que esses olhos são os meus?”] , Coração Vagabundo, Desde que o samba é samba, Sampa [“é que narciso acha feio o que não é espelho”], um fantástico Qualquer coisa e todos ficámos para lá de Marraquexe, a maravilha porteña que é Volver, o ecuménico Terra [“quando eu estava preso na cela de uma cadeia é que eu vi pela primeira vez as tais fotografias em que apareces inteira, porém lá não estavas nua e sim coberta de nuvens...”], o forró da Luz de Tieta sem que o público tenha, como é tradição, começado a gritar “Eeeeta, eta eta eta!!!!!” fora de sítio. E no entanto...
No entanto, um concerto não é um disco ao vivo. Uma plateia infindável de cadeiras ao preço do ouro, um palco baixo, colunas de som apenas à frente, e os plebeus que ficaram em pé, cá atrás, arrotando 20 euros por um bilhete que lhes permitiu apenas ver cabeças e costas – vá lá, entre um pescoço e uma cabeleira loira lá consegui descortinar que o homem estava mesmo no palco – e ouvir mal e às vezes nada do que Caetano disse no único momento em que falou com o público. Não tenho outras palavras para o que o CCB montou na sua praça central ontem à noite: um logro, um roubo, uma falta de respeito por público pagante. No final de uma noite em que um grande músico nos ofereceu o que de mais íntimo sabe fazer, só me apetecia cantar bem alto aos ouvidos da direcção do CCB uma canção de outro repertório: “Quero o meu dinheiro de volta! Tanta gente a dar-me a volta, não foi p’ra isto que eu vim cá. Quero o meu dinheiro de volta, não é tarde nem é cedo, quero o meu dinheiro já!”
Mas Caetano continua lindo, mais que demais, num glorioso e sereno envelhecimento.
Caetano foi brilhante, ontem à noite na praça do CCB. É o mínimo que se pode dizer de alguém que com o violão e a voz fez música serena e entregue, curtiu, improvisou, até um pezinho de samba se soltou em Não enche, sem percussão, mas sempre agitando o sangue. Violão e voz. E toda uma história de grandes canções que está nas gargantas e nos pés de quem assiste. Com o repertório com que nos tem enchido os dias durante as últimas décadas, Caetano poderia fazer vinte noites como a de ontem, sem nunca repetir uma canção, e mesmo assim sobrava história para os nossos ouvidos. Por isso um concerto destes, violão e voz, sem álbum para promover, é uma deliciosa incógnita. Por isso, cada canção é um presente que não sabemos que vamos receber, embrulhado na voz de veludo elástico e nos dedos malandros, que arreliam e apaziguam o violão. Leãozinho, Você é linda, Trilhos urbanos [“pena de pavão de krishna, maravilha, vixe maria mãe de deus, será que esses olhos são os meus?”] , Coração Vagabundo, Desde que o samba é samba, Sampa [“é que narciso acha feio o que não é espelho”], um fantástico Qualquer coisa e todos ficámos para lá de Marraquexe, a maravilha porteña que é Volver, o ecuménico Terra [“quando eu estava preso na cela de uma cadeia é que eu vi pela primeira vez as tais fotografias em que apareces inteira, porém lá não estavas nua e sim coberta de nuvens...”], o forró da Luz de Tieta sem que o público tenha, como é tradição, começado a gritar “Eeeeta, eta eta eta!!!!!” fora de sítio. E no entanto...
No entanto, um concerto não é um disco ao vivo. Uma plateia infindável de cadeiras ao preço do ouro, um palco baixo, colunas de som apenas à frente, e os plebeus que ficaram em pé, cá atrás, arrotando 20 euros por um bilhete que lhes permitiu apenas ver cabeças e costas – vá lá, entre um pescoço e uma cabeleira loira lá consegui descortinar que o homem estava mesmo no palco – e ouvir mal e às vezes nada do que Caetano disse no único momento em que falou com o público. Não tenho outras palavras para o que o CCB montou na sua praça central ontem à noite: um logro, um roubo, uma falta de respeito por público pagante. No final de uma noite em que um grande músico nos ofereceu o que de mais íntimo sabe fazer, só me apetecia cantar bem alto aos ouvidos da direcção do CCB uma canção de outro repertório: “Quero o meu dinheiro de volta! Tanta gente a dar-me a volta, não foi p’ra isto que eu vim cá. Quero o meu dinheiro de volta, não é tarde nem é cedo, quero o meu dinheiro já!”
Mas Caetano continua lindo, mais que demais, num glorioso e sereno envelhecimento.
domingo, julho 30, 2006
Gelado de vinil com nozes e chantilly
Você é uma pessoa exuberante e que não se preocupa demasiado com o que os outros pensam de si. O caminho da normalidade raramente é aquele que você escolhe trilhar. Gosta de se divertir e não se importa nada de ser o foco de todas as atenções.
Confesso que, com as respostas que dei, estava deveras preocupada com o resultado. Enfim, que incógnitas revelações poderão nascer da confissão de que as melhores guloseimas de todos os tempos são as petazetas e os cigarros fumados clandestinamente atrás do pavilhão da escola? Mas essa história de gostar de ser foco das atenções... só mesmo quando me pagam um cachet jeitoso, que isto de ser palhaço profissional tem que se lhe diga.
I want your looooooove! I want your loooooooveeeeee!!!
![]() |
Você é uma pessoa exuberante e que não se preocupa demasiado com o que os outros pensam de si. O caminho da normalidade raramente é aquele que você escolhe trilhar. Gosta de se divertir e não se importa nada de ser o foco de todas as atenções.
Confesso que, com as respostas que dei, estava deveras preocupada com o resultado. Enfim, que incógnitas revelações poderão nascer da confissão de que as melhores guloseimas de todos os tempos são as petazetas e os cigarros fumados clandestinamente atrás do pavilhão da escola? Mas essa história de gostar de ser foco das atenções... só mesmo quando me pagam um cachet jeitoso, que isto de ser palhaço profissional tem que se lhe diga.
I want your looooooove! I want your loooooooveeeeee!!!
quarta-feira, julho 26, 2006
Palavras - palmas da mão
Porque, bem vê, só quando estamos esgotados (de ternura ou de qualquer outra força) reconhecemos a nossa inesgotabilidade. Quanto mais dermos mais nos sobra, desde que prodigalizemos - é uma coisa sempre a brotar! Sangremo-nos - e seremos fonte viva."
Marina Tsvietaieva, in Noites Florentinas, Oitava carta
Porque, bem vê, só quando estamos esgotados (de ternura ou de qualquer outra força) reconhecemos a nossa inesgotabilidade. Quanto mais dermos mais nos sobra, desde que prodigalizemos - é uma coisa sempre a brotar! Sangremo-nos - e seremos fonte viva."
Marina Tsvietaieva, in Noites Florentinas, Oitava carta
sexta-feira, julho 21, 2006
The Israeli measured response [US/UK copyright]

Entrem AQUI para ver as imagens do efeito destes mísseis sobre os civis, adultos e crianças libaneses, a quem são destinados. Não coloco aqui nenhuma foto... apenas porque não quero ser demasiado ostensiva na minha revolta. Percorre-se o site e a alma encolhe de vergonha e asco. A pergunta repetida entre fotografias ecoa continuamente - measured? meaSURED? MEASURED? Tenho apenas uma pergunta, no meio de tudo isto que parece indiferente às chamadas comunidades internacional e árabe: e estes mortos, não contam?
Entrar AQUI para assinar a petição electrónica a ser entregue a representantes políticos do mundo inteiro.
...
Macaco repulsivo, o ser humano.

Entrem AQUI para ver as imagens do efeito destes mísseis sobre os civis, adultos e crianças libaneses, a quem são destinados. Não coloco aqui nenhuma foto... apenas porque não quero ser demasiado ostensiva na minha revolta. Percorre-se o site e a alma encolhe de vergonha e asco. A pergunta repetida entre fotografias ecoa continuamente - measured? meaSURED? MEASURED? Tenho apenas uma pergunta, no meio de tudo isto que parece indiferente às chamadas comunidades internacional e árabe: e estes mortos, não contam?
Entrar AQUI para assinar a petição electrónica a ser entregue a representantes políticos do mundo inteiro.
...
Macaco repulsivo, o ser humano.
domingo, julho 16, 2006
Bombas fora de prazo
Depois de ter escutado testemunhos de portugueses no Líbano, desesperados pelos familiares em férias no sul, em choque com os civis que já viram morrer à sua frente desde que o festival recomeçou em Beirute e as notícias entraram em nostalgia dos saudosos eighties, confesso que não sabia se havia de rir, chorar ou gritar ao ver Tony Blair assegurando que o Irão, a Síria e o Hezbollah estão a tentar criar um clima de instabilidade e conflito na região. Faz sentido. Israel é nada mais que um pobre perdido que se defende das ameaças bombardeando os vizinhos, soberanos ou invadidos, pensando assim, com a ajuda dos EUA, aliviar esse clima de tensão que os representantes do eixo do mal tão diligentemente tentam impôr.
Tony Blair e George W.Bush, lado a lado, garantindo que o Hezbollah é financiado pela Síria e pelo Irão, com ar calmo e de quem nem perde o sono com as peças do Risco que são comidas pelo adversário, sim sim, é tudo verdade, o fundamentalismo do outro lado, as agressões do outro lado, enquanto com a sua ajuda, Israel vai estendendo novamente o seu braço de sangue.
Onde é que eu já vi isto? Estas verdades absolutas que tudo justificam? Estes dois de braço dado? Dispara-me na cabeça aquela tão familiar designação - Weapons of Mass Destruction, Armas de Destruição Massiva, e não é o título de um filme com o Harrison Ford a bordo do Air Force One.
Alguém sabe dizer-me que é feito de um país que se chamava Iraque? Ainda está por aí, para recordação e memorial? Ou já se obliterou por completo?
É nisto que dá, ignorar jornais e telejornais durante duas semanas. O choque do regresso é brutal. E de repente ouve-se o senhor José Júdice, no outro Eixo do Mal, o da SICN, afirmando tão relaxadamente que é tudo muito simples, que não é uma questão geo-estratégica nem de petróleo, que é meramente um problema étnico, sim claro, eles odeiam-se uns aos outros, pronto. Deve ter razão, e sempre que existiram períodos em que as tréguas e a convivência pareciam possíveis estávamos todos a sonhar de olhos abertos, cambada de líricos. Aliás, judeus e árabes que vivem em Portugal não se matam uns aos outros todos os dias nem sei como. Eu por mim até digo mais, bem alimentadinhos a rivalidade, o provincianismo e o ressabiamento, houvesse petróleo entre Lisboa e Porto, e haviam de ver o escarcéu que se armava...
Depois de ter escutado testemunhos de portugueses no Líbano, desesperados pelos familiares em férias no sul, em choque com os civis que já viram morrer à sua frente desde que o festival recomeçou em Beirute e as notícias entraram em nostalgia dos saudosos eighties, confesso que não sabia se havia de rir, chorar ou gritar ao ver Tony Blair assegurando que o Irão, a Síria e o Hezbollah estão a tentar criar um clima de instabilidade e conflito na região. Faz sentido. Israel é nada mais que um pobre perdido que se defende das ameaças bombardeando os vizinhos, soberanos ou invadidos, pensando assim, com a ajuda dos EUA, aliviar esse clima de tensão que os representantes do eixo do mal tão diligentemente tentam impôr.
Tony Blair e George W.Bush, lado a lado, garantindo que o Hezbollah é financiado pela Síria e pelo Irão, com ar calmo e de quem nem perde o sono com as peças do Risco que são comidas pelo adversário, sim sim, é tudo verdade, o fundamentalismo do outro lado, as agressões do outro lado, enquanto com a sua ajuda, Israel vai estendendo novamente o seu braço de sangue.
Onde é que eu já vi isto? Estas verdades absolutas que tudo justificam? Estes dois de braço dado? Dispara-me na cabeça aquela tão familiar designação - Weapons of Mass Destruction, Armas de Destruição Massiva, e não é o título de um filme com o Harrison Ford a bordo do Air Force One.
Alguém sabe dizer-me que é feito de um país que se chamava Iraque? Ainda está por aí, para recordação e memorial? Ou já se obliterou por completo?
É nisto que dá, ignorar jornais e telejornais durante duas semanas. O choque do regresso é brutal. E de repente ouve-se o senhor José Júdice, no outro Eixo do Mal, o da SICN, afirmando tão relaxadamente que é tudo muito simples, que não é uma questão geo-estratégica nem de petróleo, que é meramente um problema étnico, sim claro, eles odeiam-se uns aos outros, pronto. Deve ter razão, e sempre que existiram períodos em que as tréguas e a convivência pareciam possíveis estávamos todos a sonhar de olhos abertos, cambada de líricos. Aliás, judeus e árabes que vivem em Portugal não se matam uns aos outros todos os dias nem sei como. Eu por mim até digo mais, bem alimentadinhos a rivalidade, o provincianismo e o ressabiamento, houvesse petróleo entre Lisboa e Porto, e haviam de ver o escarcéu que se armava...
segunda-feira, julho 03, 2006
Há dois anos e meio...
... o George escrevia acerca de Álvaro de Campos:
O problema da solidão é ter de viver connosco. Por isso criamos pessoas que vivem ca dentro. E quando as queremos matar, já não sabemos quem somos, quem éramos, quem queríamos ser. Matar alguém assim está sempre entre o suicídio e o assassinato. Talvez por isso tenhamos tanto medo e tanta vertigem. De matar a pessoa certa ou a errada;
e eu escrevia a propósito de uma proposta de casamento que fiz à Truta Vermelha-Rodrigues, num post sobre o Porto:
Não tenho a tua vida, ó Vermelha! Só agora é que vi o desafio da argentinidade (bela expressão, hem?). Não conheço nenhuma daquelas expressões, mas em compensação havias de me ouvir a cantar a María de Buenos Aires!
Há momentos em que se sente claramente que há um ciclo que se fecha.
... o George escrevia acerca de Álvaro de Campos:
O problema da solidão é ter de viver connosco. Por isso criamos pessoas que vivem ca dentro. E quando as queremos matar, já não sabemos quem somos, quem éramos, quem queríamos ser. Matar alguém assim está sempre entre o suicídio e o assassinato. Talvez por isso tenhamos tanto medo e tanta vertigem. De matar a pessoa certa ou a errada;
e eu escrevia a propósito de uma proposta de casamento que fiz à Truta Vermelha-Rodrigues, num post sobre o Porto:
Não tenho a tua vida, ó Vermelha! Só agora é que vi o desafio da argentinidade (bela expressão, hem?). Não conheço nenhuma daquelas expressões, mas em compensação havias de me ouvir a cantar a María de Buenos Aires!
Há momentos em que se sente claramente que há um ciclo que se fecha.
domingo, julho 02, 2006
Camião TIR
Merecidos nome e apelido do meu último mês no Porto, ou entre o Porto e Buenos Aires. Daqui a dois dias já estarei em Lisboa, para ficar. Ao fim de oito meses, sinto-me mais mulher e mais criança, mais crescida e mais acordada, mais entregue ao caminho que escolhi ou me escolheu - feliz dúvida que por vezes me assalta e que não quero ver desfeita. Duvido, logo existo. E a vida assaltou-me a alma, fez-me chorar de revolta - até de raiva, de mágoa, de infelicidade, de medo, e de êxtase, felicidade, amor, amizade, e das dores do crescimento - pelo menos meio-metro de espírito e meio-quilómetro de resistência, quero crer. Também me fez sorrir, a vida, por vezes de desdém, por vezes de escudo, por vezes de timidez, de alegria, de embevecimento.
Aprendi muito. Aprendi tanto que aprendi a errar. E a acertar. Agora mereço casa, desejo casa, anseio por levar às gaivotas do Tejo os cumprimentos das primas do Douro. Anseio, como me dizia um querido amigo acerca de si próprio há umas horas atrás, por tomar terra, para deixar que o que sou se habitue a viver dentro de mim. Para que possa continuar a crescer. Na rua e no palco. Muito obrigada a todos os que me ajudaram - os especiais, que espero que saibam que o são, e os que o fizeram sem intenção, até os que o fizeram com a intenção oposta. Gosto de estar viva, assim como estou. Maríamente.
Merecidos nome e apelido do meu último mês no Porto, ou entre o Porto e Buenos Aires. Daqui a dois dias já estarei em Lisboa, para ficar. Ao fim de oito meses, sinto-me mais mulher e mais criança, mais crescida e mais acordada, mais entregue ao caminho que escolhi ou me escolheu - feliz dúvida que por vezes me assalta e que não quero ver desfeita. Duvido, logo existo. E a vida assaltou-me a alma, fez-me chorar de revolta - até de raiva, de mágoa, de infelicidade, de medo, e de êxtase, felicidade, amor, amizade, e das dores do crescimento - pelo menos meio-metro de espírito e meio-quilómetro de resistência, quero crer. Também me fez sorrir, a vida, por vezes de desdém, por vezes de escudo, por vezes de timidez, de alegria, de embevecimento.
Aprendi muito. Aprendi tanto que aprendi a errar. E a acertar. Agora mereço casa, desejo casa, anseio por levar às gaivotas do Tejo os cumprimentos das primas do Douro. Anseio, como me dizia um querido amigo acerca de si próprio há umas horas atrás, por tomar terra, para deixar que o que sou se habitue a viver dentro de mim. Para que possa continuar a crescer. Na rua e no palco. Muito obrigada a todos os que me ajudaram - os especiais, que espero que saibam que o são, e os que o fizeram sem intenção, até os que o fizeram com a intenção oposta. Gosto de estar viva, assim como estou. Maríamente.
sábado, junho 24, 2006
terça-feira, junho 20, 2006
domingo, junho 18, 2006
Late again, Sam...

Praça da Batalha, Porto
Maio de 2006
Chega-se tarde a algo que já partiu ou que não se tem tempo de apreender, há sempre um angustioso atraso para a próxima paragem, pós-moderno toca-e-foge, sem objectivo que nos console o tic-tac interior. Rondamos as paragens dos guias que escolhemos, e tentamos entrar nas suas carruagens ou arrastá-los para as nossas. Por vezes parecemos conseguir, ou ficcionamos que conseguimos, outras deixam-nos à janela do desconsolo da incomunicação. Por vezes esperamos o comboio na paragem do autocarro. Por vezes a ficção irrealiza a carne e o osso e a realidade desfaz-se em perplexidades. Por vezes ansiamos por um destino que não desejamos, em vez de gozarmos bem a nossa rota. Por vezes descobrimos que já é tarde para viver e para morrer e encerramo-nos no purgatório televisivo de um hipermercado ou de um centro comercial.
Por vezes até vivemos. Mas quando isso acontece costumamos estar maravilhosamente distraídos.

Praça da Batalha, Porto
Maio de 2006
Chega-se tarde a algo que já partiu ou que não se tem tempo de apreender, há sempre um angustioso atraso para a próxima paragem, pós-moderno toca-e-foge, sem objectivo que nos console o tic-tac interior. Rondamos as paragens dos guias que escolhemos, e tentamos entrar nas suas carruagens ou arrastá-los para as nossas. Por vezes parecemos conseguir, ou ficcionamos que conseguimos, outras deixam-nos à janela do desconsolo da incomunicação. Por vezes esperamos o comboio na paragem do autocarro. Por vezes a ficção irrealiza a carne e o osso e a realidade desfaz-se em perplexidades. Por vezes ansiamos por um destino que não desejamos, em vez de gozarmos bem a nossa rota. Por vezes descobrimos que já é tarde para viver e para morrer e encerramo-nos no purgatório televisivo de um hipermercado ou de um centro comercial.
Por vezes até vivemos. Mas quando isso acontece costumamos estar maravilhosamente distraídos.
domingo, junho 11, 2006
Não resisto...
Afinal, nada como uma boa anedota anti-clerical e inocente, para desatar acílios.
Uma freira repreende, de ameaçador dedo em riste, uma menina do colégio.
-As meninas que se portam mal vão para o inferno!
-E as freiras que se masturbam cheiram mal do dedo!
Afinal, nada como uma boa anedota anti-clerical e inocente, para desatar acílios.
Uma freira repreende, de ameaçador dedo em riste, uma menina do colégio.
-As meninas que se portam mal vão para o inferno!
-E as freiras que se masturbam cheiram mal do dedo!
O que vale é que há um Chico - e um chorinho - para todos os momentos
Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando que, também, sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transacção
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus
Chico Buarque/Francis Hyme
Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando que, também, sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transacção
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus
Chico Buarque/Francis Hyme
Anticonstitucionalissimamente
ou
Um governo quê?...
Almoço a cinco sob o sol da Cordoaria. Dois tripeiros, uma alface, dois galegos. A conversa, como as cerejas que apetece trincar só de as sentir penduradas na orelha, passeia-se entre gargalhadas e silêncios, entre o dentro e o fora, as emoções e o mundo. E no meio do tanto por que se passa quase sem se dar por ela, lá vem a pergunta/confirmação quase incrédula, "Mas aqui os homossexuais não podem casar, é?".
Reposta pronta, claro, cá deste lado: que não, que há cerca de um ano se conseguiu mudar o artigo 13 da Constituição, de forma a que a proibição da discriminação incluísse a orientação sexual e não apenas o género, mas que a lei do casamento civil continua anticonstitucionalmente discriminatória. Aliás - e para alguma coisa me deve ter servido brincar com o meu pai às palavras-centopeia - anticonstitucionalissimamente discriminatória. Oiço então a pergunta óbvia, que só os portugueses aparentemente não fazem: "Mas em Portugal não há um governo socialista?".
Pois... é a versão oficial, socialistas, dizem eles. E não sabes tu da missa o terço, meu caro amigo.
ou
Um governo quê?...
Almoço a cinco sob o sol da Cordoaria. Dois tripeiros, uma alface, dois galegos. A conversa, como as cerejas que apetece trincar só de as sentir penduradas na orelha, passeia-se entre gargalhadas e silêncios, entre o dentro e o fora, as emoções e o mundo. E no meio do tanto por que se passa quase sem se dar por ela, lá vem a pergunta/confirmação quase incrédula, "Mas aqui os homossexuais não podem casar, é?".
Reposta pronta, claro, cá deste lado: que não, que há cerca de um ano se conseguiu mudar o artigo 13 da Constituição, de forma a que a proibição da discriminação incluísse a orientação sexual e não apenas o género, mas que a lei do casamento civil continua anticonstitucionalmente discriminatória. Aliás - e para alguma coisa me deve ter servido brincar com o meu pai às palavras-centopeia - anticonstitucionalissimamente discriminatória. Oiço então a pergunta óbvia, que só os portugueses aparentemente não fazem: "Mas em Portugal não há um governo socialista?".
Pois... é a versão oficial, socialistas, dizem eles. E não sabes tu da missa o terço, meu caro amigo.
Subscrever:
Mensagens (Atom)