É estar em transe com o fadista sentado numa penumbra azul, seguir o caminho da sua frase e suspender com ele a respiração no zénite, deixar o silêncio cair naquela vertigem da cadência que se anuncia, já estar esquecida de mim e de tudo e de repente afinal a tenda está cheia de gente que quer mostrar-se do fado, que quer ruidosamente manifestar-se, e chovem as palmas e os trinados de "ah, fadista!", e o fadista sobe um pouco os olhos para o trio, retém o ar para manter a frágil bolha em seu redor, em nosso redor, os que, desesperados, sussurram um clamor por silêncio, e aguenta, sustém, mais um pouco, eles vão perceber, eles não percebem, nem perceberam que aplaudiam um fado interrompido, a bolha foi-se, puf, o fadista ergue-se, sorri em desalento para nós desalentados e o trio ataca o fado seguinte. Bem andadinho, para fugir ao desgosto.
Este está a ser o ano de Camané. E foi um concerto para não mais esquecer, mesmo tendo visto fugir, impotente, um daqueles momentos raros em que o coração se dá ao luxo de parar um pouco para melhor sentir o respirar de um Artista.
domingo, setembro 07, 2008
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