domingo, julho 16, 2006

Bombas fora de prazo

Depois de ter escutado testemunhos de portugueses no Líbano, desesperados pelos familiares em férias no sul, em choque com os civis que já viram morrer à sua frente desde que o festival recomeçou em Beirute e as notícias entraram em nostalgia dos saudosos eighties, confesso que não sabia se havia de rir, chorar ou gritar ao ver Tony Blair assegurando que o Irão, a Síria e o Hezbollah estão a tentar criar um clima de instabilidade e conflito na região. Faz sentido. Israel é nada mais que um pobre perdido que se defende das ameaças bombardeando os vizinhos, soberanos ou invadidos, pensando assim, com a ajuda dos EUA, aliviar esse clima de tensão que os representantes do eixo do mal tão diligentemente tentam impôr.

Tony Blair e George W.Bush, lado a lado, garantindo que o Hezbollah é financiado pela Síria e pelo Irão, com ar calmo e de quem nem perde o sono com as peças do Risco que são comidas pelo adversário, sim sim, é tudo verdade, o fundamentalismo do outro lado, as agressões do outro lado, enquanto com a sua ajuda, Israel vai estendendo novamente o seu braço de sangue.

Onde é que eu já vi isto? Estas verdades absolutas que tudo justificam? Estes dois de braço dado? Dispara-me na cabeça aquela tão familiar designação - Weapons of Mass Destruction, Armas de Destruição Massiva, e não é o título de um filme com o Harrison Ford a bordo do Air Force One.


Alguém sabe dizer-me que é feito de um país que se chamava Iraque? Ainda está por aí, para recordação e memorial? Ou já se obliterou por completo?


É nisto que dá, ignorar jornais e telejornais durante duas semanas. O choque do regresso é brutal. E de repente ouve-se o senhor José Júdice, no outro Eixo do Mal, o da SICN, afirmando tão relaxadamente que é tudo muito simples, que não é uma questão geo-estratégica nem de petróleo, que é meramente um problema étnico, sim claro, eles odeiam-se uns aos outros, pronto. Deve ter razão, e sempre que existiram períodos em que as tréguas e a convivência pareciam possíveis estávamos todos a sonhar de olhos abertos, cambada de líricos. Aliás, judeus e árabes que vivem em Portugal não se matam uns aos outros todos os dias nem sei como. Eu por mim até digo mais, bem alimentadinhos a rivalidade, o provincianismo e o ressabiamento, houvesse petróleo entre Lisboa e Porto, e haviam de ver o escarcéu que se armava...

4 comentários:

Alexa disse...

Sei que não tem nada a ver com o teu post brilhante de hoje... mas que tal está o Chaplin (ex-Gonçalinho)?

Anónimo disse...

"ouve-se o senhor José Júdice, no outro Eixo do Mal, o da SICN, afirmando tão relaxadamente que é tudo muito simples, que não é uma questão geo-estratégica nem de petróleo, que é meramente um problema étnico (...)"

O amigo Manel, deixa lá...o homem tem direito a ser um idiota. Dos grandes, pelos vistos.

Manel disse...

O Gonçalinho, Chaplin ou Charlie, como agora deram para lhe chamar, está óptimo. Aliás, devo uma chamada à Truta Rodrigues para pô-la ao corrente do percurso do nosso amigo, conquistador de lares e corações - desde que não de gatas, eheh...

Manel disse...

Max... pois. Que dizer mais? Pois...