quinta-feira, maio 31, 2007
quarta-feira, maio 30, 2007
com agradecimentos ao Daniel Oliveira; pensei em pôr um papelinho a dizer "volto já", mas isto assim é bem mais claro.
terça-feira, maio 29, 2007
Enquanto há vida há esperança...
cópiráite com impressão digital de um polegar
Ou citanto a grande Natália de Andrade, o meu recibo é veueueueuerde!
Divergências significantes: a relevância
A shilling life will give you all the facts:
How Father beat him, how he ran away,
What were the struggles of his youth, what acts
Made him the greatest figure of his day;
Of how he fought, fished, hunted, worked all night,
Though giddy, climbed new mountains; named a sea:
Some of the last researchers even write
Love made him weep his pints like you and me.
With all his honours on, he sighed for one
Who, say astonished critics, lived at home;
Did little jobs about the house with skill
And nothing else; could whistle; would sit still
Or potter round the garden; answered some
Of his long marvellous letters but kept none.
W.H.Auden, Who's who? [1934]
via Estado Civil
How Father beat him, how he ran away,
What were the struggles of his youth, what acts
Made him the greatest figure of his day;
Of how he fought, fished, hunted, worked all night,
Though giddy, climbed new mountains; named a sea:
Some of the last researchers even write
Love made him weep his pints like you and me.
With all his honours on, he sighed for one
Who, say astonished critics, lived at home;
Did little jobs about the house with skill
And nothing else; could whistle; would sit still
Or potter round the garden; answered some
Of his long marvellous letters but kept none.
W.H.Auden, Who's who? [1934]
via Estado Civil
Divergências significantes: a escolha [múltipla] - Adenda
Já não sei quem é que dizia que a capacidade de interpretar e compreender um texto é o que distingue um grupo de eleitores de um rebanho de ovelhas. Alarmistas, pá, alarmistas...
Divergências significantes: a escolha [múltipla]
Ké quimporta çe çabes eispremir o que intendes? Ké quimporta çe intendes? Pa balir çem levantar os kornos açima do rebanho çó pressizamos que çaibas fazer uma krux num quadradinho, topax? Props pó pipole!
Valeu tudo: tratar um sujeito como predicado, usar um "ç" em vez de dois "s", inventar palavras. O Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) do Ministério da Educação deu ordens para que nas primeiras partes das provas de aferição de Língua Portuguesa do 4.º e 6.º anos, os erros de construção gráfica, grafia ou de uso de convenções gráficas não fossem considerados. E valeu tudo menos saber escrever em português. Isso não deu pontos.
(...)
Este sistema de avaliação não deverá ser o sistema "ideal" de avaliação, diz Paulo Feytor Pinto. Para a Associação de Professores de Português, a solução para este problema chama-se "escolha múltipla". Com ela, "são avaliadas só as competências de leitura e não também as de escrita". Para o professor, "mecanismos que permitam distinguir as capacidades de leitura e de escrita são os ideais".
Está, oficialmente, tudo grosso.
Valeu tudo: tratar um sujeito como predicado, usar um "ç" em vez de dois "s", inventar palavras. O Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) do Ministério da Educação deu ordens para que nas primeiras partes das provas de aferição de Língua Portuguesa do 4.º e 6.º anos, os erros de construção gráfica, grafia ou de uso de convenções gráficas não fossem considerados. E valeu tudo menos saber escrever em português. Isso não deu pontos.
(...)
Este sistema de avaliação não deverá ser o sistema "ideal" de avaliação, diz Paulo Feytor Pinto. Para a Associação de Professores de Português, a solução para este problema chama-se "escolha múltipla". Com ela, "são avaliadas só as competências de leitura e não também as de escrita". Para o professor, "mecanismos que permitam distinguir as capacidades de leitura e de escrita são os ideais".
Está, oficialmente, tudo grosso.
segunda-feira, maio 28, 2007
domingo, maio 27, 2007
Epílogo
Para acabar a semana de maldoror achei que o Mulholland Drive era bater ainda mais no ceguinho. Loucura por loucura, resolvi ir ao circo. E fiz muito bem.
sábado, maio 26, 2007
Dia de 168 horas
Parar, enfim. Chorar com Liszt em São Luís dos Franceses e rir desbragadamente de felicidades e misérias, ter o karahi gosh a picar na língua e ver esta semana surreal terminar como começou, com outros amigos no mesmo cantinho da rua da Rosa, vendo passar o filme da lynchiana noite de Lisboa, qualquer coisa entre Lost Highway e The Straight Story. Respirar. E quase aterrar. O tempo continua eléctrico e pesado. A Frika voltou a miar pelos cantos, cantando o seu cio para o prédio inteiro. Eu ainda estou meio perdida na minha casa que vai deixar de ser, tentando encontrar a ponta pela qual começarei a enrolar o novelo. Não estranharei nem um bocadinho, se um anão dançarino hoje vier puxar o lustro ao chão axadrezado da minha cozinha.
quinta-feira, maio 24, 2007
Estamos todos no mesmo barco... até os ratos.
Por diversas razões impartilháveis [e pronto, acho que acabei de inventar uma palavra], é esta a canção do dia.
Uma notinha pessoal: a venda nos olhos enquanto se dá às agulhas é bem ilustrativa do modo de vida dos que estão sempre prontos a dizer que a culpa... foi da Yoko.
Uma notinha pessoal: a venda nos olhos enquanto se dá às agulhas é bem ilustrativa do modo de vida dos que estão sempre prontos a dizer que a culpa... foi da Yoko.
Interrogações em arco-íris
Onde é que já se viu? Gay flamingos pick up chick?!!! Estará o reino animal perdido? Estará louco? Estará geneticamente, socialmente, contranaturamente doente? Será porque os flamingos são cor-de-rosa? E os famosos pinguins do Massachussets, será porque andam de casaca? O Zapatero, será filho de um pinguim? Isso faz do Sócrates filho de quê?
O dia 17 de Maio foi o dia internacionalmente marcado para marcar a luta contra a homofobia. Este post e este cartaz da rede ex-aequo vêm, portanto, com aparente atraso, mas sempre a tempo. A tempo porque, ao contrário destes flamingos, aos casais homossexuais portugueses continua a ser recusado o pleno reconhecimento do estado e a legalização da adopção - porque quem não adopta como casal adopta como pessoa solteira, o que faz com que um dos pais reais seja invisível para o Estado. A tempo porque a Gisberta acabou no fundo de um fosso. A tempo porque ainda é preciso manter o estômago forte para os comentários mais abjectos vindos das bocas mais inesperadas. A tempo porque ninguém me convence de que foi por acaso que um grupo de onze pessoas onde só estavam duas mulheres, um grupo de homens alegremente bebidos e que se beijam e abraçam sem pudores tontos, foi marcado e agredido brutalmente por uma matilha de cães de fila de duas patas à porta de uma casa nocturna.
Vivo imersa na dúvida. Mas não nasci ontem.
Agradecimentos ao nosso Saroco.
O dia 17 de Maio foi o dia internacionalmente marcado para marcar a luta contra a homofobia. Este post e este cartaz da rede ex-aequo vêm, portanto, com aparente atraso, mas sempre a tempo. A tempo porque, ao contrário destes flamingos, aos casais homossexuais portugueses continua a ser recusado o pleno reconhecimento do estado e a legalização da adopção - porque quem não adopta como casal adopta como pessoa solteira, o que faz com que um dos pais reais seja invisível para o Estado. A tempo porque a Gisberta acabou no fundo de um fosso. A tempo porque ainda é preciso manter o estômago forte para os comentários mais abjectos vindos das bocas mais inesperadas. A tempo porque ninguém me convence de que foi por acaso que um grupo de onze pessoas onde só estavam duas mulheres, um grupo de homens alegremente bebidos e que se beijam e abraçam sem pudores tontos, foi marcado e agredido brutalmente por uma matilha de cães de fila de duas patas à porta de uma casa nocturna.
Vivo imersa na dúvida. Mas não nasci ontem.
Agradecimentos ao nosso Saroco.
quarta-feira, maio 23, 2007
Interlúdio
You Date Like a Woman |
According to studies on dating, you date like a woman. You tend to take romance seriously, and you're not really out for a fling. A mental and emotional connection always comes first for you. And rushing the physical stuff is likely to turn you off. You're highly selective when it comes to dating, and some may say you're too picky. You know what you want, and when you find it, you're ready to commit. |
Do You Date Like a Man or a Woman?
Fiquei espantada com o meu resultado, querida Raquel, porque ao ler o teu identifiquei-me plenamente. Depois li a explicação por extenso e percebi: o palavreado acima é todo mentira. Aliás, ultimamente eu mais pareço um radar. Não tenho é pachorra para gente estúpida, por mais bem parecida que seja.
Fiquei espantada com o meu resultado, querida Raquel, porque ao ler o teu identifiquei-me plenamente. Depois li a explicação por extenso e percebi: o palavreado acima é todo mentira. Aliás, ultimamente eu mais pareço um radar. Não tenho é pachorra para gente estúpida, por mais bem parecida que seja.
segunda-feira, maio 21, 2007
Despertar brusco
Terá sido intuição. Terá sido sensatez. Terá sido alergia a certo tipo de lugares que o mais das vezes me faz sentir vazia e falsamente divertida. Não fui. Eram quatro da manhã e o Bairro esvaía o fim do domingo, as ruas desertas habitadas apenas por parcos cromos, como nós. Para dançar o destino repetido era Alcântara, mais precisamente um falado clube, desses em que o dinheiro novo se mói em decibéis, pó e shots. Não é defeito, é feitio, mas dá-me alergia, tédio, inadaptação. E se eu gosto de dançar. Baldei-me à festa. Para dormir duas horas e ser acordada por um pedido de ajuda. Para agarrar no carro e percorrer durante doze horas os caminhos entre farmácias, hotéis, hospital e esquadras. Para ver um amigo de lábio cosido, outro transtornado, sem entender o que lhe aconteceu nem como, sem memória imediata, o retrato da confusão, outro ainda deitado numa maca, de rosto deformado e nariz partido. Para ver o espanto estampado nos olhos dos poucos do grupo que não foram agredidos pelo exército de seguranças da dita discoteca, mortos de ânsia de se mostrar no seu esplendor bestial, salivantes por um rastilho que a noite etílica de bom-grado acende, prontos a pontapear na cara um homem já no chão, já inconsciente, já cuspindo sangue do meio do bolo que lhe servia de rosto.
Estou acordada, já. Muito acordada.
Estou acordada, já. Muito acordada.
sexta-feira, maio 18, 2007
terça-feira, maio 15, 2007
Flores de cheiro entre rochas galegas
Agora já vi. Agora já sei. Não mais te vejo flutuar entre o chão que juntas conhecemos e o campo de estrelas que escolheste. Senti-te a terra. Olhei-te o verde. Sentei-me nas tuas cadeiras. Dobrei a tua esquina. A vossa casa existe. E agora existe na minha retina também. Voltei com as mesmas saudades. Mas agora conheço-te a toca e toquei o concreto dessa tua vida nova, tão vida e tão nova. E isso sossega-me o espírito e alimenta-me a confiança. Estás muito linda, flor de cheiro, raiz na terra e frutos nas mãos. Toma um biquinho. Toma três, para partilhares. E até já.
sábado, maio 12, 2007
Post hormonal
É que até dispensava o morango no topo da montanha de chantili. Levava-te para casa e chamava-te um figo.
É quando se começa a ter estes calores com pessoas com 1985 escrito no BI e não se sente o mínimo remorso que se percebe que os trinta são uma fase especial.
É quando se começa a ter estes calores com pessoas com 1985 escrito no BI e não se sente o mínimo remorso que se percebe que os trinta são uma fase especial.
quinta-feira, maio 10, 2007
Ó Violeta!...
Vê lá se isto agora já está mais levezinho. E toma um abraço do tamanho da distância que nos separa.
Meninos malcriados
Isto é que foi uma tarde, sim senhor. Duas horitas de observação de uma espécie muito especial: o deputado. Ou melhor dizendo, os deputados, que as variantes são algumas, ainda assim, e, felizmente, antagónicas.
Hoje discutiu-se, pela primeira vez, o estatudo do trabalhador intermitente. No debate parlamentar agendado pelo PCP, três propostas se apresentaram, dos comunistas, do Bloco e do Governo. A ministra Pires de Lima ainda se congratulou, a dada altura, por neste governo se debater finalmente a aberração que é a [falta de] estatuto dos trabalhadores do espectáculo em Portugal, perdendo um bom momento para estar calada. Bonito bonito teria sido o governo perceber a urgência do assunto e trazê-lo à discussão. Não só não aconteceu - e sem o reboque do PCP não aconteceria de todo - como a proposta do governo é esburacada. Nada é obrigatório, tudo é facultativo, ou seja, caros empregadores, esqueçam os contratos de trabalho, os recibos verdes aí estão para vos servir. Para além disso os contratos de intermitência parecem desenhados a convidar à substituição por estes dos contratos sem termo. Ou seja, quem está precário precário fica, quem não está precário pode preparar-se para passar a receber apenas 30% do ordenado quando não há espectáculos programados. O que muito inquieta, e bem, os bailarinos da CNB, empregados... do Estado. Bonito, não é? Mais bonito ainda é o adiamento da discussão sobre a Segurança Social, proposto pelo governo, quando é esse o ponto mais premente e mais dramático da vida profissional dos intermitentes. E quando finalmente falou do eventual agendamento de tal debate, concretizou referindo-se apenas às profissões de desgaste rápido, donde, às reformas dos bailarinos. Assim, en passant. Intenções de discutir o muito que pagam e o nada a que têm direito os intermitentes, tá caladinho, ou seja, podemos esperar sentados. Cada vez me é mais claro que o mais importante das intenções políticas se revela nos mais pequenos pormenores. A reforma das profissões de desgaste rápido é importante. Mas deixa de fora centenas e centenas de profissionais que lutam todos os dias contra a impiedade do mercado e do estado, que venha o diabo e escolha. Tudo mais que revelador quanto às preocupações do governo com a realidade profissional de artistas e técnicos. Estamos conversados.
Felizmente também as propostas do PCP e do BE foram aprovadas e, como se diz, baixaram à especialidade. Este foi só o primeiro passo. É preciso dissecar cada proposta e dizer de nossa justiça, antes que a comissão chegue, por fim, ao projecto final. Pessoal saltimbanco, orelhas de elefante e olhos no meio da testa, como o Barnabé. É preciso pôr a questão da segurança social no lugar que merece, o da justiça social, o do respeito pelo profissional e pelo ser humano. Dos meus olhos atentos e patas na terra à maneira do cão raivoso tentarei regularmente dar-vos conta por aqui.
Mas devo dizer-vos que para mim foi uma estreia. Nunca antes entrara em São Bento, embora muitas vezes tenha estado nas escadarias [não, felizmente não conheço o patego que mostrou o rabo à Ferreira Leite, ou melhor, à PSP]. E foi uma tarde esclarecedora. Quase tão esclarecedora como deprimente.
Não me incomodam propriamente os lugares vazios. Só quem não quer é que não sabe que o trabalho de um deputado não se esgota no hemiciclo e que existem reuniões simultâneas ao plenário. Não são os que estão fora que incomodam. Os que ficam é que chateiam. A divisão não é em linha recta, mas é clara a fronteira de atitude e de respeito bem marcada ali na região centro-esquerda. É inenerrarrável o comportamento da quase totalidade dos presentes em representação de CDS, PSD e muito PS. Conversam sem atenção ao tom de voz, dizem piadas, circulam sem objectivo aparente, não têm um pingo de respeito por quem está a falar nem pelos assuntos que se discutem. Para quê, afinal? Vou votar onde manda o chefe, nem vale a pena dar-me ao trabalho de ler os diários para saber o que aquele patego esteve para ali a ladrar enquanto eu ouvia as larachas do Nuno Melo para depois repeti-las ao Santana que vai passar por aqui só para cumprimentar o pessoal e depois vai à vida dele, dom ubu quero cá saber! À minha frente um deputado circulava entre as duas bancadas mais à direita, abrindo e fechando o portátil, abrindo e fechando o messenger, saindo e entrando de maço de cigarros na mão. A menina que usou o tempo do PSD não ouviu rigorosamente nada do que os deputados dos outros partidos disseram, apenas leu com graça o que tinha já escrito no papelinho [as propostas mais à esquerda eram voluntaristas e sobre-protectoras, a anedota da tarde, sem dúvida] e respondeu à interpelação que lhe fizeram. Ah pois respondeu, e que remédio teve senão o de reconhecer que o PSD não pode arrotar postas de pescada no que respeita a políticas de cultura, mas o resto do tempo esteve sempre em amenas cavaqueiras com os colegas de carteira, nomeadamente com o viciado em msn. Nem quero imaginar qual será o nick.
Não estou surpreendida, é essa a verdade. Mas a política nacional consegue chocar-me mesmo quando não me surpreende. Mais de metade do nosso parlamento é ocupada por meninos da mamã, por estrelas do recreio. Algo está intrinsecamente, doentiamente, anti-democraticamente mal nisto. Noutras galerias, várias visitas de estudo de escolas preparatórias e secundárias. Nas casas-de-banho, professoras em choque e revolta com o espectáculo que não pode ser exemplo para os que com elas estão para aprender. Logo durante a primeira intervenção, a do comunista António Filipe, Jaime Gama pediu respeito e atenção aos deputados que mostram não respeitar a função que lhes cabe. E nem as professoras nem nós fomos acusados de desrespeito por termos repetidamente projectado sonoros "ssscccchhhhhhh" colectivos sobre os meninos malcriados que fazem o mais pacífico dos pacíficos suspirar por uma palmatória. No mínimo, deviam ter vergonha. No máximo, deviam passar todos a trabalhar a recibos verdes, sem contrato, sem horário de trabalho, sem subsídio de desemprego, sem reforma. Como nós, que nem sequer andamos aqui a gozar com a cara de ninguém.
Hoje discutiu-se, pela primeira vez, o estatudo do trabalhador intermitente. No debate parlamentar agendado pelo PCP, três propostas se apresentaram, dos comunistas, do Bloco e do Governo. A ministra Pires de Lima ainda se congratulou, a dada altura, por neste governo se debater finalmente a aberração que é a [falta de] estatuto dos trabalhadores do espectáculo em Portugal, perdendo um bom momento para estar calada. Bonito bonito teria sido o governo perceber a urgência do assunto e trazê-lo à discussão. Não só não aconteceu - e sem o reboque do PCP não aconteceria de todo - como a proposta do governo é esburacada. Nada é obrigatório, tudo é facultativo, ou seja, caros empregadores, esqueçam os contratos de trabalho, os recibos verdes aí estão para vos servir. Para além disso os contratos de intermitência parecem desenhados a convidar à substituição por estes dos contratos sem termo. Ou seja, quem está precário precário fica, quem não está precário pode preparar-se para passar a receber apenas 30% do ordenado quando não há espectáculos programados. O que muito inquieta, e bem, os bailarinos da CNB, empregados... do Estado. Bonito, não é? Mais bonito ainda é o adiamento da discussão sobre a Segurança Social, proposto pelo governo, quando é esse o ponto mais premente e mais dramático da vida profissional dos intermitentes. E quando finalmente falou do eventual agendamento de tal debate, concretizou referindo-se apenas às profissões de desgaste rápido, donde, às reformas dos bailarinos. Assim, en passant. Intenções de discutir o muito que pagam e o nada a que têm direito os intermitentes, tá caladinho, ou seja, podemos esperar sentados. Cada vez me é mais claro que o mais importante das intenções políticas se revela nos mais pequenos pormenores. A reforma das profissões de desgaste rápido é importante. Mas deixa de fora centenas e centenas de profissionais que lutam todos os dias contra a impiedade do mercado e do estado, que venha o diabo e escolha. Tudo mais que revelador quanto às preocupações do governo com a realidade profissional de artistas e técnicos. Estamos conversados.
Felizmente também as propostas do PCP e do BE foram aprovadas e, como se diz, baixaram à especialidade. Este foi só o primeiro passo. É preciso dissecar cada proposta e dizer de nossa justiça, antes que a comissão chegue, por fim, ao projecto final. Pessoal saltimbanco, orelhas de elefante e olhos no meio da testa, como o Barnabé. É preciso pôr a questão da segurança social no lugar que merece, o da justiça social, o do respeito pelo profissional e pelo ser humano. Dos meus olhos atentos e patas na terra à maneira do cão raivoso tentarei regularmente dar-vos conta por aqui.
Mas devo dizer-vos que para mim foi uma estreia. Nunca antes entrara em São Bento, embora muitas vezes tenha estado nas escadarias [não, felizmente não conheço o patego que mostrou o rabo à Ferreira Leite, ou melhor, à PSP]. E foi uma tarde esclarecedora. Quase tão esclarecedora como deprimente.
Não me incomodam propriamente os lugares vazios. Só quem não quer é que não sabe que o trabalho de um deputado não se esgota no hemiciclo e que existem reuniões simultâneas ao plenário. Não são os que estão fora que incomodam. Os que ficam é que chateiam. A divisão não é em linha recta, mas é clara a fronteira de atitude e de respeito bem marcada ali na região centro-esquerda. É inenerrarrável o comportamento da quase totalidade dos presentes em representação de CDS, PSD e muito PS. Conversam sem atenção ao tom de voz, dizem piadas, circulam sem objectivo aparente, não têm um pingo de respeito por quem está a falar nem pelos assuntos que se discutem. Para quê, afinal? Vou votar onde manda o chefe, nem vale a pena dar-me ao trabalho de ler os diários para saber o que aquele patego esteve para ali a ladrar enquanto eu ouvia as larachas do Nuno Melo para depois repeti-las ao Santana que vai passar por aqui só para cumprimentar o pessoal e depois vai à vida dele, dom ubu quero cá saber! À minha frente um deputado circulava entre as duas bancadas mais à direita, abrindo e fechando o portátil, abrindo e fechando o messenger, saindo e entrando de maço de cigarros na mão. A menina que usou o tempo do PSD não ouviu rigorosamente nada do que os deputados dos outros partidos disseram, apenas leu com graça o que tinha já escrito no papelinho [as propostas mais à esquerda eram voluntaristas e sobre-protectoras, a anedota da tarde, sem dúvida] e respondeu à interpelação que lhe fizeram. Ah pois respondeu, e que remédio teve senão o de reconhecer que o PSD não pode arrotar postas de pescada no que respeita a políticas de cultura, mas o resto do tempo esteve sempre em amenas cavaqueiras com os colegas de carteira, nomeadamente com o viciado em msn. Nem quero imaginar qual será o nick.
Não estou surpreendida, é essa a verdade. Mas a política nacional consegue chocar-me mesmo quando não me surpreende. Mais de metade do nosso parlamento é ocupada por meninos da mamã, por estrelas do recreio. Algo está intrinsecamente, doentiamente, anti-democraticamente mal nisto. Noutras galerias, várias visitas de estudo de escolas preparatórias e secundárias. Nas casas-de-banho, professoras em choque e revolta com o espectáculo que não pode ser exemplo para os que com elas estão para aprender. Logo durante a primeira intervenção, a do comunista António Filipe, Jaime Gama pediu respeito e atenção aos deputados que mostram não respeitar a função que lhes cabe. E nem as professoras nem nós fomos acusados de desrespeito por termos repetidamente projectado sonoros "ssscccchhhhhhh" colectivos sobre os meninos malcriados que fazem o mais pacífico dos pacíficos suspirar por uma palmatória. No mínimo, deviam ter vergonha. No máximo, deviam passar todos a trabalhar a recibos verdes, sem contrato, sem horário de trabalho, sem subsídio de desemprego, sem reforma. Como nós, que nem sequer andamos aqui a gozar com a cara de ninguém.
quarta-feira, maio 09, 2007
Divergências significantes: a culpa
Parece que isto não chateia os guardiões das adolescentes em vias de se tornarem anorécticas. Nem esta água que na televisão se gaba, pela boca da Margarida Pinto Correia que sempre foi magra, de ocupar 3/4 do estômago [o que pode ajudar a que uma folha de alface por dia pareça uma feijoada], nem os catrapázios nas montras das farmácias que berram "continue a engordar, vai ver onde vai parar!", nada disso incomoda os guardiões da medida certa. As manequins, pá, as manequins com IMC<18 é que têm culpa, pá.
Mas não, cada macaco no seu galho. Este departamento é o do combate à obesidade, não o do convite à anorexia. Benditas pandemias, que limpam mais branco que uma avé maria, carago!
Mas não, cada macaco no seu galho. Este departamento é o do combate à obesidade, não o do convite à anorexia. Benditas pandemias, que limpam mais branco que uma avé maria, carago!
terça-feira, maio 08, 2007
Apologia de liliput
Estava a ler este post. E a pensar que há crianças que também deviam estar fechadas, porque incomodam verdadeiramente terceiros que andam muito descansadinhos no seu "espaço contentor", nomeadamente se o seu espaço contentor for um restaurante, por exemplo. Que não troco o meu cruzado de cão de fila brasileiro com rottweiller por nenhum pequinês e muito menos por um cocker. Que a ponho a dormir com um bebé muito mais depressa do que ponho um bebé a dormir com um pincher. Que não duvido muito de que o cachorro de pitt-bull que ontem afaguei no jardim do campo grande, a avaliar pelos donos, vai ser um cão como qualquer outro. Que se me fechassem e me isolassem porque eu tinha começado a rosnar baixinho também eu me tornaria uma fera. E que acho engraçado, vociferar contra a ignorância dos outros através de um texto alimentado a medo e a incompreensão.
Gostar de animais é sem dúvida muito diferente de gostar de ter animais. E foi para estes últimos que se inventaram aqueles cãezinhos robóticos, que se movem apenas a ordens e bateria.
Gostar de animais é sem dúvida muito diferente de gostar de ter animais. E foi para estes últimos que se inventaram aqueles cãezinhos robóticos, que se movem apenas a ordens e bateria.
segunda-feira, maio 07, 2007
Porque está sol, porque me apetece, porque até estou bem-disposta, porque isto é uma pérola, ou melhor, duas, porque sim.
Chico e Harpo, os clandestinos a caminho de NY.
sábado, maio 05, 2007
Desintoxicação forçada
Eh pá, vocês desculpem lá isto... O meu portatilzinho coitadinho esteve em coma durante esta semana e eu, das minhas andanças de saltimbanco, guardo uma certa alergia a ciber-cafés e sucedâneos. Olhem, aproveitei para a desintoxicação. Mas bom, o bicho acaba de ter alta. O Blue! seguirá depois de eu ter verificado os duzentos mails [ou menos] que se acumularam entretanto. Ou seja, se calhar volto cá daqui a mais uma semana. Depois da desintoxicação, a overdose. Avaliemos, então, o grau de pureza do produto.
Até!
Até!
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