—Descartes: "Fodo, logo existo", isto é, só na actividade sexual intensa sinto a plenitude do meu ser (a resposta "descentradora" de Lacan a isto teria sido: "Fodo onde não existo, e não existo onde fodo", ou seja, não sou eu quem fode, mas "isso fode" em mim);
—Espinosa: Dentro do Absoluto enquanto Foda (coitus sive natura), devemos distinguir, no mesmo sentido da distinção entre natura naturans e natura naturata, entre a penetração activa e o objecto fodido (há aqueles que fodem e os que são fodidos);
—Hume introduz aqui uma dúvida empirista: como sabemos se a foda, enquanto relação, existe? Só existem objectos cujos movimentos parecem coordenados;
—Resposta kantiana a esta crise: "as condições da possibilidade de foder são ao mesmo tempo as condições da possibilidade dos objectos [da] foda";
—Fichte radicaliza esta revolução kantiana: foder é uma actividade incondicional que se postula a si própria e que se divide em fodedor e objecto fodido, ou seja, é o próprio foder que pressupõe o seu objecto, o fodido;
—Hegel: "é crucial conceber o Foder não só como substância (o impulso substancial que nos subjuga), mas também como sujeito (como actividade reflexiva inserida no contexto do significado espiritual)";
—Marx: devemos regressar ao foder real e rejeitar a filosofice masturbatória idealista, ou seja, nos termos literais em que o expressou na Ideologia Alemã, a vida real está para a filosofia, assim como o sexo real está para a masturbação;
—Nietzsche: a Vontade é, na sua expressão mais radical, a Vontade de Foder, que culmina no Eterno Retorno do "quero mais", de uma foda que prossegue indefinidamente;
—Heidegger: do mesmo modo que a essência da tecnologia não é nada "tecnológica", a essência do foder não tem nada a ver com a foda enquanto simples actividade ôntica; ou melhor, "a essência do foder é o foder da própria Essência", isto é, não somos apenas nós, humanos, que fodemos a nossa compreensão da Essência, é a Essência que já está em si mesma fodida (inconsistente, retraída, errante);
—e, finalmente, a intuição de como a própria Essência está fodida, leva-nos à expressão de Lacan "a relação sexual não existe".
Slavoj Žižek, nota 108 ao capítulo "A Teologia Materialista de Krzysztof Kieślowski", in Lacrimae Rerum, trad. Luís Leitão
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Carmo, hoje de setembro de 2009
ou...
"Viver é foder."
João Ubaldo Ribeiro, in A Casa dos Budas Ditosos
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