domingo, setembro 28, 2008

tudo o que bate certo

É estranha, esta coisa das referências. Pois há uma canção tua —ou mais— para cada momento da minha vida, presente passada e futura. E sei que algumas ainda estão nessa antecâmara do futuro, à espera que se lhes abra o tabuleiro de jogo. É estranha, esta coisa da familiaridade, ter-te em argamassa da minha própria construção, de tal modo que me saem por vezes as tuas palavras como se minhas fossem, e agora fazer-te rir com um simples "tu viste-me crescer, não deste foi por isso". É relativa, esta coisa do tempo, pois que por isso mesmo não consigo localizar o encontro. Trabalhámos juntos em 2005, essa primeira vez de farejamento e reconhecimento de um território que muito cedo se intuíu comum, dançámos na cave da Rua da Alegria e o mundo também gingou e a ligação ficou feita. E logo a seguir, uns meses depois, partilhávamos palavras com as quais me cresci, dividíamos malhas e microfones, subíamos o Guadiana em busca de um porto de abrigo. Mas é daí que nos conhecemos? Porque esses olhares, essas poucas palavras e momentos partilhados ainda no meu anonimato, continuam espelhados aqui e agora, pois que pouco me parecem três anos para uma tão natural ternura, para tão simples entendimento. Pouco parecem três anos para que, entre galhofa e confissões, me digas "eh pá, desculpa lá ter composto essa canção...". Para que seja tão nossa a brincadeira dos sons e dos sentidos, tão nosso o poder dos silêncios. Há coisas doces, nesta vida. E uma das boas é constatar que um ídolo não tem pés de barro, mas de gente; conhecer um ícone muito nosso e poder continuar a amá-lo. Até te agradecia, mas não se agradece a alguém por ser fiel a si próprio. E como não acredito em nada daquilo em que acredito, a quem agradeço eu termos cruzado as nossas estradas? Talvez melhor que a ninguém, porque tudo o que há nelas de acaso há também de vontade. “A harbour shall be that is to found and-oh! Ever again-conquered”.

2 comentários:

MPR disse...

Daquelas privates que, por um mero acaso, percebo o que dizes...

Manel disse...

:) E é tão bom... etc etc. Não é? ;)